Eduardo Allgayer Osorio
Um ambientalismo que ignora o bem-estar social
Engenheiro Agrônomo, Professor Titular da UFPel, aposentado
A Margem Equatorial brasileira, que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, ganhou destaque no noticiário nacional pela discórdia estabelecida entre a Petrobras e o Ministério do Meio Ambiente sobre a conveniência de extrair petróleo na região. A Petrobras estima existir na bacia aí localizada um potencial exploratório equivalente ao do Pré-sal, responsável hoje por 78% da produção nacional, podendo a nova região descoberta agregar um bilhão de barris de petróleo/dia, dobrando a produção nacional. Enquanto debatem isso, avaliações feitas pela Petrobras apontam que a exploração no Pré-sal já começa a dar sinais de declínio estimando-se que a partir de 2030 entrará em curva descendente, pondo em risco a autonomia energética nacional. Sobre isso, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates alerta: "Quanto mais as gerações futuras puderem trabalhar com energias limpas, melhor para nós. Mas ainda teremos pela frente 50 anos de petróleo e gás". Pergunta-se: A ser extraído de onde?
Enquanto discutem se devemos ou não explorar a nova e promissora reserva petrolífera a vizinha Guiana se põe a extrair, desde 2019, 400 mil barris de petróleo/dia, projetando alcançar em 2035 estimados 1,7 bilhão de barris/dia.
Para estudar o potencial exploratório da Margem Equatorial, a Petrobras alugou uma sonda, ao custo de US$ 500 mil/dia, aguardando a licença do Ibama para iniciar a perfuração, que continua a ser negada sob a alegação de que um possível vazamento de óleo poderia agredir os arrecifes de corais que a Universidade Federal do Pará, que estuda essas águas há várias décadas, diz nem existir. A Petrobras argumenta que o local escolhido para perfurar dista 500 quilômetros da foz do Amazonas e 170 quilômetros da costa do Pará, distâncias que, mesmo no caso de um improvável vazamento dificilmente o óleo chegaria à costa. Desconsidera o Ibama que a Petrobras já domina a tecnologia de extração de petróleo em águas profundas desde 2007, quando iniciou a exploração do Pré-sal, tendo perfurado ao longo da sua existência mais de três mil poços sem que se tenha notícia de algum acidente com um significativo impacto ambiental.
Necessário se faz considerar que a exploração do petróleo na Costa Equatorial recolherá para um fundo social vultosos recursos financeiros destinados à proteção do meio ambiente, ao desenvolvimento da educação e à proteção da saúde dos moradores das áreas contíguas, numa das regiões mais pobres do País onde vivem milhões de brasileiros padecendo os piores indicadores sociais no que se refere à desnutrição, às doenças infecciosas, à mortalidade infantil, ao saneamento básico e ao analfabetismo. Demonstrando inaceitável insensibilidade social, os "defensores" do ambiente esquecem que o conceito de sustentabilidade repousa em três alicerces básicos: o ambiental, o econômico e o social, apegando-se à visão míope de que afetar um cardume de peixes por um improvável vazamento de óleo possa ser mais relevante do que prover o bem-estar social de milhões de moradores ribeirinhos que padecem em situação de extrema penúria.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário