Notícia boa

Em meio ao cenário de crise, exceção

Diário Popular foi a Piratini constatar quase que uma raridade: um hospital funcionando plenamente e com dinheiro em caixa

Paulo Rossi -

Nos próximos dias, o Hospital de Caridade Nossa Senhora da Conceição de Piratini passará a realizar mais 30 cirurgias gerais eletivas e 240 consultas, por mês, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os serviços, até então, prestados pelo Hospital de Caridade de Canguçu serão oficialmente transferidos à Primeira Capital Farroupilha. Foi o que ficou acordado, no final desta semana, em encontro entre os secretários municipais de Saúde. Agora, só falta o aval da Comissão Intergestores Bipartite, em Porto Alegre, e a publicação no Diário Oficial do Estado. A equipe, composta por 22 profissionais, já está de prontidão.

E detalhe: se o cenário geral é de crise na saúde pública e escassez de recursos na maioria dos hospitais da região, o Nossa Senhora da Conceição de Piratini é exceção. Apesar de o atraso acumulado no repasse de verbas do governo do Estado alcançar cerca de R$ 920 mil, a instituição segue com superávit. Uma média de aproximadamente R$ 60 mil sobra todos os meses e permite uma das duas medidas: ou o dinheiro é depositado - como historicamente ocorre - ou melhorias são feitas. A última foi a inauguração da lavanderia, que substituiu a antiga, da década de 60, e passou a ser toda automatizada.

"Mas é peleado. Conseguimos esses resultados ao longo do tempo na base da economia e negociando melhor preço com o fornecedor", exemplifica o diretor executivo, Antônio Laerto Farias. E já são oito anos no cargo e 26 anos no hospital, onde percorreu vários setores. Começou na portaria, foi para a farmácia, chegou ao setor de Faturamento e depois ocupou a posição de Supervisor. Foi quando partiu à faculdade de Administração Hospitalar e apaixonou-se pelo tema que o conduziu ao cargo atual.

Referência regional acertada
Oito municípios da região passarão a ter o Hospital de Caridade Nossa Senhora da Conceição como referência às cirurgias gerais eletivas: Piratini, claro, Pedras Altas, Pinheiro Machado, Cristal, Cerrito, Canguçu, Santana da Boa Vista e Morro Redondo. O fato de a instituição não contar com Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) não deve ser motivo de preocupação à comunidade - argumenta o diretor executivo.

"Fazemos há anos cirurgias, como as de urologia, em casos de câncer, às vezes, mais complexas do que procedimentos gerais. Não são cirurgias de alta complexidade", destaca Antônio Laerto. E, para as situações de eventuais intercorrências, o hospital teria equipamentos para suprir este atendimento rápido - sustenta.

Os porquês
Ao explicar a suspensão das consultas e das cirurgias gerais eletivas, o diretor administrativo do Hospital de Caridade de Canguçu, Régis Silva, apontou a interrupção das atividades da UTI como uma das três razões principais para a decisão. As outras duas referem-se a questões financeiras, de atraso nos repasses estaduais, que acabaram por desarticular a equipe. "Cirurgias gerais não são linha de produção. Entendemos que a retaguarda de UTI era muito importante."

Nos planos
Um dos próximos investimentos previstos ao hospital de Piratini será a criação de um Ambulatório Médico Especializado; obra orçada em R$ 400 mil. A intenção é de que procedimentos mais simples, principalmente na área de Dermatologia, possam ser realizados no ambulatório e não ocupem a estrutura do bloco cirúrgico, cada vez mais requisitado.

Maternidade reabre, mas com restrições aos finais de semana
A contratação de um segundo pediatra deve assegurar a normalização dos serviços na maternidade do Hospital Nossa Senhora da Conceição, que permaneceu aberta durante 16 dias apenas às gestantes de Piratini. "Para ser referência a alguns municípios da região como eles são, é preciso ter uma equipe mínima", enfatiza a titular da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Kátia Hoffmann.

Hoje, com quatro obstetras, três anestesistas e somente um pediatra - afora os profissionais de Enfermagem -, a maternidade montou cronograma de atendimento. De segunda a sexta são recebidas as grávidas das quatro cidades: Piratini, Pinheiro Machado, Pedras Altas e Cerrito. Aos finais de semana, as portas seguem abertas apenas às moradoras da Primeira Capital Farroupilha. "Mas, claro que não vamos deixar ninguém mal. Já atendemos, inclusive, gestantes de Cristal, por exemplo, que não estão referenciadas para nós", afirma o diretor executivo.

E todas as mulheres que chegam à maternidade do Nossa Senhora da Conceição são estimuladas ao parto natural. Uma sala equipada com climatização, luz especial, assento e bola de pilates torna-se convite para evitar a enxurrada de cesáreas, como recomenda o Ministério da Saúde. Banhos relaxantes para aliviar dores na região lombar e a possibilidade de permanecer acompanhada por familiar ou amigo de sua escolha também contribuem ao processo de bem-estar. "É preciso uma mudança de cultura. É necessário desconstruir toda uma ideia e ressaltar à gestante que o parto natural será um momento saudável para a vida inteira de seu filho, inclusive pelas questões de vínculo", defende a enfermeira obstetriz, Luciane Gomes.

