Vigilância
Cuidados redobrados com a gripe aviária
Com casos na Argentina e no Uruguai, Brasil reforça status de vigilância para evitar contaminações, em especial nas regiões de fronteira
Foto: Divulgação - Governo do Uruguai - Uruguai está em situação de emergência devido a confirmação de casos em aves silvestres
Por Lucas Kurz
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Os casos de gripe aviária vêm crescendo no Mercosul. Com os vizinhos Uruguai e Argentina em situação de emergência após confirmação de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP - vírus H5N1) em aves silvestres dos dois países, o Brasil reforçou seu status de vigilância mesmo não tendo, até o momento, sequer suspeitas de casos. Na Zona Sul, pelo alto índice de aves migratórias, existência de criadouros e proximidade dos departamentos uruguaios de Rocha e Maldonado, com mortes de cisnes-de-pescoço-preto relatadas, a sensação é de preocupação.
O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Carlos Fávaro garantiu que o País segue livre da doença. Para tentar manter esse status, disse que o governo irá reforçar medidas preventivas, redobrando a vigilância nas fronteiras. Ele também cobrou vigilância passiva, com comunicação entre produtores e criadores para identificar cedo qualquer caso suspeito. A doença é uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida para humanos. Fávaro, no entanto, descartou a possibilidade de infecção pelo consumo de carne ou ovos.
No Rio Grande do Sul, a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) emitiu nota dizendo que também monitora os casos. "O Serviço Veterinário Oficial (SVO), que engloba representantes do Ministério da Agricultura e órgão estaduais, atua em atividades de vigilância e mitigação de riscos para comprovar a ausência de circulação viral através do atendimento e investigação de todas notificações recebidas em aves, seja na avicultura industrial como nas criações de subsistência e em aves silvestres de vida livre", diz trecho do texto. A nota também afirma que o Departamento de Vigilância e Defesa Sanitária Animal da Seapi está alinhado com as estratégias de vigilância em influenza aviária desde o início das ocorrências, tendo reforçado ações preventivas.
Preocupação entre criadores
A Rede de Aves Livres de Gaiolas diz, através do seu gestor, Telmo Lena, que o grupo vem seguindo a orientação do Comitê de Sanidade Avícola Brasileiro, que sugere o isolamento dos animais. A rede comporta 11 estabelecimentos em Pelotas, Canguçu, Morro Redondo e Feliz. "É um assunto muito sério. O pessoal está bem apreensivo", relata. Ele aponta que o Brasil, por ser um dos líderes de exportação de carne aviária, precisa manter-se em alerta para sustentar sua soberania. Segundo Lena, os produtores residenciais das áreas de fronteira devem redobrar os cuidados. Os itens de biossanidade e as barreiras sanitárias também devem ser reforçados, segundo a orientação do coletivo. Ele cobra, ainda, controle estatal quanto às aves em estabelecimento de regiões de fronteira.
Em Pelotas, o diretor executivo da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Romualdo Cunha, afirma que o Município mantém contato com a Organização Avícola do Estado do Rio Grande do Sul, entidade que tem realizado o acompanhamento do quadro da Influenza Aviária no Uruguai e aguarda orientação do governo do Estado e do Ministério da Agricultura sobre possíveis ações.
No Taim, preocupação com a informação
Em conversa com o Diário Popular, o analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), gestor da Reserva Ecológica do Taim, Magnus Machado Severo, diz que desde o ano passado medidas preventivas são tomadas na região, que costuma receber aves migratórias. Hoje pela manhã uma reunião com várias estâncias de proteção será feita para alinhar a atuação de cada órgão e nivelar as medidas. Ele explica que o SVO é o órgão à frente de tudo.
Segundo Severo, o principal sintoma visual para identificar a doença em aves são problemas neurológicos, como não conseguir voar e sustentar a cabeça, além de ter desequilíbrios. Sendo possível, ele pede que a população registre esse evento com imagens, coordenadas geográficas, identificando as espécies e sua quantidade, passando as informações ao ICMBio, mas sempre mantendo distância segura.
O analista reforça a preocupação quanto à violência direcionada a animais silvestres devido à falta de informação ou preocupação excessiva. Ele diz que que a evolução da emergência sanitária está sendo acompanhada por órgãos responsáveis, que saberão lidar com o tema. "A gente tem que cuidar para não ser alarmista e informar também que as pessoas não devem fazer nenhum procedimento em relação às aves." Ele diz que os animais sem sintomas provavelmente não devem ter a doença, embora haja casos assintomáticos em que a ave é apenas portadora.
Orientações
Médica veterinária e professora da disciplina de Avicultura do Campus Visconde da Graça (CaVG) do Instituto Federal Sul-Rio Grandense (IFSul), Fabiane Gentilini diz que a grande preocupação na região é em relação aos pequenos produtores, que tendem a criar as aves em um sistema colonial, soltas. "Ele acaba tendo a possibilidade de ter contato com aves silvestres", explica. A escala industrial abrange mais regiões do centro e norte do Estado, mas estes animais tendem a estar mais isolados e com medidas sanitárias reforçadas. Ela diz que, na Zona Sul, a presença de aves migratórias que passam pelo Taim trazem maior necessidade de atenção.
A professora aponta que o controle dos órgãos de proteção se tornará mais rigoroso a partir de agora. Já para quem possui aves domésticas, indica que o comportamento deve ser observado. "A influenza aviária se caracteriza por uma doença do sistema respiratório. Muitas vezes a gente observa a dificuldade de respirar do animal, o comportamento em si da ave muda", sugere, lembrando que a doença é de propagação rápida e, por isso, o olhar tem que ser ainda mais atento. Já em humanos, aponta que a sintomatologia gripal deve ser observada. Ela diz que o consumo de aves infectadas acaba sendo raro, já que há sinais claros em ovos e na carne de que o animal estava doente.
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