Rins
Saúde dos rins também é um alerta para outras doenças crônicas
Importante estar atento à qualidade do funcionamento do órgão, já que muitas doenças renais são assintomáticas nos estágios iniciais
Foto: Agência Brasil - Um dos fatores que dificulta o diagnóstico e tratamento precoce, as pessoas descobrem problemas renais em fases muito avançadas
Por Joana Bendjouya
Considerados multifuncionais por desempenharem diferentes papéis para o bom funcionamento do organismo, os rins são conhecidos principalmente por filtrar o sangue e eliminar toxinas como a ureia, o ácido úrico e outras substâncias que, em concentrações elevadas, podem ser nocivas para a saúde.
Uma das funções dos rins pouco conhecida é a produção de hormônios capazes de evitar a anemia, assim como a capacidade de secretar vitamina D e, dessa forma, contribuindo para a saúde óssea. Os rins, quando em perfeito funcionamento, ainda regulam a pressão arterial e mantêm o sal e a água do organismo em equilíbrio. Localizados em ambos os lados da coluna vertebral, eles removem os resíduos e o excesso de água do organismo.
Existem diferentes doenças que podem afetar os rins, desde infecções até tumores. Mas, segundo o diretor médico do Centro de Referência em Nefrologia do Hospital São Francisco de Paula (HUSFP) e professor de Clínica Médica da Escola de Medicina da UCPel, Franklin Corrêa Barcellos, uma que é bastante comum entre os brasileiros é a doença renal crônica (DRC). Neste caso, os rins perdem sua capacidade de desempenhar suas funções com resultado satisfatório, ocasionando outras complicações para o organismo. As doenças renais são causadas principalmente pela falta de hábitos saudáveis e predisposições para doenças crônicas, como no caso da diabetes e pressão alta.
“Diversos fatores podem motivar a DRC, que consiste em lesão renal e perda progressiva e até irreversível da função dos rins, sendo esta a mais grave delas. Pode se apresentar acompanhada de outras comorbidades, como no caso de diagnósticos de diabetes, hipertensão arterial sistêmica, obesidade, doenças cardiovasculares e o tabagismo”, explica.
Um dos fatores que dificulta o diagnóstico e tratamento precoce é que muitas vezes, por falta de reconhecimento dos sintomas e de cuidados com saúde, as pessoas acabam descobrindo problemas renais em fases muito avançadas, algumas vezes com lesões bastante significativas. “Sabemos que as doenças crônicas não transmissíveis, e a sua incidência vêm aumentando e são a maior causa de morte em todo o mundo. A maioria é quase ou completamente assintomática, incluindo DRC, e seu impacto no sistema de saúde está crescendo. Mas menos de 5% dos pacientes em estágios iniciais relatam ter consciência de sua doença”, alerta o nefrologista.
Para que funcionem de forma correta e desempenhem o seu papel de manter o corpo livre de toxinas, os rins precisam de alguns cuidados ou de mudanças de hábitos.
Como o rim é um dos responsáveis pelo controle da pressão arterial, quando ele não funciona adequadamente há alteração nos níveis de pressão. A mudança também sobrecarrega os rins. Portanto, a hipertensão pode ser a causa ou a consequência da disfunção renal e seu controle é fundamental para a prevenção da doença.
Já a diabetes pode danificar os vasos sanguíneos dos rins, interferindo no funcionamento destes órgãos, que não conseguem filtrar o sangue corretamente. Mais de 25% das pessoas com diabetes tipo I e de 5% a 10% dos portadores de diabetes tipo II desenvolvem insuficiência renal.
Outras causas são: nefrite (inflamação dos rins), cistos hereditários, infecções urinárias frequentes que danificam o trato urinário e doenças congênitas.
Funções dos rins
Eles desempenham basicamente quatro funções:
- Limpar todas as impurezas e as toxinas de nosso corpo
- Regular a água e manter o equilíbrio das substâncias minerais do corpo (sódio, potássio e fósforo)
- Liberar hormônios para manter a pressão arterial e regular a produção de células vermelhas no sangue
- Ativar a vitamina D, que mantém a estrutura dos ossos.
Principais causas da insuficiência renal aguda:
- Choque circulatório
- Infecção generalizada
- Desidratação
- Queimaduras extensas
- Excesso de diuréticos
- Obstrução renal
- Insuficiência cardíaca grave
- Glomerulonefrite aguda (inflamação nos glomérulos, que são as unidades filtrantes do rim).
Sintomas
A progressão lenta da doença permite que o organismo se adapte à diminuição da função renal. Por isso, muitas vezes, a doença não manifesta sintomas até que haja um comprometimento grave dos rins, podendo ocorrer inclusive, perda de sua função. Nesses casos, os principais sinais são:
Para a enfermeira Fabiana Ferraz, a descoberta da pedra nos rins há mais ou menos um mês impactou muito na sua rotina. Ela conta que os quadros de dores desde então aumentaram e a partir do primeiro episódio de dor, que na época pareceria ser problema relacionado com a vesícula, hoje em dia está mais intenso e nem sempre a medicação consegue controlar as crises. Quando necessário fazer o uso, relata reações adversas no organismo.
