Os primeiros
Índios Guaranis resistem ao tempo
Segundo o professor Rafael Milhera, coordenador do Lepaarq/UFPel, antes da colonização, há 2,5 mil anos, habitavam Pelotas charruas e minuanos
Paulo Rossi -
No início são os índios, claro. Segundo o professor Rafael Milhera, coordenador do Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (Lepaarq/UFPel), antes da colonização, há 2.500 anos, habitavam Pelotas charruas e minuanos, grupos típicos da região do Pampa, embora seja sempre perigosa tal determinação de nomenclatura, por vezes criada pelo europeu, para populações tão antigas.
A ocupação das tribos se dá nas regiões baixas das lagoas dos Patos e Mirim. Banhados, várzeas do canal São Gonçalo e orlas eram habitados por indígenas cuja atividade era a construção de cerâmicas e cerritos - montículos de terra criados para proteção contra enchentes em locais alagadiços, além de serem utilizados como grandes cemitérios e monumentos aos mortos.
Mais recentemente, os guaranis ocuparam a região, após migração da Amazônia, lugar de origem. Após iniciarem a migração por Santa Catarina e Rio Grande do Sul através de rios como o Jacuí e o Camaquã, por aqui chegaram há 900 anos, com ocupação mais massiva a partir de 1400 - houve contato e conflito com charruas e minuanos, pois. Nas atividades, destacam-se pela plantação e pela agricultura, ao que tomam como preferência a área hoje conhecida como Morro Redondo e a Colônia Maciel.
Nesta região, mais precisamente no Parque Farroupilha, mora desde 2014 família cuja cacique é Santa. Junto dela moram sete filhos. Na aldeia, poucos pertences, algum acanhamento na conversa e muito pertencimento à terra, em concepção de mundo contrária à habitual do mundo urbano. Não há, no local, soberania do homem. O ser humano tem importância tanto quanto o pássaro que pousa no pé, o ratão do banhado que vem no colo, a taquara e a cortiça utilizadas para criar o artesanato vendido no Centro três vezes por semana.
A família é originária da Argentina, onde o pai ainda mora. De lá, Santa e os filhos migraram para Porto Alegre, na sequência chegando ao Parque Farroupilha, terra indígena, em busca de mais tranquilidade. “Lá era muito perigoso, ficávamos perto dos carros. Gosto mais daqui”, comenta. De acordo com Milhera, a constante migração faz parte da cultura guarani. Em Canguçu, mora hoje outra tribo que, anteriormente, ocupava o espaço na Colônia Maciel.
Rafael, um dos filhos de Santa, diz “ter quase tudo” o necessário na aldeia - luz elétrica, por exemplo. Sente falta, porém, principalmente no inverno, de mais roupas e cobertores, além de um violão para que possa realizar de melhor forma rituais tradicionais guaranis. A principal deficiência do local, entretanto, ele crê que seja a falta de uma escola. Dos governos ou da Fundação Nacional do Índio, o contato inexiste - “quando aparecem, atrapalham”, comenta Milhera.
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