Transtornos
Centenas de famílias deixam suas casas após enchentes na Zona Sul
Cerrito e Pedro Osório têm o maior número de desabrigados com suba do Rio Piratini, com mais de 500 famílias atingidas
Foto: Carlos Queiroz - DP - Na Vila Farroupilha, moradores tiraram pertences e levantaram móveis para tentar salvar alguma coisa
Por Cíntia Piegas e Vitória de Góes
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As chuvas que atingiram a região entre a madrugada de quinta e sexta-feira causaram transtornos para os moradores de diversas localidades. Em 24 horas foram 140,1 milímetros de chuva em Pelotas, segundo a Estação do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), e 165 milímetros no Arroio Moreira, conforme informou o Sanep. Ao todo, 12 famílias estão desalojadas e uma desabrigada.
Um dos locais mais atingidos foi a Vila Farroupilha. A água invadiu inúmeras residências e até a tarde desta sexta ainda havia água acumulada em várias ruas. Na Adalberto Guerra Duval, por exemplo, a família de Gabriel Santos precisou sair de casa e se abrigar na residência de um vizinho. A água, que passava do joelho, tomou todos os cômodos. Alguns móveis foram erguidos para evitar estragos, mas o transtorno é imenso.
Dentro do local, ele mostrava a situação, apreensivo. “Tá tudo levantado, só deu tempo de subir as coisas e não deu tempo de mexer em mais nada, subiu muito rápido”, diz. Ele conta que a família mora há 12 anos em Pelotas e nunca tinha passado por esse problema.
Logo ao lado, na rua Bernardo de Souza, não é a primeira vez que a dona Dilma Dias, vê a água invadir a sua casa. Aos 85 anos ela, que mora há 36 anos no mesmo local, já passou pelo transtorno ao menos quatro vezes. “A gente levanta as coisas, a cama, está tudo pra cima. Mas estando com saúde e não acontecendo nada pior é o que importa”, relata a moradora que vive com o filho e o neto.
A maioria dos vizinhos mais antigos relatam que a última vez em que a água subiu tanto foi há mais de dez anos. Eles ainda dizem que a causa do problema, além do alto volume de chuva dos últimos dias, pode ser as obras de pavimentação no entorno das ruas citadas, que reduziram a altura da via e acumularam materiais de construção que obstruíram a passagem da água. “Lá embaixo, na Vila Farroupilha, sempre encheu. Mas agora com essas obras que estão realizando aí ficou tudo embaixo d’água”, diz Cristiano Bastos, que tirava a sujeira acumulada dentro da casa da irmã após o recuo do alagamento.
Pela cidade, mais transtornos
Ainda na quinta-feira à noite o Pontal da Barra, no Laranjal, ficou totalmente alagado, pois contou, além da chuva, com a posição do vento que fez subir a água da Lagoa e invadir a estrada que dá acesso à comunidade. A avenida Augusto Assumpção com a Espírito Santo também ficou tomada pela água e um carro acabou caindo no canal. Além disso, o canal do Pepino transbordou e a avenida Juscelino Kubitschek ficou totalmente alagada.
Já na manhã de sexta, na estrada do Pontal, uma máquina fez o patrolamento na via. No entanto, com a areia fina sobre o solo encharcado, veículos que passavam pelo local corriam o risco de atolar. Na comunidade de cerca de 50 moradores, a manhã foi de alívio pela água não ter invadido, mas ao mesmo tempo não escondiam o descontentamento de ficar 24 horas sem estrada. “Só dava para passar a pé ou de barco”, disse a pescadora Natali Escouto Nobre Sanches, 39.
O motoboy Eliezer Kiesow, 30 anos, compartilha da mesma indignação: a retirada das pedras de contenção da Lagoa. “É um absurdo toda vez que chove termos que passar por essa situação”, dispara o entregador.
De acordo com o coordenador regional da Defesa Civil, tenente-coronel Marcio André Facin, das 12 famílias desalojadas, oito delas tiveram o auxílio das equipes para saírem das residências, em Pelotas. Elas foram para residências de amigos e parentes e por isso são consideradas desalojadas. Em alguns casos, assim que as águas baixaram, elas retornaram às suas residências. A chuva parou por volta de 2h desta sexta. “De forma geral, a região toda vem sofrendo muito com esse cenário de chuvas intensas. Nós tivemos um encharcamento muito significativo ao longo do dia, o que demanda nossa atenção”, comentou.
Pedro Osório e Cerrito são as mais atingidas
Após subir mais de 14 metros, a cheia do rio Piratini atingiu as cidades de Pedro Osório e Cerrito, deixando mais de 200 famílias desabrigadas - cerca de 500 pessoas. Caminhões das prefeituras e do Exército retiraram moradores dos locais mais alagados. A ponte entre os dois municípios precisou ser interditada por medida de segurança no tráfego. Esta é a maior enchente desde 1992 na região.
Em Pedro Osório, os locais mais atingidos foram em torno do colégio Sagrado Coração de Jesus, nas proximidades dos trilhos e na costa do bairro Santa Tereza. Quem ficou desabrigado foi encaminhado para casa de familiares ou para o alojamento montado pela Prefeitura no Salão Paroquial do Município. Durante a sexta, oito caminhões-pipa foram deslocados pela Corsan para atender as duas cidades, que tiveram interrupção de abastecimento em decorrência da falta de energia elétrica.
No fim do dia, a Defesa Civil informou que o Rio Piratini começou a dar os primeiros sinais de que as águas estavam baixando. “Pela primeira vez nota-se uma baixa considerável, tanto pelo lado de Pedro Osório, quanto pelo lado de Cerrito”, disse o tenente-coronel Marcio Facin.
Confira a situação em mais municípios
Capão do Leão:
Na manhã de sexta-feira o Corpo de Bombeiros auxiliou uma senhora a sair de sua residência.
Herval:
A Defesa Civil de Herval está de prontidão e monitorando a situação. Algumas estradas e pontes estão interditadas, sem a passagem de veículos, como a entrada do Passo dos Vimes, XV de Outubro, Marco Geral, Mingote, Passo do Veado, Bamburral, Passo d’Areia e Jaguarão Chico. Algumas famílias estão sendo atendidas pelas equipes da Secretaria de Obras e de Assistência Social. Cerca de 800 clientes da CEEE Equatorial estavam sem energia até o fim do dia.
Canguçu:
A Defesa Civil de Canguçu monitora as consequências das chuvas intensas. Algumas estradas e pontes estão interditadas.
Rio Grande:
Famílias com residências próximo ao arroio das Cabeças precisaram ser retiradas pelas equipes da Defesa Civil Municipal, a Vila da Quinta foi a mais atingida.
Jaguarão:
Até o fim da sexta-feira o nível do rio Jaguarão continuava subindo, por isso, famílias estão sendo retiradas das casas que ficam à margem. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação está prestando assistência fornecendo roupas, alimentação e abrigo. O Ginásio Henrikão foi disponibilizado pelo Município como ponto de apoio para as famílias desabrigadas.
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