Eduardo Ritter
Sobre presidentes, biografias e patriotismo
[email protected]
No Natal do ano passado, dei de presente para o meu pai a biografia do ex e futuro presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, escrita por um dos melhores repórteres e escritores brasileiros de todos os tempos: Fernando Morais. Li a obra no verão e, com a definição das eleições de 2022, já estou no aguardo da produção e publicação do segundo volume da biografia de Lula.
No primeiro volume, Morais dedica as primeiras 160 páginas para contar sobre a prisão de Lula em toda a sua complexidade. Só esse episódio já renderia um livro de mil páginas, então, em determinados trechos ele contextualiza a Vaza Jato de forma mais ampla e, em outros, narra os momentos específicos que antecederam a prisão e o cotidiano de Lula na cadeia em Curitiba até ele conquistar a liberdade. Nas páginas seguintes, há uma longa narrativa, com destaque para atuação de Lula no sindicalismo até a criação do PT, mas que inclui a infância e adolescência do personagem e todo o drama familiar que engloba agressões pesadas de seu pai, trabalho infantil, fome, pobreza e tudo o mais. A história toda vai até a eleição de Lula como deputado, antes da campanha presidencial de 1989. Morais conta no posfácio que o volume dois vai tratar das três derrotas (uma para Collor e duas para FHC) e das duas vitórias (2002 e 2006) nas campanhas presidenciais. Caso isso se confirme, Morais vai ter que viver mais uns 50 anos para escrever um terceiro volume englobando a terceira eleição de Lula, em 2022.
Por outro lado, gostaria muito que algum jornalista sério, de preferência um bom repórter investigativo, escrevesse uma biografia do futuro ex-presidente Jair Bolsonaro. Assim como Lula, ele também tem uma vida movimentada e cheia de reviravoltas. O problema seria encontrar algum jornalista sério que conseguisse ter acesso a todo o material, a todas as conversas, reuniões, documentos e depoimentos de amigos e inimigos para construir tal narrativa. Aliás, a principal função de uma biografia é contar a vida do biografado, e não fazer propaganda política. Ou seja, dificilmente Bolsonaro autorizaria um jornalista sério a fazer uma biografia que mostrasse a verdade sobre a sua vida.
O que é uma pena, pois esse tipo de texto também serve para desmistificar (falsos mitos não gostam muito de serem desmistificados...). Morais, por exemplo, dá um soco no estômago nos slogans preconceituosos que foram colados na testa de Lula. Primeiro: a fama de analfabeto. Lula estudou até o quinto ano e parou para trabalhar. Na fábrica em que operava, fez curso de torneiro mecânico, profissão que exerceu nos anos seguintes. Ou seja, ele não era analfabeto no sentido que as pessoas queriam que ele fosse: o de não saber ler, nem escrever. E, segundo, Lula trabalhou dos oito aos 38 anos, ou seja, não foi um cara escorado no sindicalismo e que depois passou a “viver de política”. Em outras palavras, aquelas frases toscas como “Lula é analfabeto” ou “Lula nunca trabalhou” são lorotas para boi dormir. Outro ponto importante é o drama da perda do dedo, que foi um acidente de trabalho que ocorreu justamente pelo cansaço de seu colega. Lembre-se disso quando ouvir algum analfabeto funcional falando algo como: “O vagabundo analfabeto de nove dedos”.
Encerro indicando mais uma vez a leitura do livro de Morais, especialmente em época de Feira do Livro, afinal, ele em breve voltará a ser nosso presidente e, patriotas de verdade não abandonam a pátria cada vez que o seu candidato de estimação perde uma eleição. Patriota de verdade baixa a cabeça e trabalha pelo país. Quem não sabe como fazer pode começar aprendendo, lendo a história de Luiz Inácio Lula da Silva, um patriota de verdade.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário