Salvando vidas

Cada segundo vale: um dia de trabalho no Samu

DP acompanha rotina dos profissionais, da chamada ao telefone até o atendimento dos pacientes

Foto: Carlos Queiroz - DP - Samu de Pelotas recebe em média 11 mil ligações

O telefone chama. Do outro lado, é alguém em um momento de tensão. Nesse instante, o profissional do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) inicia uma triagem, enquanto busca acalmar a pessoa, naturalmente nervosa, já que encontra-se em um momento de emergência de saúde. Esse minuto é crucial, já que a partir dessas informações todo o restante do atendimento será definido. O próximo passo é falar com um médico, que fará a avaliação prévia e deslocará a equipe que melhor se encaixa nesse tipo de ocorrência. A partir daí, outra maratona começa: chegar rapidamente no local. Cada segundo conta.

O Diário Popular passou uma tarde com a equipe do Samu ouvindo relatos de profissionais e acompanhando os atendimentos. A coordenadora da regional de Pelotas, Sabrina Lima, aponta que, com as denúncias de irregularidades no trabalho de médicos na rede Samu RS, reveladas na última semana, a atenção foi redobrada para prestar um serviço que não gere dúvidas na população. As equipes são formadas por profissionais variados, sempre com três médicos por plantão. Um atuando na cobertura dos pacientes e dois na triagem. Há 18 anos em Pelotas, o Samu recebe, em média, 11 mil ligações, contando toda a região que envolve outros 11 municípios da Zona Sul, cada um com ambulância e profissionais próprios.

A equipe tem uma central de regulação de urgências, que é onde entram as ligações do 192. Fazer essa ficha é fundamental para o atendimento ser bem direcionado, ressalta Sabrina. Desde as ações médicas até o deslocamento do veículo. No contato com o médico, há orientação e a definição se é urgência ou emergência. Se é preciso disparar uma ambulância, é feito o contato com o radioperador. Em Pelotas, são três básicas, uma avançada e duas motolâncias, além do serviço de transporte - a ambulância branca, que faz transportes de baixa complexidade, que consiste em troca de sondas, diálise, entre outros. Os outros 11 municípios - São José do Norte, Arroio Grande, Jaguarão, Santa Vitória do Palmar, Pinheiro Machado, São Lourenço do Sul, Herval, Capão do Leão, Piratini, Canguçu e Santana da Boa Vista - têm uma ambulância cada. No total, são mais de 600 mil pessoas atendidas.


Trabalho de empatia

"Se a pessoa liga para cá, ela entende que precisa de uma ambulância, mesmo que não seja, depois de uma avaliação, um risco de vida", ressalta Sabrina. Por isso, o trabalho da assistente social Marília Pinheiro destaca que as equipes são treinadas para tranquilizar os pacientes. Além disso, é feita articulação junto ao restante da rede pública para outras necessidades percebidas pelos profissionais, considerando que o Samu é a ponta de um serviço. "A gente tinha uns pacientes crônicos. Com esse olhar diferente, a gente conseguiu cessar esse problema", diz o motorista de uma das motolâncias, Vinícius Santos.

Outro trabalho feito pelos profissionais é o treinamento para primeiros socorros e demais atendimentos, como a manobra de Heimlich, que ajuda a desengasgar crianças. Ano passado, por exemplo, mais de mil professores da rede municipal passaram por uma atividade desse tipo. Na última semana, com o aniversário do Samu, uma blitz educativa na avenida Bento Gonçalves e atividade educativa no Calçadão foram feitos.


Trotes

Desde casos de pacientes que costumam ligar por questões como falta de medicamentos ou mesmo solidão, até os clássicos trotes, houve uma queda nessa incidência, segundo Sabrina, pelo fim do uso de orelhões. No entanto, esses telefones ainda são as principais fontes de ligações desnecessárias - uma média de seis por dia, mas que, por exemplo, na última terça-feira, chegou a 14. Já aconteceu até de uma ambulância ser deslocada à Sanga Funda - um dos bairros mais distantes da Central - para atendimento que não existia.


As ambulâncias dão conta?

Segundo Sabrina, a quantidade de veículos hoje está dentro da demanda necessária de acordo com portarias do Ministério da Saúde. O mesmo vale para o número de profissionais. Ela relata que já aconteceu de todas as ambulâncias estarem em atendimento ao mesmo tempo, mas não é comum. O deslocamento é feito para a UPA Areal, Pronto-Socorro ou, em casos de traumatologia apenas com fratura, sem outras lesões, Santa Casa de Misericórdia. Os momentos de maior demanda são em horários de pico, devido ao trânsito. Já os atendimentos, em sua maioria, acabam sendo em relação a colisões de trânsito.


Atendimento com uma equipe

Logo após receber o chamado telefônico, uma ambulância básica pilotada por Leandro Godinho saiu da base da Samu, que fica na avenida Bento Gonçalves, rumo à região do Porto. O trajeto, que deveria ser rápido, demorou um pouco mais pois, inacreditavelmente, por quatro vezes o veículo, mesmo com as sirenes ligadas, teve o caminho cortado por outros carros e não recebeu licença de alguns condutores. Na avenida Bento Gonçalves, com Santa Tecla, quase todos deram licença. A exceção foi um motorista que manteve-se parado e trancou o caminho por cerca de um minuto. Já na rua General Deodoro, aproveitando a deixa do caminho livre, uma caminhonete atravessou na frente da ambulância para obter vantagem no trânsito. Segundo o motorista, que atua há oito anos no Samu, há dias que são 14 atendimentos e o trânsito é sempre uma incógnita, com o desrespeito sendo uma constante. Ele também é técnico em Enfermagem e ajuda nos atendimentos.


No local do socorro, uma crise de fibromialgia já era atendida por uma motolância. Junto a Godinho, a técnica Danatieli Ulguim prestou o primeiro socorro a uma jovem mulher, sempre em contato com o médico na base, para decidir quais medicamentos seriam aplicados. O caso foi atenuado e a paciente, nervosa, foi conduzida à UPA do Areal, conforme orientação médica via smartphone que conecta a equipe na rua com os profissionais na central. A ambulância voltou à Central, mas não por muito tempo. Em breve já havia outra chamada.


Entenda a distribuição de ambulâncias

Ambulância avançada (um médico, um enfermeiro e o condutor) - Casos extremos, de urgência, além de óbitos, UTI móvel, transportes que precisem de UTI, transportes de até 200 quilômetros, etc.

Ambulância básica (técnico em Enfermagem e condutor) - Casos de emergência.

Motolância (composta por enfermeiro ou técnico em Enfermagem, com curso preparatório para pilotagem) - Faz verificação inicial ou atendimentos básicos, como hipoglicemia.


Atendimentos em julho de 2023

0,8% - Socorro obstétrico
0,9% - Transporte traumático
0,9% - Outros
7,2% - Socorro psiquiátrico (104 casos)
15,9% - Transporte clínico (229 casos)
17,9% - Socorro traumático (257 casos)
56,4% - Socorro clínico (812 casos)

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