Navegação

Dedicação por uma hidrovia mais segura

Balizador Benjamin Constant passou os últimos seis meses em Pelotas dando manutenção à rota da Lagoa dos Patos e arredores

Foto: Volmer Perez - DP - Embarcação fez serviços como troca de boias, correntes e lanternas

Por Lucas Kurz
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O barco balizador Benjamin Constant se despede de Pelotas nesta quarta (21). Mas logo volta. A embarcação, que faz manutenção da hidrovia da Lagoa dos Patos, estava baseada no Porto de Pelotas durante os últimos seis meses e segue agora para Porto Alegre, devendo retornar no início de 2023. Nestas operações, fez serviços como troca de boias, correntes e lanternas, tudo para dar maior segurança a quem navega pelas águas gaúchas.

O trabalho é constante e há necessidade de alerta contínuo. São mais de 240 boias, sendo 140 só no trecho da lagoa entre Pelotas, Rio Grande e Canal São Gonçalo. A tripulação, composta por dez homens, é comandada pelo mestre fluvial Luiz Carlos Quevedo Pereira. Ele explica que as boias são posicionadas de sete em sete milhas (a cada 11,2 quilômetros) e precisam de manutenção permanente, já que, por exemplo, as luzes não podem estar nem muito fortes, nem muito fracas: devem estar em um tom exato para ser vista da boia anterior a olho nu à noite, servindo como um guia de distância e direção.

Por isso, há manutenção preventiva uma vez por mês. A equipe vai, de dia, checando se as boias estão bem posicionadas e na volta, à noite, verificando suas lanternas. Mas isso é apenas parte do trabalho, que consiste em demarcar espaços em que a calagem (profundidade da lagoa) está baixa, em que há algum problema, onde houve um acidente, entre diversas outras funções. Ou seja, é um monitoramento em sequência, buscando evitar danos, prejuízos à navegação e prevenir naufrágios.

Pereira explica que, ao contrário do que possa parecer, a lagoa não é toda navegável. Bem no meio da Lagoa dos Patos há um banco de areia que, apesar de coberto por água, é extremamente raso, a ponto de ser possível caminhar. Um barco que, desavisado, passe por ali, certamente ficará encalhado. Por isso, circular entre as boias é essencial para evitar contratempos. Mesmo em um momento em que aparelhos GPS sejam muito usados, estando presentes em todas as embarcações, o mestre fluvial explica que há momentos em que a tecnologia falha ou que falta sinal e, a partir disso, é necessário guiar-se pelo formato antigo, além de ter informações conforme a cor da boia.

Como funciona a manutenção
A tripulação, quando identifica um defeito, tenta resolvê-lo na água. Se não for possível, a peça é retirada e levada ao Porto de Pelotas, que atua como suporte logístico à equipe. O gerente de operações do Porto, Antonio Ozorio Garcia Campos, diz que a estrutura da cidade permite a reforma e manutenção dos materiais.

A hidrovia, que conta com grande circulação, especialmente de embarcações com madeira e grãos, vem retomando importância econômica, explica o gestor. Por isso, a tendência de manter uma manutenção constante é cada vez maior, evitando problemas de logística e tornando-se cada vez mais qualificada para receber mais navios.


O Benjamin Constant
Um sino, ainda original, ao lado da cabine do comandante, mostra a data do navio: 1907. A embarcação centenária atua há 70 anos na manutenção de hidrovias, tendo sido, originalmente, utilizada para fazer calagem. Com a passagem do tempo e a necessidade de águas cada vez mais profundas para navegação, o Benjamin já não dava conta e, por isso, mudou sua função para ser balizador. Com estrutura completa para a equipe, como cozinha, refeitório, quartos e um amplo convés, a equipe está 24 horas à disposição. "A gente passa trabalho, mas é gratificante. A vida é boa", diz Valdenir Machado, que desde 2010 está na equipe.

O navio possui guindaste com capacidade de carga de até dez toneladas, bote a motor para pequenos deslocamentos e pode carregar até oito boias de sinalização. "Quando tem alguma emergência, a gente trabalha o horário que chamar", explica Pereira. Ele diz que, com a ida a Porto Alegre, a equipe aproveitará para fazer vistoria nas boias deste caminho, que serão resolvidas agora ou na volta.

Orgulhoso, o mestre fluvial relata que a rotina de trabalho de quem dedica a vida a tornar as águas mais seguras é exaustiva, mas gratificante. Acaba se tornando uma família, tendo o navio como lar. No GPS, ele mostrava cada boia, o nome que tinha e a calagem em cada trecho da lagoa. Há 18 anos trabalhando no Benjamin, diz que a atuação acaba precisando de soluções milimétricas muitas vezes, dado o peso que carrega. "Se não souber trabalhar, coloca o barco no fundo."​

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