Esperança
A moradia como ponto de recomeço
Família do Dunas recebeu de volta a residência totalmente requalificada a partir de projeto desenvolvido pela organização de impacto social Domum
Era antigo o desejo dos Machado de deixar a casa de 22 metros quadrados em melhores condições. Sozinhos, no entanto, os moradores do bairro Dunas não conseguiram. Foi somente com a ajuda de muitas mãos que o sonho se concretizou e a entrega do imóvel - totalmente requalificado - ocorreu na tarde de domingo, quando a matriarca da família recebeu as chaves da equipe multidisciplinar da Domum. “Estou muito feliz, mudou bastante a minha vida. Só tenho a agradecer”, disse a moradora de 59 anos, que nesta matéria terá sua identidade preservada, depois de seis meses desde o início da obra.
A iniciativa é da Domum - Ressignificando a moradia, uma organização de impacto social que visa desenvolver e implementar projetos que melhorem a qualidade de vida das pessoas e comunidades, a partir do local onde vivem. Para desenvolver os projetos, a iniciativa conta com o apoio de instituições públicas e privadas.
Apesar de não ter fins lucrativos, a Domum não é uma entidade filantrópica ou assistencial, esclarece o arquiteto e urbanista Cassius Baumgarten, integrante da equipe. A intenção é que o empreendimento evolua para se transformar em uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, ou OSCIP. “Não visamos lucro, mas temos o objetivo de sermos remunerados pelo nosso trabalho. É como se fosse uma empresa do terceiro setor”, explica Baumgarten.
A metodologia utilizada pela organização coloca a família no centro do processo, para que sejam diagnosticadas todas as fragilidades daquele núcleo, além do espaço físico. “Inicialmente a gente vê a questão da moradia, mas as famílias, que moram em condições precárias, têm outras precariedades”, comenta o arquiteto.
É por meio da moradia que são trabalhados elementos como educação e saúde, entre outras necessidades básicas que uma pessoa precisa ver supridas para que possa se desenvolver e criar alternativas de uma vida melhor. Por este motivo o começo é com a moradia adequada. Posteriormente, o grupo vai tentando oportunizar outros auxílios. No caso da família Machado, por exemplo, um dos problemas envolvia a filha de quatro anos do casal, que não queria mais frequentar a creche da escola.
Em contato com a direção, a organização fez a ponte para que a menina voltasse para o ambiente escolar, ao qual hoje está totalmente adaptada e com avaliações muito positivas. No próprio projeto do quarto da menina, onde foram construídos uma escrivaninha e um porta livros, além de colocados elementos decorativos personalizados com estímulo ao estudo e a permanência na escola, a equipe mostra que pretende fortalecer os laços da criança com a educação.
No corredor da casa também se pode ver um quadro descrevendo a rotina da família, desde a hora do levantar. “A moradia é uma ferramenta. A gente oportuniza, mas não para por aí. Até porque não adianta dar uma moradia nova, sem trabalhar outros elementos que são inerentes à família”, diz Baumgarten.
Depois de entregue a casa, a organização ainda dará um suporte aos familiares durante seis meses. “No momento em que atendemos essas necessidades iniciais vão surgir outras, então a ideia, nesse período do pós-ocupação, é conseguir que a família seja sustentável e, a partir dessa experiência, consiga resolver os seus problemas”, completa o arquiteto.
Critérios de seleção
Os Machado disputaram a seleção com outros dois grupos familiares, todos pinçados a partir de uma rede de contatos dos integrantes da organização. Para ser elencada como uma possível beneficiária da proposta, a moradia da família passa por uma seleção que envolve os seguintes critérios: Segurança Jurídica da posse; Habitabilidade; Infraestrutura; Acessibilidade; Economicidade; Localização; e Adequação Cultural. Neste caso, apenas a localização da residência estava num padrão aceitável.
Há exatos dez anos esta família havia recebido a casa, a partir de um programa do município. Internamente o imóvel não tinha divisórias, apenas um banheiro. A intenção do casal era fazer as melhorias, mas isso nunca foi possível. Quando a Domum chegou até eles a residência era muito precária. O banheiro, por exemplo, não tinha porta, revestimentos, pia ou torneira, iluminação artificial e o sanitário estava quebrado - isso entre outros problemas. Ao final da reforma, a casa ficou com 37 metros quadrados.
O objetivo do projeto criado para este grupo familiar era o de resolver a precariedade da moradia, com a requalificação de áreas importantes, como banheiro e cozinha, além de criar quartos privativos para o casal e para a criança. Para colocar o projeto em prática é necessário o aporte financeiro de uma empresa parceira e, neste projeto, a mão de obra chegou por meio de parceria com a Susepe, que disponibilizou que dois apenados do regime semiaberto pudessem trabalhar no local. “Capacitamos os dois para que trabalhassem aqui. Eles não tinham experiência em construção civil. Depois, quando evoluírem para o regime aberto, terão outra oportunidade, porque agora já têm a experiência”, explica o arquiteto.
Quem são
Além do arquiteto Cassius Baumgarten, integram a Domum o advogado Charles Pereira, o administrador Ricardo Nanini, a pedagoga Adriana Nanini, a assistente social Josana Inês Pires, a nutricionista Elisa Pereira, o engenheiro de produção Samuel Pires e o arquiteto e urbanista Celso Dias. Nesta semana a organização vai lançar as próprias redes sociais e contatos virtuais, abrindo caminho para a entrada de novas empresas parceiras interessadas, assim como os fundadores da Domum, em promover ações de cunho social em busca da melhora na qualidade de vida de diferentes pessoas na própria comunidade.
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