História
O primeiro passo político rumo à Guerra dos Farrapos
Começo do mandato na Assembleia Legislativa Provincial, em abril de 1835, é considerado marco ao movimento que se transformaria na República Rio-Grandense e duraria dez anos
Gonçalves Chaves não foi apenas vereador da vila de Rio Grande de São Pedro, que defendia propostas de melhoramento como a abertura do canalete e a dragagem do Porto. O português também foi o segundo vereador mais votado em Pelotas, quando a freguesia de São Francisco de Paula foi efetivamente elevada à vila, em 1832. Quatro anos antes, em 1828, a aptidão para a vida pública tornava-o membro natural do primeiro Conselho Geral da Província, que cumpria o papel do Poder Legislativo.
Não surpreende, portanto, que ele tenha passado a fazer parte da primeira composição da Assembleia Legislativa Provincial, após o Ato Adicional de 1834, que criou as Assembleias no Brasil imperial. Conquistou 132 sufrágios - votos. Ao lado de Domingos de Almeida, mais uma vez, assumiu o mandato em 20 de abril de 1835; data considerada o marco político da Revolução Farroupilha.
Aliás, de 20 de setembro de 1835, quando os farrapos tomaram Porto Alegre, até 15 de junho de 1836, quando a perderam para os legalistas, somente compareceram à Assembleia os deputados favoráveis à rebelião. Em 1837, inverteu-se a situação: apenas os favoráveis ao Império participaram dos trabalhos legislativos. A Guerra dos Farrapos impediu a realização de eleições para a renovação dos mandatos que se encerraram em 31 de dezembro de 1837. As cadeiras seguiram vagas até a instalação da 2ª legislatura, em 1º de março de 1846 - destaca a linha do tempo do parlamento gaúcho.
O Grande Massacre de Porongos - Obra Lanceiros Negros - Tela pintada pelo artista Zé Darci
Revolução ou revolta?
Integrantes da elite da então vila de São Francisco de Paula, como era de se esperar, engrossaram a luta contra os altos impostos cobrados pelo Império, principalmente, sobre o charque; o produto que fazia girar a economia da região. Figuras como Domingos José de Almeida, inclusive, ocuparam lugar de destaque. O mineiro foi ministro do Interior e também da Fazenda - interinamente - e chegou a ser denominado "o verdadeiro homem-ação" da República Rio-Grandense.
Neste contexto, o Diário Popular traz uma provocação lançada pelo presidente e fundador da Comissão de Igualdade Racial da Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Pelotas, Fábio Gonçalves: mas afinal, as batalhas que se estenderam de 1835 a 1845 motivadas por interesses econômicos foram revolução ou revolta? E, logo, ele sustenta: "Chamá-las de revolução é, em grande medida, romântico. Uma revolução tem outra denotação, mexe, efetivamente com os pilares da estrutura social como um todo, em cultura e economia. Por isso, nós resistimos em chamar de revolução", admite.
O advogado, historiador e militante do Movimento Negro vai além: "Foi uma revolta: pela traição, pelo desfecho e pela não modificação do status quo dos atores envolvidos naquele momento. Quem tinha, seguiu com os seus recursos ou os majorou. Aqueles que eram considerados de subclasses, não foram contemplados em nenhuma medida; muito antes ao contrário". Fábio Gonçalves ainda sustentou não terem sido uma, duas ou três traições. "Foram muitas". E, claro, fez referência ao Massacre de Porongos, em que mais de cem escravizados foram executados pelas tropas imperiais em novembro de 1844.
Detalhe: ao longo de uma década, os cativos não integravam as fileiras farroupilhas motivados pelo ideal separatista. Eles perseguiam duas possibilidades que lhes eram ofertadas: libertação e recebimento de terras. "Se sobreviveres, teu prêmio é: alforria e um pedacinho de terra".
Fique de olho em curiosidades!
- Uma sociedade entre Antônio José Gonçalves Chaves, Domingos José de Almeida e José Vieira Viana viabilizou a construção da primeira barca a vapor da Província, que contou com máquina importada dos Estados Unidos. A primeira viagem da Barca Liberal ocorreu em 7 de outubro de 1832, rumo à vila de Rio Grande, às 8h. Durante a Guerra dos Farrapos, sofreu adaptação e virou uma canhoneira.
- Em 1836, os imperiais armaram emboscada para Gonçalves Chaves, mas não deu certo. Ele estava na região da atual cidade de Camaquã. O professor de Francês e piano dos filhos acabou assassinado por engano, já que estava na casa e era um homem muito bem vestido. Ao tomar conhecimento do fato, Gonçalves Chaves foge direto para Montevideo, no Uruguai, onde cria então uma charqueada, que passa a ajudar a suprir as tropas dos aliados.
- A morte de A.J.G.Chaves, até hoje, deixa dúvidas. O charqueador morreu afogado misteriosamente no rio da Prata, próximo a Montevideo, em 29 de julho de 1837, em um período em que as tropas rebeldes superavam as forças do Império.
Confira o material disponibilizado na edição impressa do Diário Popular
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