Transtornos no HE
Médicos confirmam fim da residência em cirurgia geral do HE
Decisão que deve ser oficializada nos próximos dias é resultado da crise no setor que se arrasta há meses
Foto: Carlos Queiroz - DP - A falta de anestesistas também gera insatisfação nos residentes em Ginecologia e Obstetrícia
Por Helena Schuster
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(Estagiária sob supervisão de Vinicius Peraça)
A falta de anestesistas no Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE/UFPel) continua a trazer consequências à organização da instituição. Após meses de impasse entre os residentes em cirurgia geral e o hospital, o fechamento do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral foi confirmado pelo coordenador do programa e também por residentes. A decisão, ainda extraoficial, se dá após vistoria realizada em janeiro pela Comissão Estadual de Residência Médica (Cerem) e reunião da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), e deve ser publicada oficialmente nos próximos dias.
O descredenciamento do programa é consequência da falta de anestesistas no hospital, problema enfrentado desde o fim de setembro de 2022. Sem esses profissionais, o volume de cirurgias diminuiu e, consequentemente, além do prejuízo aos pacientes, a formação dos residentes também foi afetada. O coordenador do programa, Marcos Pereira, confirmou a situação. "Fui comunicado, de maneira extraoficial, que o programa foi realmente encerrado. Esse nunca foi desejo da UFPel, já que foram inúmeras tentativas para colocar anestesistas no hospital", lamenta.
Segundo Pereira, a situação ainda é recente e não há previsão de quando os residentes serão remanejados e as atividades, de fato, encerradas. O coordenador afirmou, ainda, que o volume de cirurgias realizadas no HE não deve ser afetado pelo fechamento. No entanto, enquanto a falta de anestesistas não for resolvida, o déficit deve continuar.
"Os residentes fazem muitas tarefas, mas as cirurgias sempre são feitas pelos preceptores ou na presença deles. O atendimento não vai continuar normalmente, mas porque ainda precisamos de anestesistas", afirma. A partir de agora, o coordenador afirma que é momento de tentar reestruturar o progama. "Foi um conjunto de situações que, infelizmente, levou a esse fim. Pelo menos a decisão vai ao encontro dos anseios dos alunos. Agora, a gente tem que achar um meio de arrumar a casa", avalia Pereira.
Situação insustentável, dizem residentes
Para os médicos que pertenciam ao programa, a notícia traz um misto de sentimentos. "É uma mistura de tristeza e alívio. A situação estava insustentável, tanto para nós quanto para os pacientes. Agora esperamos que, por mais que tenha acabado o programa, no futuro ele retorne a ser o que era antes", comenta um dos residentes, que preferiu não ser identificado.
"Ficamos tristes com a notícia, mas foi uma decisão necessária. A residência, da forma que era conduzida, estava prejudicando a nossa formação", comenta outro médico, que também não quis se identificar.
Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Hospital Escola não se manifestou sobre o assunto e afirmou que, nesta sexta-feira, a direção deve divulgar uma nota sobre a contratação de anestesistas e o fechamento da residência.
Impacto na formação
A diretora da Faculdade de Medicina (Famed), Julieta Fripp, também demonstrou tristeza e preocupação com o fim da residência. "Nós estamos arrasados, não queríamos de forma alguma que o programa fechasse, mas entendo que as soluções apontadas foram consideradas frágeis demais."
Na avaliação da diretora, o fechamento sobrecarrega os cirurgiões do quadro do hospital, que perdem o auxílio dos residentes, e também impacta o período de estágios obrigatórios da graduação. "Temos alunos da graduação que estavam sempre com os residentes, fazendo plantão, realizando atendimentos e acompanhando cirurgias. A saída deles também implica em fragilizar o campo do estágio dos estudantes do último ano", lamenta.
Residência em Ginecologia e Obstetrícia
A falta de anestesistas também é motivo de insatisfação para os médicos de outro programa de residência do HE/UFPel. Nesta quinta (16) os residentes em Ginecologia e Obstetrícia divulgaram carta aberta e anunciaram o início da paralisação de suas atividades. Segundo os residentes, o hospital pretende diminuir os atendimentos de gestantes de alto risco e fechar o pronto-atendimento 24 horas da Ginecologia.
"Em razão da situação desesperadora que se apresenta, solicitamos resposta não só dos gestores do hospital, mas também dos gestores do Município, para a contratação de novos médicos anestesistas", diz um dos trechos da carta. Os médicos do programa pretende realizar um protesto na sexta-feira pela manhã em frente ao hospital.
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