Apneia obstrutiva do sono

Causador de noites mal dormidas e de impactos na rotina diária

Normalmente associado ao ronco, distúrbio pode ser um sinal de alerta para importantes comorbidades

Fotos Arquivo pessoal - DP - A adaptação ao CPAP deve ser realizada por equipe bem treinada e as pressões devem ser ajustadas de maneira individualizada para cada paciente

Por Joana Bendjouya

Chamada também de apneia noturna, a apneia obstrutiva do sono (SAOS), é um distúrbio que faz com que a respiração durante o sono aconteça de forma superficial, quando ocorre uma parada da respiração por alguns segundos ou minutos. O distúrbio ocorre principalmente enquanto a pessoa está dormindo, sobretudo as que apresentam o ronco, o que acaba comprometendo a qualidade do sono de quem tem o distúrbio, mas também de quem dorme junto ou próximo, que muitas vezes desperta pelo ruído, com a sensação de não ter descansado o suficiente.

Embora seja considerado um transtorno comum, é também potencialmente grave devido à ausência de descanso e má qualidade do sono, o que pode levar a problemas sérios de saúde como aumento de risco cardiovascular, hipertensão, arritmia cardíaca e insuficiência cardíaca, diabetes e problemas de memória e de concentração.

Esta pausa ocorre porque a via aérea se torna repetidamente bloqueada pelo relaxamento dos tecidos da faringe e da base da língua, que assim limita a quantidade de ar que atinge os pulmões. Quando isso acontece, o paciente pode roncar alto ou causar ruídos sufocantes enquanto tenta respirar. Neste momento o cérebro e o corpo são privados de oxigênio. Isso pode acontecer algumas vezes durante a noite ou, em casos mais graves, centenas de vezes. Na tentativa de restabelecer a capacidade da via aérea superior, ocorrem diversos despertares, muitas vezes breves, durando alguns segundos, e essa é uma razão pela qual o indivíduo afetado geralmente não percebe. Mesmo que estes despertares se apresentem curtos, eles fragmentam e interrompem o ciclo do sono e essa quebra causa grande impacto na qualidade do sono, podendo causar níveis significativos de fadiga e sonolência durante o dia.

Segundo a otorrinolaringologista e presidente da Associação Brasileira do Sono (Absono) de Santa Catarina, Amanda Lucas da Costa, isto aumenta os riscos de acidentes automobilísticos e profissionais em decorrência da sonolência excessiva, além de ser a consequência de atendimentos clínicos por outros motivos desencadeados pelos sintomas de apneia que não recebem o devido tratamento. “Apneia obstrutiva do sono em adultos afeta um milhão de pessoas no mundo. Ela é importante fator de risco cardiovascular, para acidentes de trânsito, para alterações cognitivas, alterações comportamentais, psiquiátricas e fadiga. Ela é também uma grande causa silenciosa de atendimentos nos consultórios”, alerta.

Sintomas
Os sinais mais comuns associados à apneia do sono são roncos, sonolência excessiva diurna e pausas respiratórias testemunhadas pelo companheiro ou companheira de cama. Essa suspensão temporária da respiração pode ocasionar em engasgos, sensação de sufocamento, vocalizações ou breves despertares.

Esse conjunto de manifestações costuma gerar a sensação de cansaço pela manhã e sensação de sono não reparador, ainda que tenha tido uma noite de sono longa e aparentemente tranquila. “Todo paciente que ronca tem pausa respiratória, se movimenta e fala durante a noite, tem sensação que não dormiu, acorda várias vezes, costuma urinar mais durante a noite do que durante o dia, acorda com dor de cabeça, que durante o dia é sonolento, se sente irritado, todo esse perfil de paciente merece uma investigação da qualidade do sono, que é realizado através de uma conversa, de um exame físico e de um exame do sono, que deverá ser escolhido para cada paciente”, esclarece Amanda.

Ela alerta ainda que durante o dia pode ocorrer dificuldade para a concentração ou até mesmo episódios de sono incontroláveis. Mas a insônia não deve ser considerada o sintoma único ou mais importante. É essencial estar atento para sua rotina e aderir à prática de higiene do sono para garantir uma noite de descanso e sono reparador, além de dar importância ao surgimento do ronco, que é um sinal de alteração significativa durante o sono.

Como muitas vezes a apneia se apresenta sem sinais aparentes e impacta em diversas doenças, faz com que os pacientes cheguem aos consultórios sem perceber que existe essa pausa na respiração e as reclamações mais comuns acabam sendo outras. ”O principal alerta que a população deve saber sobre apneia obstrutiva do sono é: roncar não é normal, 30% dos adultos roncam e tem pausas respiratórias e isso é grave”, alerta a otorrinolaringologista.

Outros
Alguns sintomas podem incluir ainda boca seca ao despertar e salivação excessiva, acordar com dor de garganta provavelmente devido à respiração oral, levantar muitas vezes para urinar a noite ou ainda escapes urinários na cama, sem perceber. Além de sono agitado e sudorese noturna, pelo aumento do esforço respiratório.

Fatores agravantes
O principal fator de risco é o excesso de peso corporal. Os indivíduos com obesidade são mais propensos a ter apneia do sono. No entanto, o problema também pode ocorrer em pessoas mais magras. Alguns fatores de risco aumentam as chances do paciente desenvolver a apneia, como:
A combinação destes fatores potencializa a tendência para o estreitamento da faringe e para a apneia. Outro fator bastante relevante são os traços hereditários e os que aumentam o risco de apneia do sono incluem a obesidade e características físicas, como alterações de maxilares. Fatores como a prática de atividade física e hábitos alimentares também desempenham um papel significativo na prevenção.

