Editorial

Pobreza e preconceito

Ninguém, em lugar algum, vive na miséria porque quer ou gosta. Embora haja quem busque justificar seus próprios preconceitos e visões de mundo distorcidas afirmando que a pobreza é uma escolha, o resultado da falta de esforço, a realidade é que toda pessoa, se pudesse escolher, viveria bem. Mesmo que abrindo mão de luxos e regalias, mas com condições de comer bem, viver em um lar decente, ter acesso a emprego, educação e saúde.

Tal introdução vai ao encontro de uma notícia triste divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Segundo o monitoramento feito pelo IBGE, em 2021 o Brasil atingiu o maior patamar de pobreza e extrema pobreza da série histórica, iniciada em 2012. Os dados apontam que 62,5 milhões de brasileiros eram considerados pobres no País em 2021 (o equivalente a 29,4% da população), sendo que, dentro desse universo, 17,9 milhões (8,4% do total) viviam em condições de extrema pobreza. Ou seja, três em cada dez dos 212,6 milhões de cidadãos sobrevivem com menos de 5,50 dólares por dia (cerca de R$ 28). Para os da faixa ainda mais miserável, a linha de corte é de 1,90 dólar, isto é, menos de R$ 10 por dia, o que é insuficiente para comprar três quilos de arroz.

Estes percentuais colocam o Brasil não apenas diante de um desafio econômico gigantesco, cuja expectativa recai sobre o novo governo que assume em janeiro. Obviamente, cabe aos novos representantes do povo - do presidente aos deputados - trabalhar incessantemente para reverter este quadro, deixando de lado rusgas e ressentimentos políticos. No entanto, é preciso lembrar também da responsabilidade de cada brasileiro que, em meio a tal cenário dramático, tem o privilégio de ter uma empresa, um emprego, casa, comida. Se individualmente cada um não pode resolver o problema, o exercício da cidadania, da empatia e da solidariedade fazem a diferença.

Ações como reconhecer a condição de quem vive em piores condições e, além de buscar auxiliar, combater o preconceito e desumanização são obrigação de cada um e de todos. Atitudes como, por exemplo, repudiar a chamada “arquitetura hostil” são o mínimo, um bom começo. Como mostra reportagem especial e entrevista exclusiva concedida ao DP pelo padre Júlio Lancellotti, avanços como a aprovação de uma lei vedando esse tipo de postura pelo Poder Público ou iniciativa privada são ainda muito necessários. A miséria é cada vez mais latente no País e a pobreza de espírito segue tão acentuada quanto. Enfrentar estes problemas é algo para ontem.​

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