Icaro Schultze

Regulamentação das apostas e o case secular inglês

Icaro Schultze
Professor e ativista esportivo
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Salut tout le monde! No longínquo ano de 1750, inaugurava na Inglaterra o Jockey Club. Jogos de azar eram populares entre a nobreza e as classes mais baixas. Os ingleses, amantes dos jogos e que viriam a criar e regulamentar diversos esportes, entre eles o futebol, cultuavam as apostas e a tradição era, e ainda é, transmitida ao longo das gerações, se tornando parte integrante da sociedade inglesa. Apostar em eventos esportivos sempre foi uma forma de entretenimento popular e uma maneira da população se envolver ainda mais com os esportes, os jogos e as competições. Com a inauguração do Jockey, surge também um sistema complexo de regulação de apostas. Estamos falando de 1750, mais de 250 anos atrás. Durante o século 19, a legislação sobre apostas foi promulgada na Inglaterra, com o intuito de regulamentar e controlar a indústria. A criação da Tote Board em 1928, uma organização governamental que oferecia apostas em corridas de cavalos, foi outro marco importante na evolução da regulamentação das apostas no país.

A Inglaterra construiu, ao longo de séculos, uma interessante e complexa abordagem para controlar as apostas e reduzir os riscos dos esquemas de manipulação. As apostas, no país, são regulamentadas pela Comissão de Apostas do Reino Unido, responsável por emitir licenças para operadores de apostas e impor requisitos necessários para garantir a integridade. O trabalho é conjunto com operadores de apostas e agências de aplicação da lei para monitorar e detectar atividades suspeitas de manipulação de apostas, envolvendo o monitoramento de padrões incomuns, análise de dados e compartilhamento de informações relevantes. A Inglaterra colabora com as principais organizações esportivas para proteger a integridade das competições. As ligas e as autoridades esportivas têm regulamentos e procedimentos em vigor para evitar a manipulação de jogos, incluindo a obrigação de relatar qualquer atividade suspeita. A legislação prevê sanções e penalidades para operadores de apostas que não cumprem as regulamentações estabelecidas, podendo acarretar na perda da licença de apostas, multas e medidas legais. Os ingleses também investem na educação e conscientização sobre os riscos associados às apostas, incluindo a manipulação de resultados. As autoridades trabalham para fornecer informações e recursos para os jogadores, promovendo uma cultura de jogo responsável.

São muitos os motivos que fazem com que o mercado das apostas seja um fenômeno secular: entretenimento, monetização, competição, desafio, adrenalina, emoção, conhecimento e expertise, socialização e vício. Mas o que faz com que alguém se venda? A primeira resposta, e óbvia, é a necessidade financeira, mas também pode ser por pressão social ou coerção, pela busca por emoções fortes ou por uma completa ignorância dos riscos. A popularidade das apostas cresceu com a selvagem inserção dos sites de apostas no mercado, com uma ampla e estimulante gama de opções de apostas em eventos esportivos diversificados por todo o mundo. Não estávamos preparados para este fenômeno no mercado brasileiro, falta regulamentação e estamos vulneráveis aos esquemas de manipulação. A máfia das apostas já está infiltrada e enraizada nos nossos campeonatos, causando um dano sem precedentes ao nosso esporte e não temos a noção real da profundidade do problema nem tampouco uma análise imparcial dos formadores de opinião da área, pois, em sua maioria, são financiados pelas "BigBets", que patrocinam também os nossos clubes, competições, atletas e profissionais. O mercado das apostas sustenta o esporte nacional sem termos nenhum tipo de respaldo jurídico e protecionista no setor. A regulamentação é fundamental e urgente, sob o risco de descredibilizar o esporte, bem com a punição severa aos envolvidos nos esquemas de manipulação. Protejam nosso esporte! Au revoir!

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