Carinho
No Dia do Professor, exemplos de lida com os desafios da educação
Gerações diferentes de educadores apostam na motivação para enfrentar as barreiras do ensino moderno
Carlos Queiroz -
Quantas possibilidades existem em um professor? Mestre, educador, profe, parceiro, tio, tia, confidente, exigente, cativante, observador, discreto, didático, ator, cantor e até carrasco. Esses vários estilos, em algum momento da vida, estarão presentes na memória de médicos, pedreiros, engenheiros, secretários, cientistas, balconistas, dentistas, jornalistas, juízes, políticos e muitas outras profissões que só existem porque mestres ensinaram. E se até este momento da leitura surgiu a imagem da professora da primeira série ou a da faculdade é porque o profissional da educação merece todas as homenagens neste 15 de outubro. Mesmo em tempos difíceis, com desvalorização salarial, pós-pandemia, incerteza acerca do novo Ensino Médio e com a baixa procura pela formação pelas Séries Iniciais nas universidades, o Diário Popular traz exemplos de dedicação, preocupação e amor à profissão.
Duas gerações, a mesma motivação
Uma tem 78, com 33 dedicados ao Magistério, que segue até os dias atuais na supervisão da escola Escola Érico Veríssimo. A diretora Marina da Costa Laranjeira não abandona os hábitos de quando era professora do Instituto de Educação Assis Brasil (IEAB). Diariamente revisa e corrige cadernos de alunos do educandário, o que não chega a agradar alguns, mas a compensação vem depois com as notas. "Eu olho, chamo, reclamo, faço o exercício com o aluno e faço com o professor. Eu acho que é o que produz o ensino eficiente". Quando o trabalho é de redação, pelo digital, o desafio é maior, segundo a mestre. "Tu corriges. Mas o aluno aprende? Então tem que fazer o aluno reformular". Sua grande inspiradora foi a então diretora do IEAB, Zilda Morroni. "A melhor alfabetizadora. Ensinou coisas excelentes, como por exemplo, o cuidado com as plantas do colégio, que tinha como propósito observar o que estava ao redor", contou Marina. Com esse ensinamento, a rotina de cuidar dos cadernos permite a aproximação com a comunidade escolar para entender o que vai bem e o que precisa ser melhorado. A postura, não a tira da condição de tia Marina para a maioria.
A outra tem 37 anos e está no início da jornada. Professora do Pré-A na Escola Municipal de Educação Infantil Mário Quintana, Gerusa Gonçalves Coutinho, é apaixonada pela profissão e acredita em um futuro melhor, sendo que a base para que isso aconteça vai depender do ensinamento desde cedo. Na sala de aula colorida para o aniversário da escola, dia em que todos foram fantasiados, Gerusa trabalha as vogais e os números com os pequenos inquietos, porém atentos. Com especialização em Psicopedagogia Clínica e especialização em Educação Infantil, ainda faz mestrado pelo IFSul em Educação, ela procura estar atenta às necessidades das crianças da turma que já vem com conhecimentos prévios, principalmente com tempo demasiado em frente às telas.
A técnica em Educação Universitária, Marina Laranjeira, não quer concorrer com a tecnologia e, sim, tê-la como aliada. Por isso, assume a tarefa de buscar em vários artigos e reportagens de jornal temas da atualidade que possam ser usados nas disciplinas. "A Copa do Mundo, por exemplo, vai virar gráfico com os artilheiros. Para Geografia, o trabalho será com os países participantes. Material de esporte do Diário Popular também é muito usado aqui. Já política, não pode ter ideologia, porque é muito difícil, deve sim ensinar os fatos da história." Outro exemplo citado foi o barbeiro de Porto Alegre que cortou os cabelos da banda de rock Guns N' Rose, em setembro. A notícia virou trabalho de Inglês. "Eu amanheço com isso, pois são ferramentas que motivam professores e alunos." Para a educadora, o desafio do professor é atender às necessidades básicas dos estudantes não trabalhadas pela Internet. "O papel do professor hoje é abrir os caminhos e inspirar".
Com a criançada não é diferente. "Para lidar com essa geração é preciso ter paciência, amor e carinho", resumiu Gerusa. O desafio maior é conseguir manter a atenção da gurizada sem contar com a tecnologia, que ainda, segundo ela, não chegou às EMEIs. "Tudo que oferecemos parece não ser suficiente. Então nossas atividades são sempre lúdicas, com corpo em movimento, em aula ou na rua, referente a idades deles, buscando o que é de interesse para que haja interação".
Preocupação com o futuro
O coordenador do curso de graduação em Pedagogia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Luiz Alberto Brettas, está preocupado com o futuro dos profissionais de educação. Tanto pela formação, principalmente pelas Séries Iniciais. "Procura por professores é pequena porque o salário não é compensador. Mas uma situação grave é o surgimento de várias escolas, universidades privadas, interessadas no lucro, oferecendo Pedagogia", contou. Para o especialista, a formação é de baixa qualidade, sendo que o agravante é a colocação desses profissionais no mercado de trabalho para ensinar crianças, que são o futuro. "A paixão à profissão é salutar, mas precisamos entender que professor precisa ser valorizado." Para o coordenador, o educador é a mais importante entre todas as profissões, pois a partir dele é que as pessoas vão decidir pelo seu ofício. "Pelo professor, as pessoas vão aprender a pensar, a ler, a escrever e compreender minimamente o mundo. Por isso, há pouco para se comemorar."
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