Análise
Audiência pública debate mineração em Caçapava
Biólogos e comunidade se disseram preocupados. Empresa diz que projeto é seguro
Carlos Queiroz -
A Câmara de Vereadores de Pelotas realizou na tarde da quarta-feira (26) audiência pública para discutir a extração de chumbo, cobre e zinco próximo a Minas do Camaquã, pela Votorantim Metais Holding. A cidade fez parte de um roteiro que visita a diferentes municípios gaúchos, com o intuito de chamar atenção para o projeto de mais de R$ 400 milhões, que pode afetar o ecossistema da Bacia Hidrográfica do Camaquã.
A vereadora Fernanda Miranda (PSOL) conduziu a audiência Mineração no Pampa: impactos socioambientais em Pelotas e região, e destacou que é necessário analisar com mais cautela os impactos do empreendimento Caçapava do Sul, especialmente nos afluentes do rio Camaquã. “É distante, mas reflete na Região Sul”, lembrou.
Um dos convidados foi o diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal (UFPel), professor Althen Teixeira, que se mostrou preocupado com a mineração no Bioma Pampa. Ele apontou algumas incoerências do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) apresentado pela Votorantim, como a forma de reflorestamento apresentada, que utilizaria Acácias e Eucaliptos - espécies estrangeiras, a falta de análise do impacto para algumas espécies animais, como abelhas e pumas, além da exportação da matéria-prima, que não será manufaturada no Brasil, o que diminui a arrecadação. Mas a maior crítica ficou por conta da apresentação que a empresa faz do rio Camaquã como barreira natural, que separaria a área de exploração. “A chance do rio ser poluído é enorme”, afirmou.
O EIA/Rima também foi desaprovado pela bióloga Jaqueline Durigon, professora da Universidade do Rio Grande (Furg). Para ela, a área de abrangência do estudo foi muito pequena, e a falta de planos emergenciais para cenários de acidentes também preocupa. Mesmo que esses pontos fossem revistos, a professora ainda comentou que seria contra a mineração. “Eu quero o desenvolvimento, mas com qualidade de vida e justiça social”, ressaltou Jaqueline.
A pecuarista Clara Vaz, 72, teme que o empreendimento prejudique a agricultura, principal forma de sustento dos moradores de Caçapava do Sul. Ela contou que quando seus pais eram vivos a mineração no município já era associada à diminuição de produção, aos animais doentes e ao aumento de pessoas com doenças pulmonares. Clara entende que a promessa dos 450 empregos é positiva, mas com qualificação de pessoal, a indústria agropecuária também poderia oferecer novos postos, sem a necessidade de grandes danos ambientais.
Procurado pela reportagem, o engenheiro de minas Paul Cezanne, um dos responsáveis pelo projeto, esclareceu que como o empreendimento não terá barragens, não haverá liberação de resíduos no rio Camaquã. “O rejeitos serão empilhados a seco”, informou. Por essa razão a área de abrangência de impactos ambientais foi menor. Até o momento a empresa não recebeu notificações da Fepam sobre esse ponto. Ele também contou que os projetos de recuperação do ambiente pós-extração e reflorestamento serão finalizados em uma próxima etapa, pois o empreendimento ainda está em fase de licença prévia, o que não requer esses detalhes, e pode sofrer mudanças.
O engenheiro informou ainda que em janeiro deste ano a Votorantim recebeu a avaliação da Fepam sobre o EIA/Rima apresentado, em que foram solicitados estudos complementares a fim de atestar a viabilidade ambiental do projeto. A expectativa é de que os novos dados sejam entregues ao órgão em fevereiro de 2018.
A mineração de metais em números
-R$ 371 milhões investidos na etapa inicial
-Minas de três cavas a céu aberto
-Vida útil de 20 anos
-Produção anual de 36 mil toneladas de chumbo contido
-Produção anual de 16 mil toneladas de zinco contido
-Produção anual de cinco mil toneladas de cobre contido
-Ao todo, o depósito mineral possui 29 milhões de toneladas de minério
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