Saúde
RS em alerta para a dengue
Secretária adjunta da Saúde, Ana Costa detalha ações do Estado contra o mosquito da dengue
Itamar Aguiar/Secom - Especial DP - Ana Costa foi secretária de Saúde em Pelotas e hoje ocupa o cargo de secretária adjunta de Saúde no Estado
Por Douglas Dutra
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No começo de 2024, o Brasil vive um aumento alarmante dos números de dengue. No Rio Grande do Sul, o cenário também é preocupante, com índice acima da média para essa época do ano. Somente nas primeiras semanas de 2024, o Estado registrou mais de 4,4 mil casos confirmados de dengue, com três óbitos pela doença, que pode ser evitada através do combate ao mosquito Aedes aegypti, que transmite a doença. Em Pelotas, foram registrados quatro casos confirmados de dengue, com 54 notificações para a doença e 44 casos em investigação.
Em entrevista ao Diário Popular, a secretária adjunta de Saúde do governo do Estado e ex-secretária de Saúde de Pelotas, Ana Costa, avalia a epidemia de dengue no Rio Grande do Sul e alerta para a importância da prevenção. Uma versão estendida da conversa está disponível no site do DP.
Qual é a classificação do atual momento da dengue no Rio Grande do Sul?
A situação da dengue é de epidemia, não há um alarmismo excedente. Nós estamos iniciando esse ano com muitos casos, muito mais proporcionalmente do que tivemos em anos anteriores. Necessitamos ter ações integradas na prevenção. Portanto contamos com toda sociedade, com o poder público, com os espaços públicos, para que a gente evite ter criadouros do mosquito, somado a um cuidado assistencial que esteja atento à dengue. Muitas vezes as pessoas chegam nos serviços de saúde, e o fato de os sintomas serem muito similares a muitas outras doenças, isso fica um pouco desconsiderado e a gente passa a ter riscos assistenciais. Todos têm potenciais criadouros de dengue, desde que tenha água acumulada onde o mosquito possa colocar seus ovos. Estamos num momento em que temos uma incidência muito alta e níveis de alerta muito importantes. A gente tem um painel que disponibiliza dados de cada um dos municípios do Estado e coloca eles em níveis de alerta.
O que torna o cenário da dengue neste verão tão alarmante em relação a anos anteriores?
Nós temos observado um crescimento bem alarmante. Nesse aumento, a gente observa que os casos têm começado antes, têm aumentado proporcionalmente. Pode ter muitos fatores nisso, os cuidados que a gente pode ter deixado para trás, as chuvas e o calor como fatores climáticos que favorecem essa situação. O fato de ter casos autóctones na cidade e o mosquito circulando são a soma, o mosquito pica uma pessoa que está doente e transmite. Muitas vezes, a gente tinha o mosquito mas não tinha a doença e isso fazia com que não houvesse transmissão. É uma soma de fatores, e nesse momento a gente está vivenciando um risco muito alto, esses números que a gente vê hoje a gente via lá perto do período de esfriar, quando temos um cenário menos favorável ao mosquito, e dessa vez estamos com índices muito altos ainda praticamente no início do verão, o que faz com que o tempo de ciclo da doença, apesar de ela não ser exclusiva de verão, seja favorecido negativamente.
Já há uma vacina contra a dengue que começa a ser distribuída, embora ainda seja pouca. Tem previsão de que essa vacina chegue ao Rio Grande do Sul e possamos ver resultados ainda esse ano?
Esperamos que sim. Nosso governador [Eduardo Leite, PSDB] esteve com a ministra da Saúde [Nísia Trindade] e as colocações feitas pelo Ministério são de uma produção da vacina ainda tímida para poder dar conta de um País continental como o nosso. Houve essa solicitação do governador no sentido de evoluir na distribuição da vacina. Hoje a vacina está, por questões epidemiológicas, focada numa faixa etária de maior risco em alguns grupos. Nós esperamos que o Rio Grande do Sul possa ter acesso o mais breve possível, mas dependemos dessa produção da vacina e da aquisição.
Na pandemia o RS teve uma experiência positiva de colaboração entre o poder público, a academia e a sociedade, apesar de alguns sinais de negacionismo perigosos. Como essa experiência auxilia agora e serve de referência para ações de combate à dengue?
A gente teve grandes aprendizados, de uma comunicação de emergência rápida, do envolvimento da sociedade. Esses exemplos da Covid servem como algo que a gente vai fazendo em todos os lugares com todos os atores que devem se envolver. Agora estamos todos vivenciando um verão delicioso, com muita chuva às vezes, e é preciso que todos se enxerguem nisso. O que muda é que na Covid a gente tinha um risco de letalidade muito alto, morriam muitas pessoas, e a gente se engana com a dengue, porque não conhece ninguém que faleceu de dengue enquanto é difícil alguém que não conheça quem faleceu de Covid. Precisa um pouco desse movimento para que todos nos sintamos responsáveis e o Estado tem feito isso.
A estrutura de saúde está preparada para atender casos de dengue? Quando tiverem sintomas, as pessoas devem procurar os serviços de saúde imediatamente?
Tem algumas questões que preocupam na dengue, que é o fato de ter sintomas muito parecidos com outras coisas, como vômitos, dores abdominais, que na época do verão são comuns a tantos outros quadros que não da dengue. Primeiro, sim, tem que procurar um serviço de saúde. Temos trabalhado muito junto aos serviços de saúde para que estejam atentos à dengue, porque diferente de outros estados do País onde os casos eram inúmeros há muitos anos, as nossas equipes de saúde precisam estar atentas a detectar o risco dessa pessoa e ter execução de exames de laboratório por maior agilidade. Enquanto isso, é importante que as pessoas se hidratem muito, que é uma das formas de proteger dos efeitos mais extensos da dengue. Mas tem que procurar o serviço de saúde e relatar esses sintomas de maneira que a equipe de saúde possa detectar. A dengue tem tratamentos que são mais simples, se a gente pensar por exemplo no que vivenciou na Covid, é mais raro que a gente tenha internações na proporção que a gente tinha na Covid. No entanto, quando um caso não é detectado e bem hidratado, essa pessoa, assim como aconteceu com esses três casos, corre o risco de ir a óbito por uma questão que a gente poderia dar conta. A gente precisa que todos os serviços de saúde estejam atentos e que todas as pessoas estejam atentas à suas casas, que cada um no seu papel possa estar de olho no mosquito da dengue e entender que é possível combater, mas que até que a gente combata, o cuidado de assistência precisa acontecer, então hidratação talvez seja uma das palavras chaves para proteção com relação aos efeitos mais devastadores.
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