História
Pelotas fecha a primeira década às vésperas da Independência
DP uniu os 210 anos do município com o bicentenário da emancipação do Brasil e traz caderno especial, que cruza passado, presente e futuro
Obra Passo do rio São Gonçalo [Passo dos Negros] - Jean-Baptiste Debret, 1827
O ano é 1822. A freguesia de São Francisco de Paula, então com uma década de existência, já possuía 22 charqueadas e 217 casas na área mais urbanizada. No cenário nacional, o ano entraria para a história com a proclamação da Independência do Brasil. Por aqui, ainda não havia autonomia política. O território hoje reconhecido como Pelotas era vinculado à vila de Rio Grande de São Pedro - atual município de Rio Grande -, que concentrava todas as decisões administrativas da região. O contexto, entretanto, não anulava a formação de lideranças e o desenvolvimento econômico. A futura Pelotas já era rica e começava a virar referência.
É o panorama do que ocorria no sul do Sul, quando o Brasil deixa de ser colônia portuguesa e se transforma em império. Dois séculos depois, em 2022, o Diário Popular une os 210 anos de Pelotas e o bicentenário da Independência para demonstrar o que ocorria por aqui naquele período, de que forma a notícia foi recebida e quem estava à frente do processo que acabou por dar origem à cidade.
O fato de não haver nenhum jornal em circulação até 1832, na Zona Sul, dificulta a apuração. Os registros são limitados. Os livros de atas da Câmara de Vereadores da vila de Rio Grande, que poderiam ser um dos caminhos para ter acesso à repercussão, só começaram a ser organizados a partir de 1829; sete anos depois de o país já não estar subordinado a Portugal. Os relatos de viajantes, que cruzaram por essas terras, e livros como o Memórias Ecônomo-políticas sobre a administração pública do Brasil, escrito pelo charqueador Antônio José Gonçalves Chaves, ajudam a remontar episódios daquele momento.
São alguns dos panos de fundo do caderno especial que o DP traz neste final de semana, com a palavra de pesquisadores, professores universitários e militantes, em uma conexão entre passado, presente e futuro.
Obra Charqueada no Brasil - Jean-Baptiste Debret, 1827
Mas afinal, que contexto era esse?
Não é possível descolar a Independência da chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. Aos poucos, a colônia se torna metrópole. Começa uma mudança política, econômica, social e cultural no Brasil, a partir do Rio de Janeiro, onde se concentram as atenções. "E esse processo se dá dentro de um período que vai até 1828, que marca as Independências das Américas, tanto a América Espanhola como a Portuguesa", destaca o coordenador dos cursos de História da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Aristeu Lopes. "Iniciam movimentos, então, no México, na Colômbia, na Argentina e, por último, o Uruguai, em 1828", exemplifica.
Um dos estopins para a Independência do Brasil, portanto, é a Revolução do Porto, deflagrada em Portugal em agosto de 1820. Os liberais, em Lisboa, passam a exigir o retorno de Dom João VI e do filho dele, Pedro I. O rei resiste, mas volta para a Europa. Cresce, então, a tensão para que Pedro I faça o mesmo. Até que, em 9 de janeiro de 1822, no Dia do Fico, o jovem de 23 anos decide que permanecerá por aqui.
Dali em diante ganha força a mobilização, principalmente da elite carioca, para que o Brasil se separe de Portugal. E por quê? Para garantir a autonomia que havia sido conquistada com a presença da corte; vantagens que passavam pela criação e supressão de impostos, pela nomeação de cargos públicos e pela aplicação de verbas. "Para esses comerciantes, charqueadores, no Rio de Janeiro, na Bahia, no Rio Grande do Sul, era vantagem se separar e virar um país independente, porque aí o Brasil não estaria mais subordinado às vontades e às ordens de Lisboa", explica o professor do Instituto de Ciências Humanas (ICH-UFPel), o historiador Jonas Vargas.
É a posição da maioria dos rio-grandenses. Inclusive de portugueses que viviam em solo gaúcho e já haviam aderido à causa brasileira. É o caso do charqueador Gonçalves Chaves, que transitava, literalmente, entre a freguesia de São Francisco de Paula, a vila de Rio Grande e o Rio de Janeiro.
Saiba também!
- Por que o Brasil proclama a Independência, mas segue como monarquia, ao invés de se tornar república?
A resposta está associada ao passado recente do país, já que a família real estava estabelecida no Brasil desde 1808, quando fugia de Napoleão Bonaparte e suas tropas, que já haviam invadido a Espanha e, na sequência, invadiriam também o território português. "A elite iniciante que tá se formando irá liderar este processo de Independência, mas em torno da figura de Dom Pedro I. Por isso, o que ocorre no Brasil é peculiar, em relação ao processo nas Américas, onde os países se transformam em repúblicas", destaca o professor Aristeu Lopes.
- A decisão é unânime?
Não. Não houve unanimidade. Com o tempo, algumas províncias - estados - posicionam-se contrárias à decisão. Há lideranças que querem permanecer vinculadas à Portugal. Outras, defendem a instalação de uma república. E é, por isso, em busca de autonomia, que nos anos 1830 espalham-se revoltas pelo país. É o que ocorre, por exemplo, na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, com a Guerra dos Farrapos e o ideal separatista.
- O primeiro jornal da região é o Noticiador, que passa a circular na vila de Rio Grande, em 1832.
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Pelotas 210 anos
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