Saúde bucal

Oito em cada dez idosos de Pelotas não têm dentição funcional

Estudo da UFPel aponta que, do grupo analisado, 38% das pessoas acima dos 60 anos sequer têm dentes, causando impactos enormes na saúde geral

Foto: Carlos Queiroz - DP - Pandemia também impactou atendimentos na área, agravando problemas


Um estudo com 1.289 idosos de Pelotas, feito pela Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), expôs uma dura realidade: 80% dos entrevistados não tinham dentição funcional, ou seja, possuíam menos de 20 dentes na boca. Destes, 38% não tinham qualquer dente na boca. Segundo os pesquisadores, um dos próximos passos é analisar a associação deste fator com potencial mortalidade. Na prática, eles destacam também o impacto que isso traz na qualidade de vida desta população.

A conclusão ocorreu após entrevistas com um público formado por 36,6% de homens e 63,4% de mulheres, considerando o número de dentes e outras variáveis, como Índice de Massa Corporal (IMC), tabagismo, diabetes, hipertensão e posição socioeconômica. A ideia inicial era observar a relação entre perda de dentição funcional e o edentulismo (perda ao longo da vida) com mortalidade. Embora essa associação não tenha sido observada no primeiro momento, a estudante de graduação e bolsista de iniciação científica Cinthia Araújo, responsável pela compilação dos dados, aponta que isso se torna um marcador para problemas gerais de saúde. “Acredito que o principal impacto [do estudo] é servir para os serviços de saúde, para agir tanto prevenindo a perda dentária, quanto reabilitando.”

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPel e orientador do estudo, Flávio Demarco, aponta que há uma clara associação entre perda dental e obesidade, pela alteração de mastigação, que faz o indivíduo mudar a dieta para uma alimentação mais pastosa e calórica. “Com isso, aumenta o risco de obesidade, de doença cardiovascular e, ao mesmo tempo, de mortalidade”, explica. “Talvez a gente não tenha encontrado associação ainda com a mortalidade porque ainda há um tempo para que isso possa acontecer”, reforça, lembrando que um estudo longitudinal do Japão já apontou a relação entre quantidade de dentes e longevidade.

Cíntia reforça que há indicadores socioeconômicos claros. “Os indivíduos que estavam classificados na condição socioeconômica mais pobre tinham mais falta de dentição funcional e mais edentulismo.” Além disso, há impactos psicológicos e de qualidade de vida, tanto por questões estéticas quanto sociabilidade, empregabilidade e outros pontos.
Importância de investimento em políticas públicas

Demarco aponta que houve, nos últimos anos, um recuo em políticas públicas voltadas à saúde bucal, como o encolhimento do programa Brasil Sorridente. “O uso das próteses como política pública melhora a qualidade da mastigação e da alimentação”, analisa. O pesquisador lembra que a pandemia também impactou muito nos atendimentos da área, com represamento de 85% a 90% das consultas no setor público por quase dois anos, mantendo principalmente urgência e emergência. “Aqueles problemas que eram leves hoje viraram graves”, lamenta.

O estudo com idosos
Cinthia aponta que a ideia surgiu em 2020, durante uma semana acadêmica da UFPel, dando ampliação posterior, que virou o artigo publicado no momento. O estudo faz parte do trabalho longitudinal executado pela própria UFPel. Os dados foram retirados da análise de 2014 do “COMO VAI? - Consórcio de Mestrado Orientado para Valorização da Atenção ao Idoso”, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel.

Demarco destaca a transição demográfica que o País vem passando. “Nós éramos um País de jovens e estamos migrando. Hoje, quase um quarto da população já é de idosos e isso só tende a aumentar”, reforça, lembrando que esta população foi muitas vezes negligenciada de políticas públicas, especialmente no passado, quando não havia inserção de flúor no abastecimento público e em cremes dentais, por exemplo. Há, ainda, a questão cultural. “Antigamente, se entendia que dente incomodava, então arrancavam”, lamenta.

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