Uma partida para ficar na memória de Pelotas e no coração emocionado de pais de pessoas com trissomia 21, ou simplesmente Síndrome de Down. Na quadra do ginásio Cruzeiro, a equipe campeã da Copa do Brasil 2023, a Ponte Preta S21 e o time de de futsal da Associação de Pais de Down de Pelotas (Apadpel). Foram 20 minutos para cada lado com direito a narração de Magnus Fouchi e dois árbitros. Nas quatro linhas, muita disputa de bola e lances incríveis. O placar favoreceu os visitantes, mas o resultado só poderia ser o da vitória da inclusão.

O evento, que contou com palestra, visitas aos estádios Boca do Lobo e Bento Freitas, ao Laranjal, além da partida de domingo (3), foi em comemoração de um ano da equipe da Apadpel, momento que foi agraciado pela presença da Ponte Preta, time de futebol centenário, mas que desde 2019 lançou essa proposta inclusiva e hoje conta com o melhor jogador do mundo, eleito duas vezes, Renato Gregório. "Me sinto muito feliz. É gratificante para mim ser eleito duas vezes o melhor jogador e só tenho a agradecer a Deus por essa gurizada se espelhar em mim, cada vez mais", disse o atleta Down, antes do aquecimento.

Para o pai de Down, idealizador e consultor técnico da Ponte Preta S21, Maurício Carvalho, é uma satisfação estar em Pelotas participando desse encontro, pois seu propósito de vida é que cada vez mais as cidades tenham seus times Down. "Todo município tem um ginásio ocioso e um professor de educação física que possa disponibilizar um tempo de sua vida, a cada 15 dias, para treinar essa gurizada de forma voluntária", sugeriu. Como pai, Carvalho conta que os filhos olham os jogadores e sentem vontade de aprender. "Nós estamos fazendo por eles, pois deixamos de contar com o Poder Público. Eu me orgulho em saber que 90% de projetos como esses são de iniciativas de mães e pais". Em Campinas, por exemplo, a Ponte Preta S21 conta com equipe de futsal Down tanto para meninos quanto para meninas e desenvolve um projeto pioneiro, tendo na comissão técnica uma professora de educação física que possui trissomia 21.

Emoção na arquibancada

E por falar em pais, muitos que estavam na torcida não conseguiram esconder a emoção. "Meu filho está em quadra. É a primeira vez que eles vão jogar assim. Acho que todas as mães estão emocionadas", disse Fátima Saldanha Pereira, 60, mãe de Noé Tiago Pereira, 25. Para Claudio Rene, pai de Claudio Rene Jr. é uma conquista. "Nós somos de Rio Grande e venho sempre para ele treinar, pois lá eu tenho uma escolinha de futsal e ele sempre quis aprender", relatou. Por isso, a cada jogada, mesmo respeitando o treinador Appel, Geverton Duarte, Rene buscava alguma orientação do pai.

Entre as instruções, o técnico Duarte lembrou aos atletas que eles estavam diante de uma equipe de qualidade e de mais tempo de treino. "Então o que devem fazer é desfrutar ao máximo esse momento único. Como? jogando futebol." O jogador Gabriel Almeida Nogueira treinou até a comemoração. "Se eu fizer um gol, vou dedicar à minha família, aos meus amigos e a todos nós, porque somos todos iguais".

Ao final da partida, o melhor momento foi a confraternização entre as equipes que celebraram a vitória de todos em quadra. A presidente da Apadpel, Cátia Vieira, era só emoção e mal conseguiu falar sobre o evento. "É muita emoção. Somos a primeira cidade no Estado a promover essa atividade e queremos que outras localidades peguem seus jovens e coloque para treinar. Nós tínhamos pessoas que não sabiam nada de futebol e hoje estão chutando, driblando", disse emocionada.