A quarta-feira (4) será de nova mobilização dos professores e funcionários da rede estadual, em Pelotas. Às vésperas de completar 30 dias de greve, 32 escolas permanecem totalmente paralisadas nos 18 municípios da área de cobertura da 5ª Coordenadoria Regional de Educação (5ª CRE). Se contabilizadas as instituições em que as atividades estão parcialmente interrompidas, o número sobe para 90; o equivalente a 71% da rede.
O cenário, assim como em 2016, é de queda de braço entre servidores e governo. De um lado, o Cpers aguarda respostas concretas à lista de reivindicações. De outro, o Palácio Piratini pressiona pelo fim do movimento e anuncia medidas, como o corte do ponto dos trabalhadores, derrubado com liminar obtida na Justiça pela categoria.

"A nossa mobilização segue firme e forte. A greve é um direito constitucional, sendo o trabalhador efetivo ou não", enfatiza o diretor do 24º Núcleo do Cpers-Sindicato, Mauro Amaral, ao defender a continuidade da participação dos contratados. "No caso de eles serem dispensados, isso se configuraria em perseguição política." E lembrou que, independentemente do número de dias sem aulas, os professores assumirão - como de praxe - total responsabilidade em recuperar o conteúdo.

Críticas ao movimento
O titular da 5ª CRE, Carlos Humberto Vieira, argumenta que 47% de todos os professores estaduais do Rio Grande do Sul já teriam recebido os salários integralmente, na última sexta-feira, como prova do esforço do governo em evitar o parcelamento, tão combatido pelo funcionalismo. Ao analisar a falta de perspectiva para o fim da greve, o coordenador foi direto ao ponto: "Nesse momento, o movimento é mais partidário. Não podemos esquecer que se avizinha uma eleição".

Os desafios na hora do retorno à sala de aula
O diretor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas (FaE/UFPel), Rogério Würdig, destaca a importância da continuidade aos processos de aprendizagem, que envolvem desafios permanentes. "Quando tu interrompe, tu dispersas tudo isso. Aquilo que estava se encadeando, do fragmento para totalidade, se perde", lembra o doutor em Educação. Com a rotina rompida, leva-se um tempo para "aquecer" de novo. Um tempo necessário para as duas partes: alunos e professores.

E para que o conhecimento se expanda durante o ano, também é imprescindível se estabelecer vínculos - reforça o pesquisador. Würdig fez questão de lembrar dos aspectos ambientais e climáticos que, não raro, ficam de fora das discussões, mas que interferem diretamente no processo de aprendizagem - afirmou, com o peso de quem em 26 anos de UFPel já vivenciou inúmeras greves e ministrou aulas durante o verão, em janeiro e fevereiro.

Ao conceder entrevista ao Diário Popular na tarde desta terça-feira, entretanto, o diretor da FaE ainda ponderou: é pai de aluno de escola pública, já formou inúmeros professores ao longo da carreira e apoia o movimento grevista. Neste contexto, aproveitou para defender que o pós-greve é sempre difícil. Até trágico: "Os professores voltam doloridos, exaustos, cansados e às vezes, derrotados, e têm que transformar todo o conhecimento que têm para que possam envolver os alunos". É mais um desafio aos trabalhadores do Magistério, acostumados a, historicamente, atuarem em condições não favoráveis ao processo de ensino.

Relembre as reivindicações da categoria
- Fim do parcelamento dos salários e do 13º
- Reposição salarial, que não ocorre desde novembro de 2014
- Retirada de PECs que tramitam na Assembleia Legislativa e atingem diretamente direitos conquistados pelos trabalhadores

O ato desta quarta
- Mobilização das escolas da Zona Norte e Tenda da Solidariedade
Local: em frente ao Colégio Cassiano do Nascimento - avenida Dom Joaquim, 671
Horário: a partir das 13h

(QUADRO 2)