Lúdico
Brincar é coisa séria, sim
No dia de às crianças, o Diário Popular fala sobre os benefícios de velhas brincadeiras ao desenvolvimento da gurizada
Jerônimo Gonzalez -
Uma caixinha de fósforos na mão, amigos em volta, a letra da música na ponta da língua e está feita a brincadeira: Escravos de Jó. É o convite, portanto, que o Diário Popular distribui neste 12 de outubro. Anime-se, solte o riso e aceite a provocação: abandone as ferramentas tecnológicas - ao menos por alguns instantes - e mexa-se. Vá brincar. Sim, em grupo e pessoalmente. Não importa a idade. Apenas permita-se. O brincar é muito mais importante do que você imagina.
Quem faz o alerta é a professora do curso de Pedagogia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Luiza Helena da Silveira. Quando está com o corpo em movimento, em saltos, correrias e criações, a criança não está apenas se divertindo. A coordenação motora ampla está em desenvolvimento. E, de novo, não são somente o equilíbrio, a lateralidade e as noções de espaço e tempo que estão em teste. Essas experiências - como na velha Amarelinha - terão reflexos em sala de aula. No aprendizado. No caderno - exemplifica a especialista em Educação e remete ao processo de alfabetização em que os estudantes vivem o desafio de limitar-se à folha e às linhas estreitas para dispor letras e números, em um universo de tantas descobertas.
A capacidade de concentração e o saber ouvir também podem ser estimulados, entre uma gargalhada e outra; ainda que não se perceba. É o que acontece em rodadas de Telefone sem Fio, Estátua, Morto-Vivo... - destaca Luiza Helena. E aproveita para recomendar os pais: "É preciso brincar com as crianças, mas muitos adultos não querem abrir mão do seu tempo e, como é mais prático, os deixam por horas em tablets, computadores e celulares", preocupa-se a professora das disciplinas de Fundamentos e de Metodologia da Educação Infantil.
Socialização em alta
O resgate das brincadeiras antigas começou há um ano e meio, através de atividades do Núcleo de Estudos Tradicionalistas Gaúchos. Hoje, em torno de 10% dos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Frederico Ozanan, nas Três Vendas, participam do projeto. E, o melhor: a gurizada não se envolve só na hora do entretenimento. A programação, em turno inverso, inclui também a confecção dos brinquedos. Um incentivo para ampliar a imaginação e aprimorar a coordenação motora fina.
E as opções para se divertir não param de crescer: Cinco-Marias, Biloquê, Pé-de-lata, Cabra-cega, Jogo da Ferradura, Escravos de Jó, Telefone sem Fio, brincadeiras de corda... E uma certeza: a alegria é garantida. E, na carona, as mudanças de comportamento também começam a ocorrer: "Os professores têm nos relatado uma melhora na disciplina e no rendimento dos alunos que participam do Núcleo", comemora a coordenadora pedagógica, Adriana Esperança.
E, ainda que o espaço físico da instituição seja limitado, a professora Daniele Velleda busca soluções: ora desenvolve o trabalho no pátio, ora os conduz à pequena sala da biblioteca. Nada que impeça a diversão, exatamente como na manhã de terça-feira, quando o Diário Popular esteve na Frederico Ozanan para conhecer o projeto representado pelo sexteto: Rian Ferreira e Geovani Abreu, de 11 anos de idade, Bianca Bugs e Aline Amaral, de nove anos, Laíza Peres, de dez, e João Miguel Collares, 13.
"Tô achando bem mais divertido brincar dessas coisas. Tô ensinando para os meus primos", conta a entusiasmada Bianca. E provoca eco às palavras da mãe Rejane Bugs, 34: "Tomara que dê certo e dure bastante tempo o projeto". Para o aluno do 6º ano, João Miguel, as brincadeiras de corda e o Escravos de Jó se transformaram em convites para deixar o computador um pouco de lado: "Eu ficava horas no computador. Agora saio pra rua para brincar com a vizinhança".
Fique atento
* Através das brincadeiras, a criança ganha a oportunidade de vivenciar situações do cotidiano, compensa circunstâncias da vida real que ainda não pode experimentar (como cozinhar, por exemplo) e descarrega temores - explica a professora do curso de Pedagogia da UCPel, Luiza Helena da Silveira.
* O brincar e suas várias formas deve ser respeitado, conforme a idade:
- Os chamados jogos de exercícios devem ser estimulados entre os bebês. É quando os pequenos imitam quem está a sua frente, brincam de esconde-esconde - sem sair do lugar - e distraem-se com o próprio corpo. "É algo espontâneo, que contribui ao desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor."
- Por volta dos dois anos de idade, o momento é de valorizar os jogos de manipulação que, com peças grandes e de material resistente, incentivam o raciocínio, através das repetidas tentativas de encaixe.
- Em seguida, por volta dos três ou quatro anos de idade, a criatividade está em alta. É quando a gurizada passa a imitar cenas do cotidiano (como o uso de bengalas, por exemplo) e solta a imaginação. Com a maior facilidade, uma banana vira um telefone. Não há limites à proliferação de ideias. "É uma fase de avanços, dos amigos imaginários e muito importante ao desenvolvimento", defende a especialista em Educação. Estão, portanto, extremamente receptivos à contação de histórias, a encenações teatrais e às danças. E vale a ressalva: "A criança tem que ser respeitada na sua fantasia".
- E, conforme avança a idade, seguem as vantagens. Ao movimentar-se em brincadeiras - em grupo ou individualmente - e ao envolver-se em trabalhos manuais, a criança exercita as coordenações motora ampla e fina e, por certo, terá benefícios no processo de aprendizagem.
* Não esqueça: para muitas das velhas brincadeiras não é preciso que a criança esteja ao ar livre. Portanto, o quesito segurança nem sempre precisa aparecer entre seus argumentos para não conseguir tirar o filho da frente das muitas telas e seus apelos virtuais ou não. De fato, mesmo em meio à correria, reserve tempo para colocar-se à disposição e brincar. Experimente. Você também vai se divertir. Aposte nisso!
* Alerta: um bom jeito para atingir equilíbrio e permitir que seu filho divirta-se também com jogos e aparelhos de alta tecnologia é estabelecer limites de horário. Definir o que deve ser prioridade, a cada dia. "É preciso disciplinar o uso. Senão, corre-se o risco de compulsão e de isolamento."
* Cuidado para não cair em uma armadilha cada vez mais comum: preparar os filhos para o futuro sob a lógica da produtividade, de preparação ao mercado de trabalho - enfatiza a professora da UCPel. Fique atento para não sufocar seu filho com uma série de atividades. Não raro, esses muitos compromissos engolem o tempo que a gurizada teria para destinar ao prazeroso brincar. É mais uma das dicas neste Dia da Criança.
Longe das telas... (*)
Amarelinha
Telefone sem Fio
Estátua
Morto-Vivo
Cinco-Marias
Biloquê
Pé-de-lata
Cabra-cega
Jogo da Ferradura
Escravos de Jó
Passa Anel
Ovo-podre
Pega-pega
Esconde-esconde
Brincadeiras de corda
Cabo-de-guerra
Vareta
Pular elástico
Andar de bicicleta, skate, patins, roller...
(*) Experimente deixar um pouco da sofisticação de lado. Para muitas dessas brincadeiras, não é preciso muito mais do que boa vontade e criatividade
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