Editorial

Sinais de civilidade

Tão raras têm sido as manifestações legítimas de cordialidade e capacidade de diálogo entre agentes políticos de campos distintos que, a cada vez que uma dessas ocorre, chama atenção e merece destaque. Especialmente no caso da que se deu na última sexta-feira, em Porto Alegre, quando o governador Eduardo Leite (PSDB) recebeu no Palácio Piratini o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para uma reunião política e um almoço.

Entre os pontos destacados do encontro estão alguns registros em imagens que, embora aparente simples, são carregados de simbolismo. Sobretudo as fotos em que o governador posa acompanhado do namorado, o pediatra Thalis Bolzan, ao lado de Lula e a primeira-dama Janja Silva. Fotografia que, a exemplo de outros fatos que bem lembrou nos últimos dias o governador em vídeo publicado em suas redes sociais, contraria a ideia de que o Rio Grande do Sul é um Estado retrógrado, apegado a preconceitos. Apesar de inevitáveis comentários desqualificados ou até criminosos, a repercussão da imagem foi majoritariamente positiva, como não poderia deixar de ser.

Outro fato positivo é que, além de Leite e Lula, lá estiveram ex-governadores. Personagens de tamanha relevância para o Estado e que, conscientes de seus papeis, sabem reconhecer a importância da institucionalidade, de gestos políticos como a recepção e o diálogo cordial com a Presidência da República quando esta se mostra igualmente disposta a conversar. Uma pena lá não estarem todos os ex-chefes do Executivo do RS que poderiam estar.

Contudo, talvez a maior demonstração de civilidade esteja no fato de que Leite e Lula estiveram em lados opostos da disputa política nacional em tempos recentes - com o gaúcho apoiando Bolsonaro em 2018 - e tendem a estar novamente em 2026. Afinal, não é segredo a ambição do tucano de chegar ao Planalto, enquanto o petista, mesmo que eventualmente não concorra, trabalhará para fazer seu sucessor. Mesmo assim, como manda a boa política, ambos desconsideraram isso para tratar de interesses dos gaúchos (igualmente brasileiros). Mais do que gerar encaminhamentos, entregas e projetos, o encontro de indica que é possível pensar diferente, apresentar pontos de vista contrastantes e, ainda assim, respeitar a população ao cumprir a obrigação de colocar o cargo e a representatividade acima de tudo. Civilidade na prática.

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