Memória
Movimento hip hop de Pelotas ganha homenagem na BPP
Exposição, com curadoria de Eduardo Amaro, relembra a trajetória do rap no município
Fotos Volmer Perez - DP - Eduardo Amaro destaca o trabalho de Mano Rick (Direita)
O espaço Melo da Costa, do Museu da Bibliotheca Pública Pelotense homenageia os 50 anos do Movimento Hip Hop com uma mostra de fotografias e CDs, entre outros objetos, que relembram a trajetória do rap no Brasil e em Pelotas. A ação tem curadoria do músico e ativista cultural Eduardo Amaro, o Mister Negrinho, que apresenta acervo pessoal neste projeto. Visitação de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 17h, na praça Coronel Pedro Osório,103.
A museóloga Janaína Vergas Rangel, da Bibliotheca, explica que o Museu é um espaço aberto e gratuito para artistas mostrarem diferentes facetas culturais de Pelotas e região. "A diretoria da casa busca valorizar esses artistas da região sul, então todos os meses recebemos novos artistas, isso é o que enriquece o nosso trabalho. Esse é um espaço que foi construído para a comunidade", comenta Janaína.
Nos próximos dias o local vai abrigar também uma mostra sobre o Carnaval em Pelotas. "As duas vão se complementar, vamos falar sobre cultura popular, sobre música. Os museus precisam dessa representatividade cultural", diz a museóloga.
Início com a dança
Eduardo Amaro, com o pseudônimo de Radox, foi um dos primeiros MCs de Pelotas, relembra o artista ao explicar o que o motivou a montar a exposição. "Queria dar visibilidade a uma cultura que ainda é discriminada", diz.
O curador fala que o Hip Hop em Pelotas teve início no final da década de 1980, a partir de festas promovidas por discotecas e DJs famosas que reuniam admiradores da black music. "Primeiro chegou a dança, o break chegou com o funk soul", fala mostrando imagens da época. "Depois da dança surge a necessidade de expressar o que se pensa, com o rap. Aí explodem Racionais MCs (grupo de rap paulistano fundado em 1888)", relembra.
Influenciados pelo contexto nacional, jovens da periferia de Pelotas seguem os passos dos artistas do centro do país. "Os primeiros que eu vejo cantando rap são o João e o Mabaker, que eram cuidadores de carros. Aí vem o Jair Corrêa, o Brown, conheço o DJ André, B52, o Mika do TWM. Surge também os festivais do Mister Pelé", conta o curador.
Destaque para Mano Rick
Na exposição Amaro destaca nomes de Pelotas como J.Will e Fil e Gagui IDV. O curador também traz para a mostra a obra do rapper Mano Rick, que pertence a segunda geração de rappers e MCs de Pelotas. "O Mano Rick, pra mim, é, além de outros talentos que temos na cidade, é um empreendedor, um visionário que se conecta com artistas da África, levando sua rima, sua estética negra e periférica. É um exemplo do que todo jovem de periferia deveria seguir, buscar a sua formação e através da arte fortalecer a sua ideologia."
Mano Rick nasceu em 1997, quando o rap pelotense estava se consolidado. Morador do Dunas, o rapper começou sua imersão no movimento Hip Hop em meados dos anos 2000. "Eu entrei em estúdio para gravar uma música quando eu tinha dez anos. Antes disso já gravava minhas fitas." A referência mais importante na carreira do artista foi a Banca CNR, do Dunas, que tinha nomes como Guido CNR, que completou 25 anos de carreira no ano passado.
"Era a galera que eu via fazendo shows pelo CDD (Comitê de Desenvolvimento do Dunas) e fora esse grupo era o que eu escutava nas rádios, como a Da Guedes e Racionais, que também foi uma influência muito grande na minha caminhada", relembra. O rapper diz que se identificava com as letras das composições e isso o aproximou do hip hop.
E foi no bairro que ele foi incentivado a mostrar sua música e a fazer as primeiras apresentações, tanto na escola, quanto no CDD. "Foi ali que eu aprendi a tocar violão, que eu entrei pela primeira vez em um estúdio", conta.
O primeiro álbum Do Dunas pro Mundo, financiado pelo Procultura do município, foi lançado em 2017, anteriormente, o artista lançou o EP Fatos e fatos (2013), um trabalho experimental, com cerca de 150 cópias, que ele fazia e vendia. Em 2022 o artista apresentou o segundo álbum, Influência. "É meu trabalho mais maduro. Ele traz uma visão mais intimista, nesse meio tempo lancei vários singles e fiz participações e agora já estou com oito faixas prontas de um novo álbum", conta.
Para Mano Rick a cena rap evoluiu muito e hoje existe mais abertura para a música periférica. "O movimento também evoluiu em várias questões, tem coisas que são diferentes de antes reflexo do que a sociedade é. Tem coisas que eram pauta de luta antes e que foram superadas. Hoje existe abertura grande para o hip hop também porque o rap é um dos gêneros musicais mais ouvidos no mundo. O rap de Pelotas é bem reconhecido também, tem uma galera trabalhando profissionalmente. A tecnologia está mais próxima, então a gente está aprendendo a lidar com essas ferramentas para chegar em mais lugares
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