Para quem viu o que a Cosulati quase foi, acompanhar o que se tornou causa uma dor dilacerante. A cooperativa, que em seu auge gerou milhares e milhares de empregos na Zona Sul, direta e indiretamente, movimentando cadeias produtivas na carne, no leite e nas rações, já há uns bons anos aparece nas páginas de jornal e nas conversas do dia a dia apenas envolvida em polêmicas. Nos últimos meses, a pauta vem sendo constante, mostrando os leilões de imóveis para arrecadar valores para tentar tapar um pouquinho do buraco que ficou.

Apesar das cifras saltarem aos olhos com valores milionários a cada pregão, na prática, não faz nem cócegas nos estimados R$ 500 milhões de dívidas da cooperativa que outrora era uma das galinhas de ovos de ouro da região. Ontem houve outro leilão e até o fechamento desta edição não havia detalhes se o prédio no distrito do Alto Alegre, em Pedro Osório, avaliado em R$ 1,6 milhão, havia sido arrematado. O lance mínimo era de apenas R$ 1 milhão. Bem abaixo do valor de mercado. Na semana passada, foram R$ 2 milhões em nove lotes de imóveis. Números irrisórios para o tamanho do rombo e tristes para quem via toda essa estrutura movimentar as finanças da Zona Sul.

Nenhum dos prédios que empregavam diretamente mais de 800 trabalhadores em fábricas em Capão do Leão, Morro Redondo e Canguçu está operando. Fora eles, havia toda uma outra cadeia, incluindo pelo menos 15 mil famílias das áreas rurais, fornecendo matéria-prima leiteira para os saborosos produtos derivados que chegavam nas mesas, além de frangos para o aviário e grãos à fábrica de ração. Uma ferida aberta em termos de investimentos feitos e que nunca deram retorno, de postos de trabalhos fechados sem nunca serem compensados e de uma cultura regional em torno de uma cooperativa que nunca foi o que poderia ser.

Além disso, pouco foi visto em termos de responsabilização de quem deixou a empresa nessa situação. No fim, o que se vê é o sumiço, pedacinho por pedacinho, de um potencial que a Zona Sul nunca atingiu e ficará só na lembrança de quem viveu essa época e, principalmente, de quem muito perdeu após ter confiado em um projeto que, infelizmente, foi gerido da pior maneira possível.