Editorial

Problema social grave

Nos últimos seis meses, foram registradas no Rio Grande do Sul 27 ameaças de ataques a escolas. Destes episódios que chegaram ao conhecimento das autoridades, 19 foram em cidades do interior, quatro na capital Porto Alegre e outros quatro em municípios vizinhos, da Região Metropolitana. O número, resultado de um monitoramento realizado em conjunto em força-tarefa organizada pela Brigada Militar e Polícia Civil, já é suficientemente preocupante por si só, mas torna-se ainda mais alarmante a partir de dois detalhes diagnosticados: 90% dos casos de atemorização das comunidades escolares partiram de adolescentes, sendo ainda a maior quantidade de ocorrências surgidas a partir da barbárie da semana passada, quando quatro crianças foram mortas em uma creche de Blumenau, em Santa Catarina.

Por sorte, conforme a Polícia Civil gaúcha, nenhuma destas ameaças passou disso, não havendo qualquer tipo de ação concreta que colocasse em prática os supostos planos de ataques. Ainda assim, todas as pessoas suspeitas ou identificadas como responsáveis por esse tipo de terrorismo estão sendo ouvidas e tendem a ser indiciadas pelo crime de ameaça. No que agem muito bem as forças de segurança, visto que é fundamental diante de um momento delicado como esse o máximo de atenção e, sobretudo, a rigidez da lei para lidar com tais casos o mais cedo possível, a fim de evitar o pior.

Contudo, frente a um cenário em que muitas das apurações sinalizam para ameaças com objetivo principal de causar pânico, e não planos de agir violentamente de fato, emerge uma questão: o que leva pessoas - adolescentes, principalmente - a disseminarem o terror entre outros jovens (colegas ou não de escola), pais e educadores pelo simples prazer de provocar medo? Afinal de contas, por mais que estudantes e seu entorno venham a considerar como brincadeiras de mau gosto tais recados em banheiros, posts e vídeos em redes sociais ou outras formas de ameaça, fica sempre uma ponta de dúvida. Ainda mais ao ver que as ocorrências de violência de fora para dentro das escolas tem aumentado nos últimos anos. Que pai e/ou mãe irá simplesmente desconsiderar um sinal de que o filho corre risco se comparecer à escola em determinado dia e horário? A maioria, certamente, irá preferir a cautela de perder a aula a se arrepender depois, caso não seja um alarme falso.

Há, neste sentido, um grande desafio a ser enfrentado por toda a comunidade. A imprensa, com seu papel social, tem igualmente recebido diariamente indícios de supostos ataques. No DP, por exemplo, isso tem sido comum e alvo de checagens quase diárias que, felizmente, resultam apenas em boatos inverídicos, portanto não publicáveis. Mas há, sobretudo, uma missão geral que vai de familiares ao ambiente escolar de, além de atentar para a segurança, estar de olhos abertos aos comportamentos dos jovens e discutir o problema para que haja a consciência de que provocar pânico ultrapassa o limite da "diversão", aproxima-se de uma falha grave de caráter e, especificamente, causa muito sofrimento e pode configurar até crime.

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