Dificuldades
Movimento busca espaço para acolhimento de autistas em Pelotas
Pais procuram vagas para o atendimento de crianças dentro do espectro
Foto: Divulgação - Sidnei conta que Rafael está há quatro anos sem frequentar a escola
A criação de uma criança com autismo é repleta de desafios. Com a variedade de graus do Transtorno do Espectro Autista (TEA), crianças em níveis mais severos têm mais dificuldade de se integrarem à escola regular, comprometendo ainda mais o seu desenvolvimento e aprendizado. A necessidade por espaços preparados para o acolhimento de crianças com TEA virou pauta do Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab) em Pelotas, que luta para que seus filhos tenham uma escola preparada para recebê-los e acolhê-los.
Sidnei Garcia, coordenador do Moab, explica que as crianças têm direito a um professor auxiliar para acompanhá-los durante as aulas, no entanto, em muitos casos esses profissionais não possuem capacitação em Atendimento Educacional Especializado (AEE), que os qualifica para atender as crianças com necessidades especiais. Nos casos de autismo mais leve, o aprendizado não fica tão comprometido e é mais fácil fazer um acompanhamento. Já para graus mais severos é necessária toda uma adaptação curricular que contemple as dificuldades de cada aluno, fomentando outras formas de aprendizado.
No caso de Sidnei, ele explica que o filho Rafael, de 12 anos, está há quatro anos sem conseguir frequentar a escola por falta de professores com a qualificação adequada para atendê-lo. Segundo ele, no período em que Rafael foi atendido por uma professora com formação em AEE, ele conseguiu frequentar a escola. “O Rafa ficava tranquilo, a tarde inteira na sala, mas quando essa professora trocou de escola voltamos à estaca zero”, diz Sidnei.
Uma das demandas do grupo é por um espaço preparado para receber crianças com autismo. “Muita gente acha que é segregação, mas a segregação maior é eles estarem dentro de casa”, diz Sidnei. “Estamos sempre lutando, correndo, mas parece que o mundo conspira contra a gente”, desabafa. O caminho buscado é a ampliação da capacidade do Cerenepe para que seja possível comportar a demanda atual por atendimento.
Uma petição do Moab solicitando uma escola qualificada para atender as crianças neuroatípicas conta com as assinaturas de mais de 150 pais e mães. Dos pais que assinaram, 87% têm filhos com autismo, a maioria com idades entre quatro e 12 anos.
Cerenepe precisa de recursos
A diretora do Cerenepe, Raquel das Neves Benites, explica que o principal empecilho para a ampliação de vagas na entidade é a falta de recursos financeiros. Segundo ela, o Cerenepe atua em três eixos, educação, saúde e assistência social, atendendo em torno de 200 pessoas.
Apesar de possuir estrutura capaz de atender mais alunos, falta dinheiro para a contratação de profissionais, o que inclui fisioterapeutas, pedagogos e psicólogos. O espaço é mantido com recursos dos governos do Município e do Estado, além de doações.
Além disso, o Cerenepe busca ampliar a possibilidade de atender alunos além do quinto ano. “Às vezes a gente tem um aluno que vem de uma escola regular na sétima série, e a gente não pode abraçar”, explica.
Doações de qualquer valor para o Cerenepe podem ser feitas através da chave Pix 92.226.547/0001-28 (CNPJ).
Prefeitura amplia vagas
O Centro de Atendimento ao Autista Doutor Danilo Rolim de Moura, inaugurado pela Prefeitura de Pelotas em 2014, conta atualmente com 550 pessoas assistidas e deve ampliar a capacidade de atendimento para 600 pessoas.
Os serviços oferecidos pelo centro incluem atendimento psicopedagógico, terapia, educação física e terapia ocupacional. As atividades do centro são suplementares, e recebe os alunos em turno inverso aos das escolas regulares.
Segundo a Prefeitura, há uma demanda reprimida devido à pandemia, e há uma fila de espera de cerca de 450 pessoas.
O que é o autismo
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada cem crianças tem autismo. O TEA abrange um grupo de diversas condições relacionadas ao desenvolvimento neurológico, que costumam ser identificadas na primeira infância, apesar de também haver diagnósticos em adultos. As habilidades e dificuldades de cada pessoa com TEA variam e podem mudar ao longo da vida, indo desde casos em que o paciente pode ter uma vida independente até casos em que há uma necessidade de suporte constante por toda a vida.
O acolhimento adequado por profissionais pode ajudar no desenvolvimento de habilidades sociais e comunicacionais, dando maior bem-estar e qualidade de vida tanto para as pessoas no espectro quanto a seus acompanhantes. No entanto, para que esse acolhimento seja potencializado, são necessárias adaptações para garantir acessibilidade, inclusão e apoio na sociedade.
No Brasil, a legislação considera quem tem autismo pessoa com deficiência, com direito a diagnóstico precoce, tratamento, terapias e medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de acesso à educação, à proteção social e ao trabalho.
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