Saúde
Novembro Azul: busca por conscientização para doenças masculinas
Urologista Luis Olimpio Jordão fala sobre a importância da campanha
Foto: Divulgação - DP - Jordão explica que o diagnóstico precoce é a principal arma contra a doença
Por Victoria Meggiato
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Conscientização para doenças masculinas, em especial o câncer de próstata. O Novembro Azul é uma campanha dirigida em especial aos homens para esclarecer e fornecer informações sobre o diagnóstico precoce. Uma pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) revelou que apenas 32% dos homens acima de 40 anos se consideram muito preocupados com a sua própria saúde e que 46% deles só vão ao médico quando sentem algo. Esse número aumenta para 58% se os homens utilizam apenas o Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa, viabilizada pelo Laboratório Adium, foi realizada com homens acima de 40 anos representantes de todas as regiões do País, via aplicativo mobile pelo Instituto de Pesquisa IDEIA.
O médico urologista pelotense Luis Olimpio Jordão, formado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, membro internacional da Associação Americana de Urologia (American Urologycal Association) e membro da equivalente europeia EAU, fala sobre a relevância do Novembro Azul para viabilizar a conscientização não só durante o mês, mas no ano todo, além de também fornecer informações importantes sobre o câncer de próstata. Atualmente, ele também é urologista do Hospital Santa Casa, Beneficência Portuguesa e Unimed Pelotas.
Qual a importância do Novembro Azul e como ele pode auxiliar no diagnóstico precoce de doenças, principalmente o câncer de próstata?
O Novembro Azul é uma campanha da Sociedade Brasileira de Urologia, na verdade ela começou baseada num projeto australiano de 1996, se eu não estou enganado, chamado Movember, em que o símbolo era um bigode azul, justamente para a saúde do homem. A gente sabe que morrem mais homens do que mulheres em todas as cidades do Brasil. A grande maioria das cidades têm mais mulheres idosas do que homens. Dentre as doenças que são importantes, o Novembro Azul foca muito no câncer de próstata porque é um câncer mais frequente, exceto o câncer de pele, é o câncer que mais mata pelo volume de pacientes. Embora desde os anos 1990, quando começou a se usar sistematicamente o PSA (Antígeno Prostático Específico) e tratamentos foram melhorando, a mortalidade pelo câncer diminuiu 50% se nós compararmos 1990 com 2017. Se deu pela melhora de técnicas cirúrgicas, ao uso sistemático do PSA e essas campanhas de conscientização porque as pessoas passam a ver a necessidade de procurar uma doença que é absolutamente assintomática, ela só vai ter sintomas em fase avançada. O câncer de próstata é um diagnóstico em que o indivíduo está procurando cuidado, ele consulta antes de ter qualquer sintoma, qualquer desconforto, faz um procedimento chamado screaming, que acaba encontrando essa doença.
Existem fatores de risco que aumentam as chances de desenvolver o câncer de próstata?
Sim, existem. Os principais fatores são a obesidade - a importância do Novembro Azul é justamente isso, porque ele fala da saúde do homem. Depois a etnia, é uma doença mais grave em homens negros. Essa questão da obesidade é muito clara, muito interessante, os hábitos alimentares, porque por exemplo, existem no Brasil 70 mil novos casos por ano, para cada cem mil habitantes existem em torno de 60 novos casos, 60 a 80, dependendo da região do País. No Japão e no oriente, de uma forma geral, se tem três novos casos para cada cem mil habitantes. Países em que se tem uma dieta hipercalórica chega a ter 120 casos para cada cem mil habitantes. O Brasil ocupa uma faixa intermediária para a alta em função de hábitos alimentares, então se imagina que o consumo exagerado de gordura de origem animal leve a isso. Eu digo um consumo exagerado, uma dieta equilibrada obviamente não vai levar a problema nenhum. Como fatores de risco importantes, então: obesidade, etnia e genética, quem tem familiar com câncer, pai, irmão ou tio com câncer de próstata têm risco mais elevado. São as pessoas que necessariamente têm que fazer um acompanhamento mais próximo.
A doença é mais comum em qual faixa etária e quais os principais sintomas?
A faixa etária é dos 50 aos 70 anos, especificamente mais de 60 anos é onde têm mais câncer de próstata. Mas o perfil é dos 50 aos 75 anos, quando se vai encontrar mais pessoas com câncer, o período crítico é essa faixa etária. Os sintomas são sangramento, dor ao urinar, eventualmente dor óssea, naqueles casos mais avançados, e dificuldade de urinar, também em casos avançados.
No caso de sintomas, quais são os exames solicitados para diagnosticar a doença?
Rotineiramente exame digital retal, o exame de toque que é a base de tudo, examinar a pessoa provoca um mal-estar, mas é fundamental que se faça. Depois o PSA, que é uma proteína que dosa no sangue e vai te dar uma informação, se tem mais, vai associar ao exame de toque e ter uma ideia de como conduzir a situação. Após isso são necessários outros exames complementares, ultrassonografia, biópsia, ressonância magnética, que por sinal é um exame que é feito mais hoje porque é muito informativo. Mas, de uma forma geral, a gente considera muito importante ainda fazer o exame digital retal até para entender que às vezes as pessoas têm muitos sintomas e esses sintomas não são tumorais, são inflamatórios, por exemplo, e fazem o PSA se alterar. É fundamental que a gente faça exame digital e o PSA, depois os outros exames que eu comentei secundariamente.
O preconceito e a desinformação ainda impedem que alguns homens façam os exames preventivos. Por que essa situação ainda ocorre?
Eu acho que isso é cultural, sem dúvidas. Mas essas campanhas são justamente para que essas coisas melhorem e isso tem acontecido, porque como eu comentei, a mortalidade pelo câncer tem diminuído de uma forma geral. Eu atribuo isso ao diagnóstico precoce e a melhora das tecnologias de tratamento para a doença. Em 2010 tinham cinco drogas, hoje duplicou o número de drogas para tratar o câncer de próstata, mesmo o câncer avançado. Obviamente que o objetivo é esse, tratar aquela pessoa que tem um câncer curável. O objetivo é fazer uma cirurgia ou radioterapia que cura, apesar de algumas sequelas, mas fica livre da doença. Esses outros tratamentos todos dão uma qualidade de vida, mas necessariamente vai ter alguma implicação, complicações, vai ter prejuízos.
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