Editorial
Risco diário subnotificado
Naturalmente propícia para o uso de bicicletas como veículo de transporte ou para o lazer, Pelotas tem visto na última década o investimento em urbanismo contemplar de forma relativamente acelerada o planejamento e a construção de ciclovias e ciclofaixas. A intenção é óbvia e acertada: tornar a cidade mais segura para quem pedala e, por consequência estimular ainda mais pessoas a trocar os carros por uma alternativa que, além de desafogar o trânsito, não polui e colabora com uma vida mais saudável.
Porém, um avanço como esse exige da cidade mais do que somente construir faixas e lançar campanhas de incentivo ao pedal. Como em qualquer setor, o monitoramento permanente e a correção de rumos, se necessária, é essencial. No caso de Pelotas, reportagem de Cíntia Piegas nesta edição chama atenção para os dados oficiais do Município sobre acidentes envolvendo ciclistas. Segundo levantamento do Observatório de Segurança de Pelotas, nos últimos seis anos a cidade teria apenas 13 ocorrências com lesões de quem pedala. Nenhuma delas resultando em morte. Por outro lado, o Detran indica, nestes mesmos seis anos, 16 vítimas fatais em acidentes envolvendo ciclistas.
A evidente discrepância, mais do que um contraste entre números ou uma possível diferença entre métodos de tabulação, aponta para algo que precisa ser revisto. Afinal de contas, da mesma forma como trabalha bem com apuração e análise de dados atualizados para estabelecer ações em outros setores da administração pública, como a segurança, o Município deveria atentar também a tais dados relacionados ao trânsito. Ainda mais quando envolvem ciclistas, um dos pontos mais sensíveis dentro do fluxo de caminhões, carros, motos, bicicletas e pedestres que dividem espaço nas estradas, ruas e avenidas. Sem ter informações precisas de quantas ocorrências, circunstâncias, locais e gravidade dos casos, a lógica aponta para uma dificuldade muito maior de planejar medidas que qualifiquem ainda mais os espaços para quem pedala e, sobretudo, promovam maior segurança e conscientização dos riscos.
A Semana do Ciclista que ora se desenvolve na cidade é uma oportunidade para isso. As muitas atividades promovidas pelo Poder Público são parte relevante do trabalho voltado a tornar Pelotas ainda mais convidativa para quem pedala. Contudo, sempre há como evoluir. E a atenção aos dados e as leituras necessárias daquilo que representam podem fazer muita diferença em um planejamento capaz de evitar acidentes e mortes.
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