Diagnóstico
Amanda explica que um médico especializado na área de medicina de sono pode realizar o diagnóstico da apneia do sono. Essa investigação deve ser realizada através de uma minuciosa análise clínica e exame físico. “Um especialista em saúde do sono, pode ser um dentista, um fisioterapeuta, poderá ajudar nesse tratamento. Vale muito a pena melhorar a qualidade do sono, ter uma noite tranquila, tanto para o paciente quanto para o parceiro dele”, comenta.

O profissional também irá averiguar se há algo a mais causando problemas no sono ou piorando os sintomas, como outros distúrbios do sono ou médicos, uso de medicamentos, transtorno de saúde mental e abuso de substâncias.

Para a confirmação diagnóstica, é necessária a realização de um exame especifico. O classificado padrão-ouro para a avaliação dos distúrbios respiratórios do sono é o estudo polissonográfico de noite inteira, que pode classificar a apneia em leve, moderada ou grave. A especialista alerta para a importância do diagnóstico precoce, um vez que as crises de apneia podem ser um alerta para doenças preexistes. “Esta situação está diretamente associada a um risco cardiovascular. As pessoas têm mais chance de ter hipertensão, diabetes, doenças nos vasos. Importante saber que existe tratamento para apneia e para ronco. São tratamentos clínicos, cirúrgicos e devem ser realizados o mais breve possível. Exigem atendimento de um médico que saiba tratar sono, um especialista dentro dessa área.”

Nas crises, o paciente pode apresentar dificuldade de respirar devido a obstruções e bloqueios em suas vias aéreas, que podem ser causados por sua posição ao dormir ou por estreitamentos em sua anatomia. Essas dificuldades de respiração características são causadas por mudanças e acontecem no cérebro e, dessa forma, afetam o sistema nervoso central, responsável por controlar a respiração. Assim, pacientes que tiveram AVCs ou tumores cerebrais, por exemplo, podem perder a capacidade de regular corretamente a respiração durante a noite.

Tratamentos
O tratamento deve ocorrer de forma multidisciplinar e irá variar de acordo com a gravidade do caso. O primeiro recurso terapêutico é tentar reduzir os fatores agravantes da SAOS. Desta forma algumas medidas essenciais são combater as causas da obstrução nasal e do refluxo gastroesofágico, a redução de peso e evitar o uso de bebidas alcoólicas, calmantes, relaxantes musculares e cigarro algumas horas antes de dormir.

Se ainda assim essas medidas não forem suficientes, a médica explica que pode ser necessário, ainda, o uso de outros equipamentos para manter a respiração correta, evitando sua obstrução e garantindo saúde e qualidade de sono. “Alguns pacientes vão precisar de um aparelho que vai jogar ar dentro do nariz e da boca, chamado CPAP. Outras pessoas vão poder usar o aparelho dentro da boca, que vai auxiliar a passagem de ar, outras pessoas vão tratar o nariz. Outras pessoas vão realizar cirurgia, alguns vão realizar exercícios para o fortalecimento muscular. Temos uma gama de tratamentos efetivos para esses pacientes que roncam e têm pausas respiratórias durante a noite”, afirma Amanda.

Uma vez estabelecido o diagnóstico, deve ser adotada uma estratégia de tratamento adequada baseada nas comorbidades do paciente e na gravidade do caso.

“As opções de tratamento de apneia obstrutiva no adulto são diversas, mas elas sempre vão começar por adequação do peso, para isso é essencial a atividade física de 30 minutos três vezes por semana, adequação de uma dieta e mudanças de hábitos de vida. Nós precisamos uma rotina regular de sono, horários regulares para dormir, não devemos ter mais do que meia hora ou 40 minutos de ir para cama e acordar. Então, ser previsível no horário de dormir e acordar, isso é o básico.”

Tratamentos de SAOS

Fonoterapia
São exercícios orofaríngeos supervisionados por fonoaudióloga especializada em medicina do sono, que têm como objetivo fortalecer a musculatura da via aérea superior.

CPAP
É o dispositivo mais recomendado para o tratamento de distúrbios respiratórios. A sigla, em inglês, significa Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas. O aparelho consiste em um pequeno compressor de ar muito silencioso de alta tecnologia que gera e direciona um fluxo contínuo de ar através de um tubo flexível para uma máscara nasal ou nasobucal confortavelmente aderida à face do indivíduo. Quando a pressão positiva passa através das narinas, ocorre a dilatação de todo o trajeto das vias aéreas superiores, eliminando a apneia, aumentando a saturação da oxi-hemoglobina e diminuindo os despertares relacionados aos eventos respiratórios.

Tratamento com aparelhos intraorais (AIOs)
Já existem atualmente vários modelos de AIOs utilizados para o controle de SAOS, que são os de avanço mandibular e os dispositivos de retenção lingual. Para os casos de apneia do sono, o mais indicado é o aparelho de avanço mandibular e seu mecanismo de ação se baseia na extensão/distensão das vias aéreas superiores pelo avanço da mandíbula. Essa distensão previne o colapso entre os tecidos da orofaringe e da base da língua, evitando o fechamento da via aérea superior.

Tratamento cirúrgico
As cirurgias direcionadas para SAOS têm por objetivo a modificação dos tecidos moles da faringe formados pelo palato, amígdalas, pilares amigdalianos e base da língua. Ou ainda do esqueleto constituído pela maxila, mandíbula e hioide.
Não existe um procedimento específico que possa resolver todas as necessidades. Muitas vezes, a combinação de cirurgia e mudanças comportamentais passa a ser a melhor forma de tratamento.

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