Saúde mental
Crescimento de ansiedade e depressão acomete estudantes do ensino superior
Universitários apresentam 7% mais sintomas de ansiedade do que comunidade em geral; condição é apontada também como maior prevalência em alunos de Pelotas
Foto: Marcelo Camargo - ABr - A prevalência de ansiedade em universitários é de 32.29%
No mês dedicado à prevenção do suicídio e a promoção da saúde mental, dados apontam que o crescimento da incidência de condições mentais vem atingindo a população em geral, mas principalmente uma parte específica da sociedade: estudantes do ensino superior. Uma pesquisa recente com os alunos do Estado apontou que a ansiedade é a doença com maior prevalência neste grupo, sendo 33,2% dos participantes acometidos. Em comparação com o restante da população, a incidência é de 25,6%. Além disso, os sintomas permanecem mais elevados em mulheres. Quadro que não é diferente nas instituições de ensino de Pelotas.
“Penso em desistir. Faltariam dez cadeiras, mas não aguento mais”. O relato da estudante de Biologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Júlia Oliveira, é fruto da exaustão causada pela necessidade de lidar com a pressão acadêmica juntamente com os sintomas da ansiedade e depressão. Ela conta que as questões da vida estudantil, como o longo deslocamento que tem que realizar diariamente até o Capão do Leão, assim como o acúmulo de trabalhos e provas foi o que desencadeou o seu quadro de ansiedade. “Sempre me sentindo incapaz de dar conta de tudo. Só o estresse do deslocamento é absurdo”, diz ao contar que ainda não sabe se retornará ao curso.
O caso de Júlia é apenas um de inúmeros outros espalhados pelas instituições de ensino do Município e da região. A Psicóloga do Departamento de Gestão de Assistência Estudantil da Pró-reitoria de Ensino do IFSul, Liliane Ores, diz que a procura pelo atendimento de saúde é constantemente alta. Atendendo a cinco campi do instituto, a profissional elenca as mesmas principais prevalências entre os alunos: ansiedade e depressão. “A maior parte da procura é em relação a transtornos de ansiedade e tem um rol bem amplo, pode ser síndrome do pânico e crises de ansiedade”, diz.
Em alguns estudantes os sintomas de ansiedade eram tão intensos que eles chegavam aos atendimentos de saúde com falta de ar. “Achavam que estavam com Covid, mas estavam ansiosos e isso se estendeu, a gente ainda vê resquícios desse adoecimento”, explica Liliane. Já entre os estudantes com depressão, as manifestações mais comuns são a tristeza constante, irritabilidade e automutilação. “Muitos alunos apresentam esses sintomas, são as três coisas mais frequentes”.
Consequências da pandemia
Além dos desafios do isolamento social e da retomada da rotina acadêmica de modo presencial, a psicóloga explica que um fator que tem desencadeado condições mentais em estudantes é o socioeconômico. “São inúmeros alunos que precisaram trabalhar para ajudar no sustento da família, que antes não precisaria”, conta.
Com mais de 13.700 participantes, a coorte Pampa, estudo da UFPel sobre a saúde mental dos habitantes do Rio Grande do Sul durante e após a pandemia, revelou que em 2020 os sintomas de ansiedade aumentaram mais de sete vezes e os de depressão em mais de seis vezes. Quadro que, mesmo com o fim do isolamento social, sofreu apenas uma leve redução. Outra questão que a pesquisa demonstra é que os sintomas permaneceram mais elevados entre as mulheres do que em relação aos homens.
Atendimento na UFPel
O Núcleo Psicopedagógico de Apoio ao Discente oferece ações de prevenção e acolhimento em saúde mental aos estudantes universitários. Entre as ações está a realização de grupos terapêuticos temáticos que contam com a facilitação de estudantes do curso de Psicologia entre outros coletivos como Canal Conta Comigo do Grupo e a Clínica Feminista Antirracista.
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