A estudante pinheirense Dayane Fontena, 18, era uma das mamães que se preparava para voltar para casa, na última quarta-feira. E, além de um sorriso no rosto, a jovem carregaria nos braços a pequena Luíza, de 3,470 quilos e 50 centímetros. "Ela já está mamando", contou.

Conheça a estrutura do hospital de Piratini 
- 132 leitos; 13 psiquiátricos e para dependentes químicos
- 143 funcionários
- 19 médicos (16 com vínculo empregatício)
- 81% dos atendimentos pelo SUS
- Referência a 21 municípios da região em quatro especialidades: otorrinolaringologia, urologia, dermatologia e ginecologia, em atendimentos de baixa e média complexidades. Para otorrino, por exemplo, a demanda é tão alta que as cirurgias eletivas estão sendo agendadas para o primeiro trimestre de 2017.
- Bloco cirúrgico com capacidade para dois pacientes
- Maternidade

Confira o panorama
- Canguçu: o Estado ainda não repassou os valores referentes à decisão judicial obtida pelo Hospital de Caridade, no dia 6 deste mês. Agora, entretanto, a dívida é maior. Além dos R$ 391.620,00 dos meses de março, abril e maio de 2016, há outros R$ 130 mil que acabaram de vencer. O governo, todavia, irá recorrer do pagamento de R$ 159.817,69 - também determinado pela Justiça - em função de parcelas pagas com desconto por metas contratuais não cumpridas pela instituição. A titular da 3ª CRS, Kátia Hoffmann, confirmou na tarde de sexta-feira.

Apesar do cenário de crise, o diretor administrativo, Régis Silva, encontrou motivos para comemorar. O Estado, finalmente, fez o repasse da primeira das três parcelas de R$ 183 mil, negociadas há meses, para complementar recursos investidos pelo hospital em diárias de UTI. As tratativas contaram com a interlocução do deputado Pedro Pereira (PSDB).

- Santa Vitória do Palmar: é uma das fases mais delicadas dos últimos tempos. Com R$ 643 mil em atraso do governo do Estado, a Santa Casa de Misericórdia enfrenta dificuldades para pagar fornecedores. Os R$ 122 mil repassados quinta-feira foram canalizados a duas prioridades: à alimentação dos pacientes e aos salários dos médicos. "É uma situação que nos causa angústia. Até agora não reduzimos nenhum serviço, mas só temos medicação e material garantidos por mais uns 15 ou 20 dias", desabafou a diretora-geral, Vera Martins Neto.

Sem dinheiro em caixa para manutenções, o jeito é negociar com prestadores de serviço para assegurar o conserto da bomba de vácuo de uma das duas autoclaves. O hospital, com 65 leitos e 92% dos atendimentos pelo SUS, é de extrema importância, visto que a comunidade de Santa Vitória do Palmar e do Chuí fica geograficamente isolada do restante da região.

- São Lourenço do Sul: a direção avalia outros gastos para enxugar, além de luz e de água, que já têm sido alvo. As pendências do Estado, só de 2016, chegam a R$ 1,1 milhão. Um dos esforços principais, neste momento, é para o pagamento dos salários dos 26 médicos. "Estamos fazendo um milagre, mas não sabemos até quando vamos aguentar sem cortar serviços", destaca o presidente da Santa Casa de Misericórdia, José Ney Lamas.

- Jaguarão: a Santa Casa de Caridade, hoje, não possui nenhum serviço suspenso. Desde maio, quando obteve a decisão judicial que forçou o governo do Estado a manter os repasses em dia - ao menos pagos dentro do mês -, a instituição restabeleceu a realização de mamografias e de cirurgias eletivas. Atualmente, de 12 a 15 procedimentos são feitos por mês; o mínimo são dez cirurgias. Os salários dos funcionários e do corpo clínico estão em dia. "Com os fornecedores com quem temos dívidas estamos procurando negociar, dependendo do valor, em até dez vezes. Mas sempre procuramos fazer as compras à vista", afirma a diretora-geral, Dolores Gaidarji.

- Rio Grande: os meios para amenizar as dificuldades financeiras têm sido os mesmos adotados por outras instituições hospitalares: apelar à Justiça. Foi assim, através do bloqueio de recursos públicos, que a direção da Santa Casa de Misericórdia conseguiu receber R$ 5 milhões referentes às parcelas de janeiro a maio dos incentivos estaduais. A verba garantiu o pagamento da folha aos cerca de 1,5 mil funcionários e um dos meses aos prestadores de serviços médicos.

Nos próximos dias, se a determinação que prevê o pagamento dos serviços contratualizados até o quinto dia útil permanecer descumprida, novas medidas judiciais devem ser adotadas. "Não temos atendimentos parados, mas enfrentamos uma crise bastante grave para prestação dos serviços", sustenta o superintendente, Jeferson Alonso dos Santos.

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