Caridade

A proposta é recuperar vidas

Trabalho voluntário ajuda carentes e moradores de rua não só com alimentação, mas vários outros serviços

Jô Folha -

Há duas quartas-feiras moradores de rua e pessoas carentes em geral têm um local novo, central, onde ganham janta e uma série de cuidados. O trabalho foge do assistencialismo por si só e amplia a atenção e o cuidado para diversas áreas. Proporciona cultura também e tenta buscar soluções para as deficiências de cada um, não se restringindo ao atendimento em saúde. Grupo de 70 pessoas se uniu para ajudar os menos favorecidos e duas vezes por semana se encontra para uma ação maior. Aos domingos saem às ruas para oferecer café da manhã a quem dorme ao relento. 

A Associação Amigos do Caminho (Amica) tem sede da rua Andrade Neves, 2.184, onde serve a janta semanal. Lá as pessoas também podem tomar banho e receber uma roupa limpa, cortar cabelo, fazer as unhas e passar pela triagem da assistente social. É ela quem encaminha os assistidos para cuidados com a psicóloga, a médica ou os serviços de enfermagem, quando necessário. Além disso, intermedeia outras ações, inclusive o encaminhamento de documentos.

As crianças têm local para brincar e receber evangelização, e os cachorros que acompanham os donos também são alimentados. A entidade estuda a possibilidade de firmar um convênio para castrar esses animais. Na Amica, todo o ser vivo merece atenção. Como o número de voluntários é muito grande, todo o dia surge uma ideia nova e o trabalho vai ampliando. Nas quartas-feiras, após a janta, tem apresentação cultural.

O presidente da Amica, Marcos Hallal dos Anjos, prefere chamar a sede da entidade de Lar do Caminho. O imóvel é alugado e o custo da locação é dividido entre os membros. Contam também com a ajuda da comunidade e de empresários na doação de dinheiro para ajudar no aluguel, nos alimentos, nas roupas e nos calçados. Uma peça do prédio é cuidadosamente arrumada com estantes de roupas bem dobradas, calçados, toalhas, até bonés.

O banho não é obrigado, pois normalmente os moradores de rua têm uma certa resistência à higiene. Mas muitos querem, como Cleiton Costa, 30. Ele tem casa e mora sozinho, em área invadida, onde nem luz há. Cuida carros no Centro. Até há poucos dias não sabia a idade e foi graças ao trabalho da Amica que está com certidão de nascimento e à espera dos demais documentos. Tudo que tinha foi incendiado na antiga casa, há alguns anos.

Usuário de drogas e álcool, ele tenta reabilitação. Partiu do próprio a primeira conversa com a assistente social Marta Tonollier. Ela organiza, juntamente com a psicóloga, um grupo para atendimento. “Faço o acolhimento para poder saber como contribuir. Ele quer parar de se drogar e busca arrumar um emprego”, diz. Cleiton conta que almoça na casa da mãe e se está drogado, ela não abre a porta para ele. Afirma querer mudar de vida.

Dono de um sorriso franco, por vezes quase infantil, carrega consigo a mágoa de não poder visitar o avô doente. O idoso teve um AVC e os familiares não o deixam vê-lo por ser usuário de drogas. Esse é o maior estímulo para querer se livrar do álcool e do resto, garante. Quer de Natal uma bermuda, fala para a assistente social, que indaga a todos. Por certo os voluntários vão também se cotizar para presenteá-los na festa que preparam para o dia 28.

Para Marta, o trabalho na Amica é uma realização, pois lidar com pessoas vulneráveis é recompensador porque acredita que a vida deles pode mudar, por isso faz a sua parte, que é tentar tirá-los da rua. “Eles não podem ser invisíveis ao mundo”, completa. Muitos são portadores de HIV e/ou hepatite, e são encaminhados para atendimento médico, lá mesmo. Recuperar a vida das pessoas. Essa é a proposta da Associação.

Comida farta para todos
O ex-balconista Oscar Lima, 64, tem família, mas aproveita a janta da Amica, já que está no aguardo da aposentadoria e sem renda alguma. Sai de lá ainda com comida que leva para casa. Tem esposa e dois filhos, todos desempregados. Dez vez em quando o filho arruma uns bicos, mas emprego de carteira assinada não tem. A cozinheira Janaína Lucas, 34, ficou sabendo por uma amiga sobre o local e tem ido lá para amenizar os gastos em casa.

Perdeu o benefício do Bolsa Família e está sem emprego. O filho faz refeições na casa de seu pai e o companheiro se vira. O cachorro vai com ela na Amica e sai de lá alimentado também. Na noite em que a reportagem do Diário Popular esteve lá, o cardápio era arroz, feijão, massa, carne de fígado, pão e suco. Comida farta, o suficiente para todos que chegassem e para quem quisesse repetir.

Doações
Quem quiser ajudar a Amica a ajudar pessoas carentes pode entrar em contato com Lúcio Cardona, pelo telefone (53) 98421-0386. O que eles mais precisam é de carne. A base da janta é arroz, feijão, massa e carne. Os demais produtos recebem com frequência. A cada refeição servida gastam 14 quilos de arroz, dez de feijão, dez de massa e dez de carne. No café da manhã dos domingos, que se inicia às 8h, se vão 20 litros de leite ou suco e 160 pãezinhos.

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