Cidade

Caminhos que desagradam usuários

Insatisfeitos com as mudanças nos itinerários de quatro linhas do transporte coletivo, parcela da população pede explicações e volta do antigo trajeto

Carlos Queiroz -

Mudanças no itinerário das linhas Benjamin/Cohabpel, Navegantes/Cohabpel, Navegantes/Assis Brasil e Rodoviária, substituídas por Anglo/Cohabpel, Balsa/Centro, Navegantes e Rodoviária, sem consulta prévia provocam contrariedade entre parcela da população atingida pela medida.

Foi o que se constatou durante audiência pública realizada no fim da tarde desta terça-feira (21) no plenário da Câmara de Vereadores de Pelotas. O local esteve lotado pelos usuários do serviço, que não pouparam manifestações de descontentamento diante das alterações. Mais de 200 pessoas cobraram do secretário de Transportes e Trânsito (SMTT), Flávio Al Alam, a volta das antigas linhas. 

Foi a primeira grande mobilização de protesto contra o serviço desde a implantação do novo sistema de transporte coletivo, em vigor desde 31 de julho de 2016, após um demorado processo de licitação. Bombardeado por reclamações e questionamentos, o gestor da SMTT defendeu a medida: “O mês de fevereiro está servindo como teste para, no início de março, a Secretaria tomar a decisão se continua ou não com as novas linhas”.

A audiência foi proposta pelo vereador Marcus Cunha (PDT), depois de ter recebido diversas críticas da população sobre os novos itinerários. O Consórcio de Transporte Público de Pelotas (CTCP) completou seis meses de atividades no final de janeiro. De lá para cá, transportou 17,7 milhões de passageiros.
Atualmente, cerca de 110 mil pessoas utilizam a bilhetagem eletrônica, de acordo com dados do CTCP.

Nestes seis meses, as únicas linhas que sofreram alterações foram as que antes faziam os trajetos da empresa Santa Rosa. Estiveram na audiência, além de parcela de usuários do serviço de transporte, integrantes de associações de moradores dos bairros Porto, Osório, Ceval, Barão de Mauá, Balsa, Guabiroba, Cohabpel e Ambrósio Perret, além de estudantes de instituições de ensino afetadas pela mudança. A indignação era unânime, especialmente em relação às mudanças sem aviso ou consulta prévia com os usuários.

O estudante de Gestão Pública, da UFPel, Vitor Silveira, cobrou explicações do secretário sobre como a decisão foi tomada. “Qual a diferença dos moradores destes bairros com os do Laranjal? Lá está sendo feita uma consulta sobre o melhor local para uma ciclovia e sobre os ônibus ninguém foi ouvido”. Simone Lessa, moradora do bairro Navegantes II, pediu aos vereadores que seja revogada a lei que permite as mudanças de itinerários sem consulta prévia. De acordo com o contrato, firmado entre o Poder Executivo e a concessionária, as implementações e extinções de linhas são responsabilidade da prefeitura.

Menos passageiros
De acordo com Enoc Guimarães, secretário-executivo da CTCP, o contrato previa uma média de 2,1 milhões de passageiros equivalentes (soma de todas as categorias dividida pela tarifa) por mês. Entretanto, a média, entre agosto e janeiro, é de 1,9 milhão - cerca de 10% a menos. Com a baixa nos números, mudanças foram propostas pela Secretaria de Transportes e Trânsito (STT). “Busca o reequilíbrio do contrato”, explica Enoc. Entretanto, este enxugamento dos serviços tem causado muito transtorno para moradores destes bairros. As seis empresas vencedoras da licitação estão organizadas em um consórcio, e o contrato de concessão tem prazo de 15 anos, renováveis por mais dez. Atualmente, o CTCP conta com 210 ônibus urbanos e 12 micro-ônibus. Enoc não compareceu à audiência, justificando não estar na cidade.

Um mar de reclamações
Morador do bairro Porto, Luciano Barbosa lembrou que a antiga linha Benjamin/Cohabpel, por exemplo, ligava 15 instituições de ensino e quatro hospitais. Maria de Fátima, moradora do Fátima, sofreu um derrame cerebral e hoje caminha com dificuldade, apoiando-se em muletas. Com 46 anos, ela acaba de ingressar no curso de Enfermagem, na UFPel. Para chegar ao Anglo, local do curso, serão necessários dois ônibus, além de precisar caminhar algumas quadras à noite. “Se eu preciso me deslocar quatro quadras, no dia seguinte não consigo caminhar”, contou no microfone Maria de Fátima. Outra região afetada pela mudança foi a Cohabpel.

A estudante Bruna Alvariza, representante do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual Félix da Cunha, reclamou do itinerário da linha Balsa/Centro, único que passa em frente à escola. Com aulas à noite, estudantes temem a falta de segurança da região, somada à necessidade de pegar outro ônibus, uma vez que a linha chega apenas até o Mercado Central. Professora da escola e moradora da Cohabpel, Raquel Zaffalon disse que ninguém do condomínio foi consultado. “A maioria dos moradores da Cohabpel é de idosos ou estudantes, alvo principal de assaltantes”, comentou a professora. Mesmo com a possibilidade de integração tarifária para passageiros com cartão, que cobra apenas uma passagem quando o usuário toma dois ônibus no mesmo sentido, como é o caso de estudantes, a segurança preocupa quem utiliza o transporte no período noturno.

Ainda sem decisão
Para o titular da STT, Flávio Al Alam, as mudanças destes itinerários atendem a demandas da população de se locomover no sentido bairro-Centro. Ele também alegou que houve aumento de 25% em disponibilidade de horários, o que foi muito contestado por usuários, principalmente da linha Balsa/Centro, os quais relataram esperar até 40 minutos pela chegada de um ônibus. Conforme o gestor, o momento é de análise, de observar o comportamento das mudanças implementadas, para então decidir o futuro das linhas. Segundo Al Alam, as mudanças estavam sendo estudadas desde outubro do ano passado. “Hoje a prefeitura tem o controle sobre as linhas”, esclareceu o secretário a respeito dos mecanismos de fiscalização, como GPS e câmeras internas. Diversos participantes relataram ter entregue abaixo-assinados para a Secretaria, pedindo a volta das antigas linhas. Perguntado pela reportagem sobre a existência de manifestações positivas, Al Alam comentou que esta parcela, contente com a mudança, não costuma se manifestar.

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