Sociedade
A cidade convida
Bares investem em alternativas espaciais que tiram o lugar dos carros e para dar vez à mesas e clientes em Pelotas
No lugar de carros, pessoas. Onde um automóvel permanece parado durante horas, pessoas sentadas conversam e compartilham momentos. Antes estáticas, as vagas destinadas para carros agora dão lugar a miniparques ou parklets - espaço aberto junto à calçada ocupando o lugar de um ou dois veículos. Em Pelotas, estabelecimentos começam a se movimentar e a implementação conta com apoio do Poder Público.
Secretaria Municipal de Gestão da Cidade e Mobilidade Urbana (SGCMU) estabeleceu normas para a instalação destas extensões do passeio. Cerca de seis estabelecimentos já protocolaram junto à Secretaria a solicitação para instalar os decks de madeira. Todos os custos de instalação e manutenção são de responsabilidade particular e devem atender às normas determinadas pelo Poder Público.
"Tudo que é cidade que a gente admira, tem", explica Pablo Ribeiro, dono de um estabelecimento na rua 3 de Maio, em frente à praça Conselheiro Maciel (do Direito). Instalado há menos de duas semanas, Ribeiro se mostrou animado com a nova proposta para o bar. Agora, durante o verão, o espaço é disputado a partir do final da tarde. Quando a reportagem chegou ao local, um homem tomava mate sentado no banco fixo instalado junto ao deck de madeira - uma das exigências da SGCMU. O que era um sonho antigo de Pablo também se torna desejo de outros bares instalados na quadra, que já demonstraram interesse na instalação de parklets. Ribeiro pretende instalar floreiras na parte superior e disponibilizar rede de wi-fi para quem utilizar o espaço. O investimento do bar foi em torno de R$ 4 mil.
O casal Bruna e Bernardo Figueira aproveitava o entardecer sob a sombra de um guarda-sol num parklet instalado num bar da rua Rafael Pinto Bandeira, esquina General Osório. Os dois aprovaram a ideia e já conheciam propostas parecidas de outras cidades. Próxima a eles, uma família também aproveitava o final de tarde mais perto da esquina. Antônio Carlos e Vilma Vianna ainda tinham dúvidas se gostavam ou não. A proximidade com o trânsito de veículos não parecia agradável para Vilma. Carolina Vianna, mais jovem que o casal, aprovou a ideia. "A gente tinha a ideia de sentar ali, mas já estava lotado quando chegamos", contou Carolina.
No local, uma outra ação é pensada pelo dono do estabelecimento. Fabrício Bender adiantou que colocará mesas fixas e ombrelones para as pessoas aproveitarem enquanto fora do horário de funcionamento do bar. "Queremos ter água pra chimarrão, jornal pra ler enquanto não tá aberto", disse. Segundo Fabrício, vizinhos aprovaram a mudança no cenário que agora movimenta mais pessoas e aumenta a segurança da região.
A tomada de espaços públicos pelas pessoas é uma tendência mundial, indica Nirce Medvedovski, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). "Hoje a calçada não é só vista como passeio, mas como ponto de encontro", comenta Nirce. Ela destaca o movimento chamado Pavement to Parks, criado em São Francisco, nos Estados Unidos, que visa à implementação de parklets na cidade. O movimento tem como eixos "reimaginar a potencialidade das calçadas, fomentar transporte não motorizado, melhorar a segurança do pedestre, estimular a interação com o bairro e apoiar empresas locais". O mecanismo possibilita também que os moradores da cidade proponham lugares para a instalação destas vagas. Este movimento de utilizar as calçadas, de habitar as praças, privilegia também o entorno, dando mais segurança e vida para lugares não habitados. "O interesse maior de utilizar estes espaços pode ser visto aos finais de semana na praça Coronel Pedro Osório, no Parque Museu da Baronesa, por exemplo", indica a especialista.
Apoio do Poder Público
Frente à pasta da SGCMU, Jacques Reydams vê a ideia como possibilidade de sociabilidade e convívio. Os arquitetos Guto King e Carmen Vera Roig, responsáveis pela ideia e por normatizar junto à prefeitura, explicam a ação como forma de humanizar espaços antes destinados para carros. Os estabelecimentos pretendem colocar flores, plantas, mobiliário urbano, entre outros objetos. Os arquitetos reiteram que os locais são públicos e que qualquer cidadão pode sentar e aproveitar o espaço. "Os parklets são para uso público, não é exclusivo para clientes dos estabelecimentos", esclarece Carmen. Os arquitetos também veem neste projeto uma forma de urbanizar e deixar a cidade mais agradável.
Conforme King, projetos como este também fazem com que as pessoas tenham mais vontade de andar a pé pela cidade. Morador do Porto, o arquiteto lembrou que, em outras épocas, as pessoas tinham muito o costume de tomar chimarrão sentadas na calçada. Hoje, pela sensação de insegurança, tendem a ficar mais dentro de suas casas. O movimento de pessoas nas calçadas e em parklets, por exemplo, torna as regiões mais seguras. Tradicionais em cidades como Punta del Este, São Francisco e São Paulo, estes miniparques fazem parte de políticas voltadas à ocupação de pessoas nos espaços públicos. O intuito é habitar a cidade e deixá-la mais segura, explica o arquiteto. Mais informações, acesse o link http://www.pelotas.com.br/arquivos/Regramento_dos_parklets_jan2017.pdf.
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