Direitos Humanos
Gamp: 30 anos de luta e resistência
Final de semana será marcado por celebração de aniversário do Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas, a primeira ONG feminista do Estado
Era final dos anos 1980. A professora de Anos Iniciais estava aposentada e aceitou o convite para liderar uma série de reuniões com mulheres, através da Cáritas Diocesana. O que Zely Franco Garcia, 88, não sabia era a potência em que este movimento se transformaria, agregado a inúmeras outras lideranças e lutas para o combate à violência doméstica e a preservação e conquista de direitos. Neste final de semana, em que um almoço irá celebrar os 30 anos do Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas (Gamp), o Diário Popular traz algumas dessas vozes que ajudaram a dar forma – e ainda mantêm viva e forte – a primeira Organização Não Governamental (ONG) Feminista do Rio Grande do Sul.
Com a experiência e a calma de quem está rumo aos 90 anos de idade, Zely conversou com o DP: "É preciso acreditar. Hoje ainda temos muito machismo, até mesmo entre as mulheres", lamenta. E admite: quando uma única sala começou a não mais comportar aqueles encontros, não tinha ideia do que viria depois. Só sabia que precisavam se organizar, formar comissões e agregar conhecimento técnico em áreas como o Direito, que facilitassem o trabalho que estava por vir.
A comoção em decorrência da morte da professora municipal Luciety Saraiva, assassinada pelo ex-companheiro, espalhou-se por Pelotas. Era janeiro de 1990. Uma nota de repúdio, organizada pelo Núcleo de Mulheres do Partido dos Trabalhadores (PT), chegou a ser publicada nos jornais. Ato em frente ao Foro. Pedidos para que pudessem acompanhar o caso de perto. Contatos com a Ong Themis, de Porto Alegre. A mobilização ganhava peso.
"Sabíamos que era uma questão de gênero concreta. Precisávamos de um movimento de fundamento, avançado, contundente, humanitário", relembra uma das integrantes dos manifestos da época, a bacharel em Direito, Eliana Colpo, 56. "Queríamos um grupo permanente, que tivesse mulheres de todas as vertentes, de diferentes tendências ideológicas", reforça a militante feminista. Estava então, lançado o gérmen do que em 8 de março de 1992 se transformaria no Gamp.
Rede de proteção se forma, com a pressão do Gamp por perto
Não são poucos os avanços conquistados ao longo destas três décadas. Criação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher - e lá estava a professora Zely Garcia para assumir como primeira presidente. Transformação do Posto Policial em Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). "Foi algo muito importante, que passou a dar mais autonomia, mais agilidade e mais estrutura para que as nossas demandas pudessem ser atendidas", destaca a assistente social Lúcia Maria Christ, 70, que também fazia parte daquele primeiro time, antes mesmo do Gamp ganhar forma oficial. Foi inclusive ela que ajudou a elaborar os estatutos do Grupo.
Ao conversar com o Diário Popular, na tarde de sexta-feira (10), direto de São Lourenço, para onde retornou durante a pandemia, Lúcia Maria falou em tom de orgulho sobre as inúmeras pressões que resultaram em aparatos de proteção e tornaram Pelotas referência no Estado. A Instalação da Casa de Acolhida - que recebeu o nome de Luciety Saraiva - destinada às famílias vítimas de violência doméstica é mais um desses exemplos. O Centro de Referência de Atendimento à Mulher (Cram) é outra ponta da rede. Uma longa luta que ainda se mantém.
"Hoje lutamos que principalmente estes dois espaços, a Casa de Acolhida e o Cram, tenham as equipes completas. Ao longo dos anos, seguidamente, sofremos com a saída de profissionais. Por isso, termos que contar com formação e qualificação constantes", defende.
A palavra da direção atual
A coordenadora do Gamp, Diná Bandeira, faz coro às palavras de Lúcia Maria e assegura que a missão atual, após todos os avanços conquistados, é manter e qualificar constantemente a rede de proteção e prevenção à violência, para que os profissionais estejam aptos a acolher "todas as mulheres, na sua amplitude e pluralidade".
Um planejamento estratégico já foi realizado para definir as prioridades pelos próximos dez anos. Durante a pandemia e com os relatos de violência doméstica em alta, o Gamp institui as assembleias online para facilitar o contato com a comunidade. A atuação diretamente nas escolas, com olhar nas novas gerações, também ganha força. "Temos muitos desafios sociais e políticos. Queremos que possam vir caminhar conosco", convida Diná.
É um processo de revisão e transformação constantes. "Queremos educar para liberdade, diversidade e respeito. Precisamos combater o padrão heteronormativo, de uma sociedade que tortura e mata", reforça Eliana Colpo.
Como fazer parte do Gamp
- Local: A sede do Grupo fica na rua General Osório, 257. É uma sala junto ao prédio do Cpers-Sindicato
- Atendimento: Ocorre nas quartas-feiras, à tarde, mas é importante realizar agendamento.
- Faça contato pelas redes sociais:
* Instagram: @gampfeminista
* Twitter: GAMPfeminista
* Facebook: Gamp - Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas
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