Nosso Bairro
Três Vendas, do passado e do futuro, em constante evolução
Projeto Nosso Bairro ruma ao Norte de Pelotas, em uma das regiões mais tradicionais, amplas e populosas do município
A partir deste final de semana, os caminhos do projeto Nosso Bairro se direcionam ao Norte, vindo do Fragata e pegando a Fernando Osório para chegar às Três Vendas. Após passagem por Laranjal, Areal e o próprio “Bairro Cidade”, a equipe de reportagem do Diário Popular circulou por um dos mais antigos, tradicionais e característicos bairros de Pelotas para ouvir as demandas da população, suas histórias e peculiaridades. Com um cenário que mescla passado e futuro, periferia raiz e tradição colonial alemã, é ainda uma região em constante transformação.
O perfil, apesar de tradicional, mostra uma mudança de dinâmica: se o Censo de 2010 do IBGE apontava 72.927 moradores, apontando as Três Vendas como o segundo bairro mais populoso da cidade, a realidade certamente já não é representada por estes números. As regiões tradicionais, como Pestano, Getúlio Vargas, Lindóia, Santa Terezinha, Py Crespo, Tablada, Sítio Floresta, Vila Princesa e as Cohabs ganharam a companhia de novos espaços planejados, como Quartier e Germânia, e também novos condomínios fechados, como os do entorno da João Jacob Bainy, o Parque dos Estados e também novos loteamentos, que surgem aos montes.
Mudança de perfil tem ocorrido recentemente, mas localidade ainda mantém tradições (Foto: Jô Folha - DP)
O bairro, com grande parte da população migrante da zona rural e municípios dos arredores, tem historicamente um perfil de trabalhadores dentro da localidade, justamente por ter sido construído nos arredores do Distrito Industrial e próximo à colônia. No entanto, as mudanças citadas acima alteraram também um pouco dessa característica: um dos destaques comerciais da região atualmente é o crescimento da presença de redes de supermercados, atacados, lojas automotivas e diversas empresas. O comércio interno, uma das particularidades, sente um encolhimento - justamente pela presença de grandes redes nos arredores. No entanto, embora a transformação seja constante, algumas tradições se mantêm.
Hoje o Diário Popular inicia o tour dentro desta região, com moradores contando um pouco de sua história. São figuras do dia a dia, como o comerciante João Leal, que há 23 anos habita o Getúlio Vargas e não cogita, de maneira nenhuma, ir embora. Nos próximos dias, o Nosso Bairro também irá dar foco a histórias como a de Nelson Mülling, comerciante há 50 anos no Santa Terezinha e que viu seu negócio mudar com a chegada de grandes empreendimentos. Conversamos também com Alice Farias, moradora da Vila Princesa e que se ressente da fragilidade das relações da comunidade com o Poder Público. A cultura alemã, a realidade da periferia, os projetos sociais, o histórico Jockey Club, as demandas das comunidades e as belezas das Três Vendas estarão nas próximas edições do Jornal.
Ambiente familiar, perto de todos
Sueli Bergmann Karnopp, como o sobrenome indica, é de descendência alemã, como muitas famílias da Zona Norte de Pelotas. Ela veio de Canguçu com 13 anos de idade e, há 53, mora na rua São Manoel, no Santa Terezinha. Para ela, o grande defeito da região é a falta de asfaltamento, o que causa alagamentos e barro nas ruas em dias chuvosos, assim como poeira em excesso nos dias secos. No entanto, ela conta que a opção de continuar no bairro prevalece pela sensação de pertencimento. “Eu gosto do meu cantinho. Não sei se saberia sair”, analisa.
Uma das características favoritas, segundo ela, é a relação criada com a vizinhança. Além das amizades que duram uma vida inteira, há a proximidade com a família. A mãe mora na casa ao lado. A filha, a poucas quadras dali. A tranquilidade de estar próximo de quem se quer bem é aliada à sensação de segurança. “Não se vê bandidagem por aqui”, comemora. A região, com ares coloniais, carrega o sotaque alemão - e na sua casa não é diferente: Sueli conta que cresceu ouvindo a mãe e a avó, imigrante, conversando nesta língua. A cultura ainda faz parte do dia a dia, e até hoje, nas músicas e programas de rádio, volta e meia escuta as bandinhas tradicionais.
Na Getúlio, paixão, orgulho e resposta ao preconceito
Há 23 anos, João Leal e a família foram morar na avenida Quatro do Getúlio Vargas. Ou melhor, da Getúlio. É assim que os moradores se referem à vila, com o artigo feminino precedendo o nome do político que deu nome à região. Lá, virou comerciante, criou os três filhos, viu a localidade se desenvolver e a rua, que antes possuía apenas três casas, hoje é uma avenida asfaltada e bastante populosa. “Eu prefiro morar na Getúlio que em outro lugar”, garante.Leal afirma que pretende seguir como morador “da Getúlio” (Foto: Jô Folha - DP)
Ele diz que a má fama, de bairro violento, que volta e meia é citada por quem é de fora, não é comprovada na prática. “Não sei porque falam mal (...) é todo mundo amigo, todos se conhecem”, pondera. Ele lembra que chegou a ter uma discussão com um vendedor, que falou mal da localidade. Comemora que os três filhos, criados dentro do bairro, seguiram carreira e são trabalhadores, como a esmagadora maioria dos vizinhos. “Gente ruim tem em todos os lugares”, reage, lembrando que em outros momentos a criminalidade foi de fato alta, mas apontando que hoje a realidade é outra.
Embora ainda se ressinta da falta de estrutura na região, com valetas a céu aberto e grande parte das ruas sem asfaltamento, diz que a Getúlio hoje está mais valorizada do que nunca. O amor pelo local fez Leal participar enquanto líder comunitário em alguns momentos, e com demandas alcançadas, como a melhora do escoamento no início dos anos 2000. Ele diz que a ideia agora é aproveitar o bairro. Antigo trabalhador do campo, hoje possui terras na zona rural, mas diz que jamais pensa em deixar a região que ama.
Para participar do Nosso Bairro
O DP quer ouvir suas sugestões de pauta e apresentar reivindicações, projetos sociais e bons exemplos de cada localidade de Pelotas. Até agora o Nosso Bairro já cruzou por Laranjal, Areal e Fragata. Agora, o roteiro está direcionado às Três Vendas e, em breve, estaremos no São Gonçalo. Mas a pauta não para por aqui e a reportagem seguirá, após as apresentações, abordando a realidade. Portanto, participe! Você pode entrar em contato pelos e-mails [email protected] e [email protected] ou pelos telefones (53) 3284-7023 ou pelo WhatsApp (53) 99147-4781. Se preferir, pode dirigir-se à sede do Jornal, na rua 15 de Novembro, 718.
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