Estrutura

Inatividade dos chafarizes de Pelotas intriga a população

Fontes que eram para estar em funcionamento, com fluxo de água, estão paradas. Prefeitura diz que o vandalismo atrapalha, mas traça planos para resolução do problema

Fotos: Volmer Perez - DP - Fonte das Nereidas está desativada desde o final do Pelotas Doce Natal

Por João Pedro Goulart
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(Estagiário sob supervisão de Lucas Kurz)


A arquitetura de Pelotas carrega muitas memórias aliadas às suas esculturas e monumentos, compondo o rico patrimônio histórico da cidade. Uma das mais tradicionais e marcantes representações de todo esse legado são os chafarizes instalados em praças e pontos centrais do Município. Além de suas belezas, o que também chama a atenção nesses chafarizes é a ausência de um componente importante considerando o seu funcionamento ideal, a fluidez de água na construção.

Ao contrário da lógica, os três chafarizes do Centro de Pelotas não apresentam corrente ativa de água há algum tempo, com exceção do que fica na Praça Coronel Pedro Osório, a chamada Fonte das Nereidas, que tem ativação das águas dançantes apenas no período natalino. Moradores que costumam visitar a praça afirmam que não lembram de testemunhar a fonte ligada em outro momento, senão no Natal. A moradora do bairro Porto, Rosângela Pereira, 39 anos, costuma caminhar até a praça, levando sua sobrinha pequena. "Só em todos os Natais que tem água no chafariz", diz. A mulher aproveita e comenta sobre a situação da fonte também inativa do Calçadão, nomeado como As Três Meninas. "Faz muitos anos que não se vê funcionar [...] Sinto falta, a gente gosta de ver e de olhar, até para tirar foto fica bonito", lamenta Rosângela.

Ao redor da fonte seca da Coronel Pedro Osório, os donos de uma das banquinha de produtos guardam lembranças de quando as águas corriam diariamente nos chafarizes. Mariana Ribeiro, 41 anos, faz força para lembrar da última vez que viu o chafariz da Coronel funcionando, a não ser no Natal. "Nunca nem vi, eu acho. Acho que quando eu era criança de repente", arrisca. Ao lado da mulher, Matheus Brião, 34 anos, tem mais recordações do funcionamento regular do chafariz das Três Meninas, na sua infância. "Quando eu era pequeno, com uns dez, 12 anos, que a gente vinha muito para o Centro, a gente passava no Calçadão e sempre contornava o lado do vento porque ele molhava quem tava passando", lembra Matheus.

Conforme conta o rapaz, sua lembrança mais recente dá conta de que mais comum era notar a fonte do Calçadão funcionando do que a da Praça, mesmo assim, essa percepção tem cerca de 15 anos. "A gente passava ali e tinha umas pessoas que tomavam banho", alegou, apelando à memória. A dupla de vendedores ainda reforça que o atrativo turístico do chafariz é potencializado quando ele é ligado e sua água corre. "A cidade está cheia de turistas por causa do evento de música, tanto que um monte de gente passou aqui, disse que não era da cidade e tinha gente fazendo foto no meio das árvores, mas podiam estar tirando no chafariz", relata Mariana. "Eu até vi hoje um rapaz fazendo uma selfie ali, e me chamou a atenção. Daqui a pouco, se ele posta isso, está turistando em outra cidade, e outra pessoa vai pensar: 'que chafariz é esse que não funciona?'. É um marketing negativo", pensa Matheus.

Uma terceira fonte de água, esta que os dois vendedores não se recordam, é o da Praça Cipriano Barcelos, na quadra do Pop Center. Chamado de Chafariz dos Cupidos, já foi referenciado em jornais antigos como sendo "O 4º Chafariz". Em uma breve comparação de praças, a Cipriano recebe menos visitantes regulares do que a Coronel Pedro Osório, embora as descrições acerca dos seus chafarizes sejam parecidas. Sentada em frente ao Chafariz dos Cupidos, Syngrid Oleinski, 31 anos, conta que vem de Rio Grande para Pelotas todos os finais de semana, há mais de dois anos. 

Observando o monumento, ela relata o que vê há bastante tempo. "Ele está todo pichado, a tintura dele está saindo, não está funcionando". Inclusive, em um dos lados da base interna do chafariz há uma cavidade sendo utilizada para guardar um colchão. No mais, em uma das visitas a Pelotas, no Natal, Syngrid revela que se impressionou com o espetáculo das águas dançantes na Fonte das Nereidas, mas não sabia que a fonte ficava ativa apenas naquele período. "Uma pena aquele não estar funcionando, porque é bem bonito. Eu até filme e guardei, porque eu gostei".

Explicação da Prefeitura

De acordo com os secretários de Cultura, Paulo Pedrozo, de Qualidade Ambiental, Eduardo Schaefer e a diretora-presidente do Sanep, Michele Alsina, os chafarizes da cidade sofrem com a depredação e o vandalismo. Cabeamentos furtados, peças quebradas e equipamentos estragados impedem o funcionamento das estruturas.

Conforme Pedrozo, a ação Pelotas Doce Natal ocorreu, independentemente dessas condições. As águas dançantes foram instaladas no chafariz da Praça Coronel Pedro Osório durante as festividades natalinas de forma independente do sistema de fornecimento de água e sem necessidade de ativação da estrutura.

Com relação ao Chafariz das Três Meninas, um diagnóstico está sendo feito com o objetivo de viabilizar sua reativação. Já o processo para recolocar em funcionamento o Chafariz das Nereidas é considerado mais complexo, sendo necessárias intervenções na estrutura da própria praça, incluindo a remoção de parte do piso, devido ao furto de cabos da parte subterrânea.

No Chafariz dos Cupidos, na praça Cipriano Barcelos, um trabalho de restauração estrutural está sendo desenvolvido sob a coordenação da Secult, tendo sido realizado levantamento fotográfico para identificação dos danos, limpeza e pintura das muretas. O próximo passo é fazer a restauração e conservação da parte metálica e para isso a secretaria está em busca de parcerias com entidades como a UFPel e a associação que administra o Pop Center para a captação de mão de obra e recursos. A última etapa será a revitalização da parte hidráulica.

Chafariz do Laranjal

A fonte que estava no Laranjal foi enviada para passar por reformas. De acordo com o secretário de Qualidade Ambiental, o restauro do monumento Velas ao Vento está concluído, após ser realizado por meio de parceria com as empresas Biscoito Zezé e DR Metalúrgica. O investimento foi de R$ 24 mil. A nova estrutura será entregue nos próximos dias.

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