Em frente a um terreno, onde se instalará um condomínio residencial, há uma velha ponte. Antigamente utilizada para que os trens que cruzavam Pelotas via Estação Férrea passassem por cima do arroio, ela agora sustenta diversas casas ali construídas por quem, sem o local, não teria onde morar.

O mototaxista Juca Oliveira, 56, é um deles. Morava antes embaixo, mas após enfrentar uma série de enchentes se viu obrigado a construir o lar sobre a ponte, localizada próxima ao Colégio Pelotense. “Tem o que fazer?”, indaga. Ele conta que sua vida passa por ela desde pelo menos os oito anos, quando tudo na volta ainda era água e a Viação Férrea funcionava na cidade. “Nós éramos moleques. Pegávamos o trem lá na Zona Norte e quando chegávamos aqui nos atirávamos, cuidando apenas para não acertar algum barco no caminho. Jovem é jovem”, conta. Ele lembra também que funcionava no local, à época, a Usina de Lixo. Hoje sobrou apenas o forte e desagradável odor do saneamento básico precário na região.

Dentro da casa não há luxo, assim como nas tantas construídas sobre o já não mais utilizado espaço da Viação Férrea. Há honestidade, porém, no sorriso da filha de Juca, no cheiro do incenso, nas tantas máquinas fotográficas que ele mostra saudoso da época em que trabalhava com elas no Rio de Janeiro. “Pra mim é bom morar aqui. A vida te ensina a ser manso na hora precisa. Todo mundo se dá bem com todo mundo. É a área que o povo tirou para morar. A periferia no perímetro urbano”, comenta.

A Secretaria de Habitação explica que todas as áreas da antiga Viação Férrea são de propriedade da União. A prefeitura de Pelotas entrou com pedido para que elas sejam doadas ao município para que as casas possam ser regularizadas, sem a necessidade de os moradores deixarem seus lares.