Problema

Bloqueios causados pelos trens seguem sem solução concreta

Apesar de acordo firmado em 2017 entre Prefeitura e concessionária para mitigar o problema, moradores reclamam que problema persiste

Foto: Jô Folha - DP - Passagem dos trens em meio ao bairro Simões Lopes causa transtornos no trânsito do local


De um lado, uma ferrovia que faz parte de Pelotas há mais de um século e integra a logística de escoamento de produção do Estado. De outro, moradores do bairro Simões Lopes que cobram solução aos constantes bloqueios de trânsito causados pela passagem dos trens. Com vagões trancando a circulação nas principais vias da região, não há alternativa de contorno da situação e, dependendo do dia, a espera pode passar de 40 a 50 minutos. O que fica ainda pior quando ocorre em horários de pico, impactando inclusive serviços de emergência.

Longas filas com carros, motos, caminhões carregados e ônibus intermunicipais parados na avenida Brasil em torno das 8h de uma quarta-feira. Assim como na via, ao percorrer outras quatro ruas do entorno do Simões Lopes a situação é semelhante: engarrafamentos e muito tempo de espera para quem precisa se deslocar com objetivo de cumprir os compromissos do dia.

Nas redes sociais, moradores não cansam de expor vídeos e fotos que ilustram a situação, seguidos de textos de indignação devido ao problema recorrente, na tentativa de chamar atenção e uma solução definitiva ser dada. Para quem sai diariamente do bairro, a única opção é contar com a sorte do momento não coincidir com a passagem dos trens.

Com os vagões cortando na passagem pelo Município ruas de grande movimentação como Saturnino de Brito, Tiradentes e Lobo da Costa, o transtorno não é causado somente pela simples passagem pelos trilhos. Há também os momentos em que trens trafegando em direções opostas precisam fazer uma manobra de ultrapassagem. Em razão da ferrovia ser de pista única, um dos comboios precisa parar e aguardar o outro passar para depois seguir o mesmo trajeto. Dinâmica que é mais demorada e amplia os bloqueios de trânsito.

A realidade de quem é prejudicado

O taxista Giovane Dutra trabalha em um ponto no Simões Lopes há sete anos e precisa fazer a rota cortada pelos trilhos todos os dias. Majoritariamente, seus clientes são pessoas idosas que pedem corridas para o deslocamento a consultas médicas. O compromisso que requer pontualidade, muitas vezes é atrasado pela espera no tráfego. "Eu não sou contra ter os trens aqui, mas precisa haver uma solução", pondera.

Ele lembra o episódio que o motivou a expor a indignação e fazer uma publicação nas redes sociais, quando cinco vias que conectam o bairro ao Centro e outras localidades foram interrompidas. "Trancou a Frederico Bastos, a Jornalista Cândido de Melo, a avenida Brasil, a Tiradentes e a Saturnino de Brito", relata. Segundo ele, o transtorno já virou até piada, com comentários do tipo: "os trens ficam mais tempo no Simões que os próprios moradores".

Atendimento de urgência

O bloqueio no trânsito pode ainda acarretar em situações bem mais graves do que um simples atraso. Assim como os demais, os veículos de atendimento à população como o Samu e os Bombeiros também são impactados pelos bloqueios. O taxista conta que já presenciou duas situações em que o serviço foi interrompido. Uma delas teria envolvido um acidente com ciclista e a outra um incêndio na casa de um amigo.

Incômodo de décadas

"É uma demanda de, no mínimo, mais de 20 anos", afirma Robson Gonzales. Morador no Simões Lopes há 34 anos e presidente da Associação de Moradores do bairro, ele ressalta que os trens atrapalham em três horários diferentes do dia: pela manhã, ao meio dia e no final da tarde. "É um dos bairros mais próximos do centro e um trajeto que deveria levar cinco minutos, tu acaba levando 40 porque está parado esperando."

A demora motiva ainda pedestres e ciclistas a enfrentar o perigo de atravessar os trilhos por entre os vagões parados, podendo o trem entrar em movimento a qualquer momento. "Já houve casos de pessoas tentarem pular no meio e o trem andar", conta Gonzales.

Estudo em andamento

Através da Assessoria de Comunicação, a Prefeitura afirma que em 2017 o Município firmou acordo com a Rumo Logística para adoção de medidas de redução do impacto do trânsito dos trens na área urbana da cidade. A partir deste acordo, a concessionária teria adotado o cruzamento de trens fora do horário comercial, pois a passagem para a linha de desvio implica na interrupção da rua Saturnino de Brito.

"Estas medidas reduziram significativamente as queixas em relação a interrupções e, hoje, são raras as reclamações", afirma o assessor especial do gabinete da prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), Luiz van der Laan, responsável por acompanhar as negociações com a Rumo Logística.

Ainda de acordo com a manifestação, em 2021 o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão responsável pela concessão das linhas férreas, contratou através de licitação o Consórcio Entel-TRZE para realizar um Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e Ambiental (EVTEA) que deverá apontar as alternativas para um novo traçado da linha férrea. Este estudo deve ser concluído até julho de 2023.


Concessionária

Já a Rumo Logística afirma que o transporte de cargas por ferrovia funciona 24h por dia e não há horários fixos, sendo a circulação de trens feita conforme os procedimentos de carga e descarga nos terminais e área portuária, entre outros fatores.

A empresa diz ainda que assumiu a concessão em 2015 e que todas as operações seguem as normas regulamentares da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), procurando causar o menor impacto possível à população. Conforme a concessionária, a discussão e execução de eventuais obras para retirada dos trilhos da área urbana ficam a cargo do governo federal, por meio do Dnit.

Já o órgão federal, em nota, afirma estar ciente dos conflitos e realizando estudo para eliminação deste e vários outros conflitos urbanos que existem no âmbito do Estado.

Essencial

O município de Pelotas integra o principal corredor ferroviário de cargas do Estado, que corresponde ao trecho de Cruz Alta até o Porto de Rio Grande, região que concentra o maior volume de produtos captável para ferrovia.

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