“Tenho tido crises de dores que não tenho posição nem para dormir. Cada vez que se aproxima do horário que teria que tomar outra dose da medicação, a dor volta. Mas se ficar tomando muito seguido, sinto enjoos, prejudica outros tratamentos que faço para enxaqueca. Ou seja, alivia um sintoma, mas piora outros.” Ela conta que tem consciência que seria necessário mudar o estilo de vida, ter alimentação mais saudável e incluir a prática de atividade física, atitudes que poderiam ter evitado o aparecimento da pedra. No entanto, a correria da rotina acaba impedindo e, assim, a saúde acaba ficando prejudicada. “Hoje em dia eu só quero resolver essa situação para tentar fazer alguma atividade física e ter mais qualidade de vida para me dedicar ao trabalho e aos meus filhos sem sofrer diariamente com as crises e dores”, relata.
Entre outros motivos, os cálculos renais, ou pedras nos rins, ocorrem quando, por falta de hidratação e alimentação com excesso de sódio, algumas substâncias bloqueiam as vias urinárias. Além da dor intensa, a doença impede a saída de urina e muitas vezes precisa de intervenção cirúrgica.
A importância do diagnóstico precoce
É importante saber que as doenças renais podem se apresentar assintomáticas por um longo período. Dessa forma, quando manifesta sinais, é bem provável que já se encontre em estágio avançado, o que poderá diagnosticar a doença em fase irreversível.
O primeiro passo é prevenir e, desta forma, estar atento ao desenvolvimento da hipertensão arterial. No caso dos diabéticos, devem haver controle, pois é uma das doenças que mais levam à insuficiência renal. Além destas, pacientes que apresentem histórico familiar de doença ou lesão renal aguda, problemas cardiovasculares e pressão alta também devem dar atenção aos cuidados e prevenção das DRC. “A sua detecção precoce e tratamento pelos médicos é importante devido ser uma doença progressiva e associada com desfechos desfavoráveis, incluindo a falência renal, necessitando de terapia renal substitutiva”, alerta o nefrologista.
Além de pacientes com doenças preexistentes, Barcellos salienta para cuidados com estilo de vida. Controle de peso, exercícios regulares, evitar o uso de medicamentos sem prescrição médica e uma dieta equilibrada devem fazer parte da rotina. “É muito importante conhecer o histórico de doenças da sua família, seguir uma boa dieta com baixa ingestão de sal e de açúcar. Se fizer uso de bebidas alcoólicas, que seja de forma moderada. Não fumar e beber bastante água.”
Tratamento
Não existe cura para a doença renal crônica, embora o tratamento possa retardar ou interromper a progressão e impedir o desenvolvimento de outras condições graves. Nos quadros menos severos, o tratamento se baseia em controlar a doença causadora dos problemas renais, que pode ser tratada com medicamentos, controle da dieta e adoção de um estilo de vida saudável. Nos casos mais extremos pode haver a necessidade da realização de diálise ou transplante renal, como terapêutica definitiva de substituição da função renal.
A diálise não cura o rim, apenas substitui parcialmente a sua função, sendo indicado que o paciente comece o tratamento quando a capacidade de filtração do rim estiver muito reduzida e existam sintomas clínicos. A diálise fará parte da rotina do paciente para sempre ou até que ele seja elegível para um transplante.
Diálise
A diálise é o nome genérico dos procedimentos que realizam a filtragem do sangue. Pode ser realizada em forma de hemodiálise, quando consiste em desviar o sangue para fora do corpo em uma máquina que filtra os resíduos, ou a diálise peritoneal, a qual é colocada uma bolsa acoplada à barriga para que seja realizada a filtragem dos líquidos e toxinas, sem a retirada de sangue. São procedimentos que permitem qualidade de vida ao paciente e podem salvar vidas.
Diálise peritoneal
É um processo que é realizado dentro do próprio abdomen, na cavidade peritoneal. O peritônio é uma membrana que reveste os intestinos e outros órgãos no interior do abdomen e é bastante vascularizada por pequenos vasos sanguíneos. A solução de diálise é infundida na cavidade peritoneal e permanece no local durante um determinado tempo, onde ocorre a filtração das toxinas e a eliminação de líquidos. Ao final deste período, o dialisato é drenado e desprezado e uma nova solução é injetada na cavidade peritoneal.
Hemodiálise
É um procedimento que utiliza uma máquina computadorizada e um rim artificial conhecido como dialisador. Por meio deste equipamento, o sangue é retirado do organismo através de uma via de acesso vascular, circula no interior do dialisador onde ocorrem as trocas de partículas entre o sangue do paciente e a solução de hemodiálise, resultando na eliminação de toxinas e do excesso de líquidos, quando finalmente o sangue retorna para o paciente.
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