Dia da Mulher
Elas estão no comando
Em tempo de lutas pela igualdade de gêneros, instituições que costumeiramente são vistas como masculinas, como a segurança pública, têm mulheres na liderança
Fotos: Divulgação - DP - Sulenir da Rosa e Cíntia Aires desafiam as estatísticas na segurança pública e assumem suas unidades
Se no Brasil houvesse igualdade de gênero e, principalmente, respeito, talvez os exemplos de hoje, no Dia Internacional da Mulher, fossem outros quando o tema é Segurança Pública. No Brasil, apenas 12,8% do efetivo nas polícias militares são mulheres. O Rio Grande do Sul já vem dando bons exemplos e, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), está em terceiro lugar com maior percentual de policiais no quadro de servidores, com 20,9%. Melhor ainda, as duas principais cidades da Zona Sul do Estado têm órgãos de segurança comandados por elas: a tenente-coronel, Sulenir Abreu da Rosa, comandante do 3º Batalhão de Bombeiros Militar, em Rio Grande, e Cíntia Aires, comandante da Guarda Municipal de Pelotas.
A primeira mulher a comandar um Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar (CBMRS) no Rio Grande do Sul está em Rio Grande. A tenente-coronel, Sulenir Abreu da Rosa, passa a ser responsável pelo 3º Batalhão de Bombeiros Militar, que abrange pelotões em Canguçu, Jaguarão, Pelotas, Santa Vitória do Palmar, São José do Norte e São Lourenço do Sul. "Estar como comandante de um batalhão que é uma unidade Operacional, demonstra a confiança que o Comando Geral depositou em mim", diz. A comandante diz se sentir realizada por sua carreira. "Ter entrado como soldado e hoje estar no penúltimo posto da carreira de oficial é motivo de orgulho".
Sulenir Rosa tem como meta trabalhar a integração com as comunidades e autoridades locais na busca de soluções para a prevenção e combate à incêndio, com foco, principalmente nas causas, para atuar preventivamente, com a finalidade de evitar a ocorrência de incêndios e afogamentos. A tenente-coronel pretende ainda ampliar e melhorar as instalações das unidades e os equipamentos do Corpo de Bombeiros local, contando com o apoio do Programa Programa de Incentivo ao Aparelhamento da Segurança Pública (Piseg), além de buscar incentivos através de emendas parlamentares para essa finalidade.
Uma das pretensões é a construção do quartel de bombeiros do trevo, em Rio Grande - unidade que está desativada - e para isso a oficial pretende contar com o apoio do Poder Executivo e Legislativo local. "Estamos avaliando a possibilidade de reformar uma embarcação para adquirirmos uma ambulância para o Corpo de Bombeiros de São José do Norte, a qual irá atender a comunidade local". Há pouco tempo à frente do Batalhão, a tenente-coronel percebeu que o efetivo é muito bom e espera que nesse comando possa unir forças para trazer um serviço cada vez melhor à comunidade rio-grandina.
Sobre ser a primeira mulher a comandar um Batalhão no Estado, Sulenir Rosa diz que se vê como qualquer outra mulher gaúcha. "Talvez sirva de exemplo para outras mulheres, ou seja, que a gente possa alcançar todos os nossos sonhos com estudo, esforço e dedicação". Mas para realizar esse sonho, a comandante conta com um grande reforço: a família. "Precisamos ter o apoio de pessoas que nos auxiliam bastante na organização e antecipação. Tento me fazer presente sempre que possível em casa, na escola das crianças, sem descuidar das obrigações profissionais", ressaltou. Quanto a comandar uma unidade de segurança pública, Sulenir percebe que a presença feminina chegou para humanizar muito as instituições. "Porém não há diferença quanto a comandar homens e mulheres. Todos recebem o mesmo treinamento para fazer frente às mais diversas situações. E a comunidade percebe a presença do bombeiro militar fardado, independentemente do gênero".
Referência na GM e na família
Com mestrado em Geografia, Cíntia Aires entrou na turma de 2012 da Guarda Municipal de Pelotas (GM). Ao longo do tempo, sua formação a levou para o caminho do Observatório de Segurança Pública (espacialidade das ocorrências), onde pôde colocar em prática as duas funções profissionais. Com o desempenho demonstrado no setor, não demorou muito para receber o convite de assumir o comando da GM, uma decisão difícil de tomar, porém merecedora. "Pensei: quando a guarda terá outra mulher no comando. E o que eu posso fazer para melhorar a instituição que eu trabalho", revelou. Questões fundamentais que a colocaram à frente da unidade, também majoritariamente formada por homens.
Cíntia conta que com o passar dos anos, houveram mudanças na legislação o que ampliou os atendimentos e as atribuições da GM. "No começo, quando eu entrei, a guarda era mais ligada à parte patrimonial, ainda é. Mas hoje atendemos ocorrência de crimes contra a vida e passamos a trabalhar na prevenção social. Então é um outro viés e, em nenhum momento, naquele período, eu imaginei ou cogitei estar nessa posição." Mas ela está no comando e serve de referência para outras GMs.
A GM diz nunca ter questionado sua capacidade, mas é que no Observatório o trabalho estava consolidado. "É um processo diferente estar na gestão da instituição, pois pesa muito lidar com a vida dos servidores, além da questão da gestão que tu entrega para a comunidade. Aí está a importância da data de hoje - Dia Internacional da Mulher - , pois pensei quando uma mulher terá novamente uma oportunidade de estar nesse local", ao admitir que sua posição a exige bastante, porque a segurança pública é majoritariamente masculina.
Cíntia acredita que o que está em jogo é a competência de uma pessoa assumir um posto de comando e não a de gênero. "A partir dessas construções históricas, eu me obriguei a pensar o que isso representa para a GM e para outras mulheres." Indiretamente a guarda acabou sendo referência pelo trabalho na gestão. "Não que o espaço do homem. Eu quero o meu espaço enquanto profissional. Nunca me coloquei no lugar de fragilidade, então se for questionada será pelas minhas tomadas de decisões e não por ser mulher."
A confiança de Cíntia tem um suporte emocional muito forte: a estrutura familiar, através do apoio do marido e da filha que já a referiu como exemplo de mulher em um trabalho escolar. "O nível de estresse é muito alto da mulher, mãe, dona de casa e profissional porque quem cuida de quem cuida?", diz a GM que já abriu mão de promoções anteriormente para ficar mais tempo com a filha. Hoje, o trabalho exige mais tempo, por isso que o período em casa precisa ser da melhor qualidade e não quantidade. Tarefa que mulheres multifacetadas aprenderam ao longo da jornada.
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