João Carlos M. Madail
Taxa de juro em queda anima a produção e consumo
João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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O juro é uma taxa que você paga para usar um dinheiro que, originalmente, não é seu. Ou seja, é o preço do aluguel do dinheiro ao longo do tempo. O Comitê de Política Monetária (Copom) é o órgão do Banco Central, formado pelo seu presidente e diretores, responsável por definir, a cada 45 dias, a taxa básica de juros da economia, a Selic.
A taxa, criada em 1979 pelo Banco Central do Brasil e pela Associação Nacional das instituições do Mercado Aberto, é o principal instrumento de controle da inflação, ou o índice utilizado para calcular os rendimentos de operações do governo federal, como o Tesouro Direto; os empréstimos e financiamentos de bancos e instituições financeiras; e ainda funciona como parâmetro para medir o custo de oportunidade de um investimento. A taxa, que se manteve em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas, na última reunião do Copom foi reduzida em 0,50%. A principal razão que levou o BC a reduzir a taxa foi a queda da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que em junho ficou negativa em 0,08% e acumula 3,16% em 12 meses em função da queda de preços dos alimentos e dos combustíveis.
A última vez em que o BC reduziu a Selic foi em agosto de 2020, quando a taxa caiu de 2,25% para 2% ao ano. Depois disso, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis ocorrido em agosto do ano passado. Para 2023, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixou meta de inflação de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. O IPCA, portanto, não poderá superar os 4,75%, nem ficar abaixo de 1,75% neste ano.
A princípio, deu a entender que a baixa do juro ocorreu por pressão do governo que entende que é preciso baratear o crédito e com isso incentivar a produção e o consumo. Por outro lado, taxas mais baixa dificultam o controle da inflação. Há certa discordância entre o Banco Central e a realidade do mercado. O BC projetava crescimento de 2% para a economia em 2023, já o mercado projeta crescimento maior, principalmente após a divulgação de que o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzida) cresceu 1,9% no primeiro trimestre. Segundo a última edição do boletim Focus, os analistas econômicos prevêem expansão de 2,24% do PIB em 2023.
O cenário político atual do País não assegura a confiança necessária para que o BC anuncie um ciclo gradual de quedas da taxa de juros. Reformas importantes para a economia estão em discussão, mas com prazos indefinidos para serem colocadas em prática. Até lá, é prudente que se avalie os acontecimentos com cautela para não revivermos momentos inflacionários que impactam diretamente o grande contingente de assalariados.
O momento econômico tem ares de otimismo, seja pelos atuais mandatários do País ou mesmo pelos técnicos do BC que projetam novas quedas da Selic para as próximas reuniões, que deverá chegar a 11,75% em dezembro de 2023. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a economia brasileira deverá crescer 0,9% em 2023. A estimativa é menor do que a projeção feita em janeiro, que anunciava crescimento de 1,2%. Mesmo para 2024, o FMI não alterou a sua projeção para o crescimento da economia brasileira estimada em 1,5%. A perspectiva do FMI para o PIB do Brasil em 2023, porém, fica abaixo do projeto do Banco Central, que acredita na retomada da produção e consumo interno, a partir das reduções da taxa de juros, onde o barateamento do dinheiro a disposição das empresas e dos consumidores é o grande atrativo.
Porém, a grande expectativa para os próximos meses é a de que os preços no País se mantenham sob controle e que não corram risco de subir de forma inesperada, como subas dos combustíveis, que afetam diretamente a economia como um todo.
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