Música
A voz livre de Sá Biá no The Voice Brasil
Cantora e atriz trans, que representa Pelotas no reality show da TV Globo, conquistou uma vaga no time do músico Michel Teló
TV Globo - Especial DP - Cantora nasceu em Espumoso e mora em Pelotas desde 2015
O programa The Voice Brasil tem uma voz feminina representando Pelotas nesta edição. A cantora e atriz trans Sá Biá, 25, conquistou uma vaga no time do músico Michel Teló nas audições às cegas, quando um técnico escolhe o competidor apenas ouvindo sua interpretação. A atração foi exibida na noite desta quinta-feira (24), pela TV Globo, quando a intérprete cantou a composição Gente humilde, de Aníbal Augusto Sardinha, Chico Buarque e Vinícius de Moraes.
Em Pelotas desde 2015, quando ingressou na licenciatura em Teatro, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a cantora, natural de Espumoso, deu início a trajetória artística como intérprete de festivais de música popular brasileira na terra natal a partir de 2007. Sá Biá, nome artístico de Sá de Moraes Pretto, concluiu a graduação em 2020, no mesmo ano ingressou no mestrado em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Maranhão. Por lá realizou as atividades presenciais e voltou para a Princesa do Sul para dar continuidade ao curso de Música Popular também pela UFPel.
As primeiras aparições da cantora ocorreram com o grupo de artes nativas Sepé Tiaraju, entidade tradicionalista que representou de 2004 até o ano de 2014, quando atuou como intérprete vocal e declamadora de poemas regionalistas. Também participou das primeiras gerações do coral municipal professora Ondina Landim Cardoso onde atuou como coralista e solista vocal interpretando canções do norte-americano Michael Jackson e outros artistas nacionais e internacionais.
Sá Biá já foi campeã nacional de oratória nas escolas no ano de 2010 e também vice campeã gaúcha do concurso de redações do Senado Federal tendo conquistado um acervo bibliográfico sobre história do Brasil para o Instituto Estadual de Educação Dr Rui Piegas da Silveira. Em 2020 conquistou o primeiro lugar no Festival Encantar, em Porto Alegre, que reuniu mais de 1.350 intérpretes do Rio Grande do Sul em duas categorias. A cantora foi campeã na categoria Adulto no voto popular depois de mais de 2,5 milhões de votos ao todo, ao longo de toda a competição.
Segunda tentativa
Esta foi a segunda vez que a cantora se inscreveu no The Voice Brasil, a primeira tinha sido em 2018. Cantando em diferentes oitavas, Sá Biá explora repertórios que vão de vozes bem graves até registros bem agudos. Foi interpretando dessa forma que ela cantou o samba Naquela mesa, que ganhou o Festival Encantar.
Samba, aliás é um dos estilos preferidos da cantora, que navega pela MPB e já interpretou composições que conhecidas nas vozes de nomes como, Alcione, Elza, Elis Regina, Gal Costa, Clara Nunes, Lupicínio Rodrigues, Chico Buarque, Djavan, Rita Lee.
Na sua apresentação ao programa, a cantora falou que nunca se sentiu pertencente ao universo da música, como se os espaços não estivessem preparados para acolher a sua diversidade por ser uma pessoa trans de gênero não-binário. Na sua fala a intérprete comentou que o pássaro sabiá não canta em cativeiro e quando canta é em forma de protesto. "Já tive momentos em que me afastei da música por acreditar na opinião dos outros sobre mim, agora sinto que eu não abro mais mão do meu brilho", disse no vídeo.
No reality show da TV Globo, a cantora disputa o prêmio de meio milhão de reais e um contrato com a Universal Music para produção de álbum e assessoria de carreira. Nessa edição os quatro técnicos escolhidos são as cantoras Iza e Gaby Amarantos e os cantores Michel Teló e Lulu Santos. Além da gaúcha, o time de Teló tem: Neto & Felipe, Makem, Camila Malkov, Keilla Júnia, Duda e Isa Amorim e Déborah Castolline, Elayne Tyne, Brenda Helen, Júlio Mallaguthi, Renan Bell e Lua. As exibições ocorrem nas noites de terça e quintas-feiras.
Parceiras
Amiga da cantora desde 2017 quando ela ainda cursava Teatro, a cantora Leu Kalunga, das bandas Afro Black Soul e Forrogodó. A partir de 2021 elas se tornaram colegas na graduação em Música Popular, o que aproximou ainda mais as cantoras. "Tive a sorte de entrar na mesma turma que ela", fala. O trabalho exibido nas redes sociais também tem sido fator para as duas terem criado uma parceria. "Uma já acompanhava bastante o trabalho da outra, impulsionando o trabalho da outra, aí quando começaram as aulas estávamos bem alinhadas nos gostos do repertório e quando voltou o presencial a gente já estava louca para cantar juntas", conta.
A amizade resultou na música Vidas dandaras, single de Leu em parceria com Sá. "É uma música de combate a transfobia, ao transfeminicídio, que fala sobre alternância de poder, de lutar por novos valores civilizatórios que valorizem as vidas e as vidas de travestis, de mulheres trans."
Muito orgulhosa da trajetória da amiga, Leu Kalunga diz que é uma alegria de ver a Sá conquistar seu espaço e abrir caminho para outras trans não-binárias e outras pessoas como a própria cantora. "Pessoas aqui como eu, que lutam todos os dias para conquistar o sonho. Considero que ela está revolucionando, essa revolução permite que outras almejem traçar esse caminho. Vendo a Sá Biá no programa me sinto representada. Ela é uma pessoa que está sempre procurando se inovar, se reinventar, nunca está parada musicalmente falando, está sempre criando, se conectando a outros artistas, isso é muito lindo de ser ver, uma pessoa que ama a música", diz.
Siga no Instagram: @sabiamusic
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