Pedro E. Almeida da Silva
Olhem para cima, mas não esqueçam de olhar para baixo
Por Pedro E. Almeida da Silva
Professor Titular da Furg, Bolsista de Produtividade do CNPq
A adoção de uma infraestrutura elétrica e de cabeamento subterrâneo não apenas embeleza a paisagem urbana, mas também é uma solução pragmática para manter as redes de comunicação e transmissão de energia, enquanto promove a segurança viária. Recentemente, o prefeito de Porto Alegre reiterou seu apoio a essa solução como forma de mitigar os riscos associados a eventos climáticos e reduzir a dependência da inoperância das companhias de energia elétrica. No entanto, esse discurso não é original; gestores municipais em várias cidades têm destacado essa urgência ao longo dos anos.
A despeito do apelo evidente dessa proposta, sua viabilidade enfrenta uma série de desafios que vão além da boa vontade dos administradores. Trata-se de um empreendimento de alto custo, que requer uma coordenação complexa entre diferentes entidades governamentais, concessionárias de serviços públicos, agências reguladoras e empresas privadas de diversos setores. Esses interesses frequentemente divergem, operando com lógicas e cronogramas distintos. Para ilustrar a magnitude desse desafio, mesmo a cidade de São Paulo, com todo o seu poder econômico, conseguiu implementar apenas 0,3% de uma rede prevista de 20 mil quilômetros até o final do ano passado, apesar do programa ter sido iniciado ainda durante a gestão de João Dória, em 2018.
Diante das restrições financeiras enfrentadas pela maioria das cidades, uma abordagem exequível é estabelecer um sistema regulatório que oriente a instalação de fios, cabos e outros elementos de forma ordenada e civilizada. A presença caótica de cabos de internet e telefonia pendurados pela cidade e fios energizados espalhados pelo chão, aliada à frequente interrupção no fornecimento de energia, transforma muitas vezes nossas cidades em cenários caóticos. Em Pelotas, a iniciativa da prefeita em responsabilizar as empresas pelos fios caídos nos postes municipais é bem-vinda, por mais tardia que seja, e sua preocupação com a segurança viária é louvável. Espera-se que essa preocupação se estenda para outras áreas, como a manutenção das calçadas e a minimização dos problemas nas ruas, com seus numerosos e enormes buracos.
Portanto, para se locomover com segurança em nossa cidade, é essencial olhar para cima, pois os fios, energizados ou não, muitas vezes estão soltos sobre nossas cabeças. Mas também é fundamental olhar atentamente para baixo, pois há diversos buracos espalhados pelas calçadas e ruas. Embora seja desafiador manter um movimento constante entre olhar para cima e para baixo, essa é a maneira mais segura de navegar por nossa Manhattan dos Pampas, mas cada vez mais parecida Gotham City. Por sorte não temos um Coringa. Ainda.
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