Gustavo Jaccottet
Pelotas e a sua amnésia ao patrimônio
Gustavo Jaccottet
Advogado
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No domingo passado (22) decidi mudar o meu trajeto do treino (e o que meditei durante a corrida também fez-me trocar o tema do texto). Fiz um trajeto avesso ao novo normal; falo do usual. Para um domingo pela manhã o movimento estava bem diferenciado. Claro, o Festival de Música estava a ocorrer (que lapso de memória). Ele é um dos responsáveis por trazer prosperidade à cidade em pleno mês de janeiro, especialmente para a indústria ligada ao turismo. Não é comum ver a cidade em catálogos de agências de viagem, porém ela se transforma quando é sede de algo majestoso, expondo as suas potencialidades. Todavia, o descuido com o Centro Histórico é um ponto que não soa interessante a quem viaja léguas até aqui.
Um ponto, em especial, deixou-me inquieto. Numa volta em torno da praça vi pessoas fotografando o Grande Hotel. O quê? Senti-me envergonhado a ponto de urrar a elas que ele seria muito mais belo se não estivesse naquele estado, às ruínas.
Sinto um misto de embaraço com revolta. Ter em minha casa milhares de pessoas vindas de fora e o cartão postal que apresento não condiz com a realidade que é vista in loco gera descrédito. Faz quatro anos que cobrei do então reitor da UFPel, Pedro Hallal, sobre os rumos da obra de restauro e os tapumes ainda estão lá, nada se fala sobre e "é vida que segue". Sua resposta foi como chover no molhado, que veio em artigo publicado no dia seguinte ao meu. Hoje, 25 de janeiro, passados 4 anos, tempo de uma Copa do Mundo ou de um ciclo olímpico, ele lá está, caindo, tornando-se uma tapera.
Ninguém deu-se por conta de que estamos virando as costas para o que nos é mais caro? A docilidade que nos é exigida não é a mesma que nos é deferida. Como ser doce com Pelotas? O que pensam os egrégios vereadores? Alguém que exerça a vereança preocupa-se com aquilo que nos engrandece ou preferem debater temas que levam do nada ao lugar nenhum? Causa estranheza como os legisladores pelotenses são despreparados e fazem praticamente de tudo, menos verear (se é que conhecem este verbo).
Quantos músicos do Festival do Sesc poderiam estar hospedados no Grande Hotel se ele fosse gerido pela iniciativa privada ou se ele tivesse sido cedido, mesmo que gratuitamente, a uma rede de hotéis local ou de fora da cidade com o compromisso de fazê-lo novamente grande.
Entendo que debater a equação entre o salário dos legisladores locais com os de Brasília é um tema interessante aos que ocupam a Câmara, porém poderia haver um espaço que focasse no impacto do que o esquecimento com o Centro Histórico gera na percepção daquela pessoa que viaja léguas até Pelotas e, ao relembrar de sua primeira visita à cidade, dá-se logo com a foto de um Grande Hotel ataperado, tirada na praça Coronel Pedro Osório em 22 de janeiro, por volta das 11h.
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