Pobreza menstrual

Cufa cadastra mulheres de baixa renda para receberem absorventes

Ação aconteceu na sede da Central Única das Favelas, no Navegantes, e pode beneficiar até 50 pessoas

Carlos Queiroz -

Na tarde desta quarta-feira (20), a Central Única das Favelas (Cufa) de Pelotas, juntamente com o projeto Sobre Nós, recebeu em sua sede, no bairro Navegantes, mulheres e meninas de baixa renda de diferentes bairros do municípios. O objetivo é cadastrá-las para que possam receber regularmente, todo mês, absorventes de forma gratuita. A iniciativa pretende, através da entrega dos itens, combater a pobreza menstrual em Pelotas.

A parceria entre a Cufa e o Sobre Nós surgiu há pouco tempo. A ideia é doar mensalmente o item de higiene a mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade. Uma das representantes do projeto, Priscila Medeiros, explica que o Sobre Nós é uma iniciativa nacional que começou nas capitais e agora está iniciando os trabalhos no interior. "Desde que chegamos em Pelotas já realizamos atividades no Instituto de Menores. Também estamos à procura de voluntárias que queiram fazer parte, doando itens. Como é um projeto sem fins lucrativos, a gente também depende da contribuição das pessoas", aponta.

Durante a tarde de sol de quarta-feira, os grupos receberam as mulheres e fizeram o cadastro de todas para ter um maior controle sobre as necessidades do público no município. "Nós chamamos mulheres que nós já atendemos. Também colocamos nas nossas redes sociais para que mais pessoas pudessem saber da iniciativa. A ideia é que, ao todo, sejam cadastradas 50 meninas e mulheres, mas nós entendemos que, por ser dia de semana, muitas não conseguiram vir. Por isso, quando formos entregar os primeiros itens, nós já iremos fazer mais cadastros", pontua a coordenadora do Maria Maria (repartição da Cufa), Michele da Silva.

Os absorventes que serão entregues mensalmente às cadastradas são oriundos de doações e compras por parte das voluntárias do projeto Sobre Nós. Uma das pessoas que realizou o seu cadastro durante a tarde - e que preferiu não ser identificada - conta que a sua relação com a menstruação nem sempre é fácil. "Tenho muitas dores de cabeça e fico inchada. Às vezes pega a gente desprevenida e a gente dá um jeito, mas esse mês, por exemplo, foi difícil. Tive que me virar para conseguir", relata. "Essa ajuda é muito bem-vinda. Vai ser um peso que vai sair das costas", completa.

Outra mulher, que também preferiu não ter o nome divulgado, aponta que a entrega dos absorventes veio em boa hora. Para ela, o período menstrual também não é fácil. "Eu fico uma semana com dores e inchaço, até chegar a menstruação, que muitas vezes vem desregulada. Eu preciso muito, meu marido está desempregado. Tenho uma menina de 16 anos, então somos duas, é tudo dobrado. Vai ser um gasto a menos, um dinheiro que eu vou poder usar para outras despesas. Por exemplo, eu tenho um menino de quatro anos que bebe muito leite, e olha o preço que está", desabafa.

Ainda não há uma definição da data em que será realizada a primeira entrega dos itens à comunidade. O cadastro está aberto a mulheres de baixa renda de todo o município e pode ser feito na sede da Cufa, que fica no Passeio I, 511, no bairro Navegantes. É possível entrar em contato e obter mais informações pelo telefone (53) 98429-3060, ou pelas redes sociais (Facebook e Instagram) no @cufapelotas.rs.

Outras iniciativas sobre o tema

Desde o ano passado, Pelotas contou com algumas iniciativas para debater e combater a pobreza menstrual no município. Uma delas foi a "Eu menstruo". Realizada pela prefeitura, em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e o projeto Mais Juntas, entre os meses de agosto e dezembro do ano passado a ação arrecadou absorventes em diversos pontos, comércios e organizações da cidade.

Ao total, foram arrecadadas 23,1 mil unidades do item, distribuídas da seguinte forma: 1.960 absorventes para a Rede de Assistência Social, que inclui serviços como o Centro da Mulher, Centro Pop, Cadastro Único, Casa Luciety, Plantão Social e Casa de Passagem; 7.620 para a Secretaria de Saúde (SMS), entregues pela Rede das Equidades, que trabalha com o público em situação de rua; e 13.530 para a Secretaria de Educação e Desporto (Smed), para escolas municipais.

Já a lei municipal 6.961, de criação do vereador Paulo Coitinho (Cidadania), que estabelece a entrega de absorventes a mulheres de baixa renda, ainda não está em vigor. Na última vez em que o Diário Popular conversou com a assessoria do parlamentar, o Programa de Conscientização sobre Menstruação dependia da liberação de uma emenda da deputada Any Ortiz, do mesmo partido. Agora, a questão é que a verba foi liberada, mas, segundo Coitinho, de forma errada, o que acabou impedindo o uso para o decreto. O município irá aplicar o recurso de outra forma.

Com a mudança, será necessário buscar uma nova emenda para dar seguimento ao trabalho. Apesar disso, o vereador explica que está em busca de parceiros para que o projeto saia do papel. "Nós já estamos conversando com uma rede de farmácias de Pelotas, que irá trabalhar juntamente com o projeto. Outra ideia que queremos levar à frente é a de tentar fazer uma parceria com o governo do Estado, pela qual os absorventes distribuídos seriam feitos através da mão de obra prisional", anseia Coitinho.

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