Falta de profissionais
Anestesistas apontam remuneração e infraestrutura como razões para déficit no interior
Pesquisa aponta que 60,3% dos profissionais estão nas capitais; no HE-UFPel, falta de preceptores ocasionou o fechamento da residência, programa que tinha 20 anos de existência
Foto: Leandro Lopes - Em Pelotas, no Hospital Escola da UFPel, a residência em anestesiologia foi fechada no final de 2022
A anestesiologia é a quinta maior especialidade escolhida na medicina, com 29.358 profissionais registrados, conforme a Demografia Médica no Brasil. No Rio Grande do Sul são 2.117 profissionais em atuação. No entanto, apesar dos números, recentemente a Zona Sul do Estado tem enfrentado problemas com a falta de anestesistas. O Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) e o Hospital de Caridade de Canguçu enfrentaram situações difíceis por causa do déficit, ocasionando o cancelamento de procedimentos e inclusive o fechamento da residência em Pelotas. Especialistas apontam falta de infraestrutura e investimento adequado como algumas das causas da questão no interior.
A rotatividade de funcionários na maioria das áreas pode ser considerada uma questão comum, já que as pessoas trocam de ambiente de trabalho por inúmeras razões. Porém, no caso desses dois hospitais, a ocorrência na anestesiologia atingiu todo o funcionamento do atendimento de saúde devido às dificuldades enfrentadas para preencher novamente as vagas.
Atendendo a 22 municípios, o HE, com a aposentadoria de dois docentes preceptores da especialidade, teve como impacto o fechamento da residência e a transferência de seis estudantes. As razões para a situação complicada podem ser consideradas multifatoriais, mas a falta de profissionais no mercado não seria uma delas. A Demografia Médica aponta que os anestesistas representam 20,9% do total da força de trabalho cirúrgica no Brasil, muito próximo da média mundial de 20%. Além disso, ela é a quarta residência mais escolhida pelos discentes.
"Eu diria que não há falta de médico no Brasil, principalmente depois da abertura de novas faculdades. Então, se temos médicos, porque eles se concentram só nas capitais? E por que a maioria das faculdades estão só nas capitais?", questiona o diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), Jedson do Nascimento.
Na visão local
O diretor do Sindicato Médico no Rio Grande do Sul (Simers) em Pelotas discorda de Nascimento. Conforme Marcelo Sclowitz, nos últimos anos houve aumento de hospitais e clínicas privadas que necessitam de anestesistas para funcionar, ocasionando o deslocamento destes profissionais do setor público para o particular. "Como observamos em Pelotas. Isto ocorre por melhor remuneração e melhores condições de trabalho no setor privado", aponta.
Condições de trabalho adequadas
Ainda conforme o gestor da SBA, dentre os fatores discutidos pelos profissionais, o campeão de reclamações é a falta de estrutura adequada para o exercício da anestesiologia, principalmente nos hospitais do interior. "A gente fala de uma sala cirúrgica com monitorização, com leito adequado, com material para realização do ato anestésico adequado", diz Nascimento.
A questão pode ser visualizada em mais um dado da Demografia Médica. Conforme a pesquisa, 60,3% dos profissionais estão nas capitais. Outro elemento que contribui com o quadro é que grande parte das faculdades de Medicina estãonos grandes centros regionais. Como explica Nascimento, os profissionais tendem a permanecer trabalhando nos locais em que se formaram quando há condições adequadas.
"É inadmissível o fechamento de uma residência em uma área no interior carente de profissionais", declara o diretor sobre o fechamento da residência no HE/UFPel. Ele explica que o caso exemplifica a necessidade sobre maiores discussões em torno da fixação de mão de obra e da valorização dos programas de pós-graduação médica. "Infelizmente alguns gestores só entendem a importância das residências quando sentem falta do profissional especialista na área."
Para o Nascimento, entre as necessidades urgentes está a readequação das estratégias de saúde no País. Sendo uma das iniciativas essenciais não apenas a criação de instituições de formação, mas principalmente programas com estrutura adequada para profissionais especialziados. "Se você não investe na mão de obra sucessória, vai faltar futuramente."
Situação no HE e Famed
"As residências são as nossas grandes fortalezas e carros-chefes", declara a diretora da Faculdade de Medicina da UFPel, Julieta Fripp, ao lamentar o fechamento do programa de anestesiologia. A pós-graduação já tinha completado 20 anos de existência antes do seu término.
A diretora explica que medidas estão sendo tomadas para a reabertura da residência até o final do segundo semestre deste ano. Entre elas está a homologação já realizada de um edital para a contratação de dois professores da área para atuação na Famed e outro processo para mais quatro profissionais em dedicação à preceptoria.
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