Artigo
Ouvi lá no Café Aquários
Por Nery Fabres - Professor - [email protected]
Um murmurinho alcançava a rua Sete de Setembro, chegava de mansinho na esquina da 15 de Novembro, entrava por vozes de homens que necessitavam trocar ideias, caíam pelo balcão movimentado do Café Aquários.... Falas mansas, aceleradas, raivosas, empolgadas por um ânimus in loco. Coisa estranha de se narrar, mas fácil de se interpretar.
Essas condutas de se comunicar entre todos, ou em pares, trios, grupos, faziam parte e ainda fazem de um ambiente que luta para ainda prevalecer a voz do povo. O Café Aquários não é um estabelecimento comercial qualquer, é um patrimônio público, é parte da história pelotense.
Ali foi palco de quase todos os grandes negócios, das conquistas empresariais, das decisões políticas que, antes mesmo de chegarem ao Parlamento pelotense, se decidia ali, ao som de fichas caindo no balcão e gritos de “puro”, “com água” e outras manifestações peculiares do local.
Mesas lotadas, figuras públicas debruçadas com xícaras brancas às mãos, semblantes descontraídos, sérios, pensativos, preocupados, indecisos, convictos… Mas todos atentos a cada palavra de todos os oradores.
Não havia e ainda não há discurso naquele nobre estabelecimento que não seja digno de atenção. Não há como buscar na memória, já falha pela idade, todos os momentos que lá participei de conversas entre politiqueiros, políticos e afins. Conversas politiquestas predominam, porém ali cabe tudo, até mesmo conversa mole, bravatas, piadas, conversa para boi dormir, etc.
Quer encontrar o cirurgião que deu uma fugida do plantão? Basta passar no Café Aquário que irá vê-lo conversando com o jornalista que busca notícias. Se a ideia é saber de melhor aplicação para seu dinheiro, lá encontrará corretores de bom faro para investimentos.
Ali no Café Aquários a sociedade se faz representar por delegados, promotores públicos, defensores públicos, juízes, advogados… Prefeitos de cidades próximas, vereadores, deputados das duas esferas… Todos trocando farpas ou ouvindo descontraidamente a opinião de todos. Ali, com o café na xícara, se bebe sem crachá, sem patente, sem hierarquia social abusiva.
Essas coisas que se vê no Café Aquários não são coisas lidas nos livros de história. Não se encontra em museus, não se compra no mercado, não se vê em quase lugar algum. Porque os assuntos são locais, são pontuais, são hereditários, são coisas de nossa terra, mas que recebem reforços culturais do exterior. Vem gente de Londres, de Nova Iorque, de Paris, de Veneza, de Lisboa, de Buenos Aires, de Montevideo, de Cusco, vem gente, bem gente… Gente que se comunica no mundo todo.
Gente que fala, se expressa, divide conhecimento, soma qualidades, agrega expertise. Gente boa mesmo. Os pelotenses são criaturas privilegiadas, estão dentro de um forno cultural. Viva o Café Aquários!
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