Consumo

Participação do tradicionalismo na economia gaúcha é tema de estudo

Com estimativa de movimentação de R$ 1 bilhão por ano, empresários do segmento e tradicionalistas acreditam que pesquisa vai agregar valor na hora de buscar patrocínio

Foto: Carlos Queiroz - DP - Lojas especializadas aumentam o faturamento nesta época do ano

Com a aproximação da Semana Farroupilha, o faturamento nas lojas de artigos tradicionalistas aumentam consideravelmente, tanto que para o segmento é vista como o período de safra ou Natal. Em época de Expointer e de Expofeira, o movimento no comércio também cresce, pois os participantes querem estar na estica para os eventos e até mesmo com arreios novinhos. Fora o consumo da erva-mate, pois chimarrão está presente no dia a dia dos gaúchos. Com tantos exemplos, o Rio Grande do Sul ainda não tem consolidado o que esses produtos representam na economia gaúcha. Estima-se que represente no Produto Interno Bruto (PIB) R$ 1 bilhão por ano, mas nada oficial.

Com um olhar diferente para esse cenário, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) propôs, no mês passado, uma pesquisa sobre o consumo de produtos tradicionalistas gaúchos, de maneira a mensurar o potencial econômico gerado por essa cadeia na economia do RS. Um estudo científico inédito será elaborado pela Universidade Feevale. O relatório preliminar indica que somente os itens relacionados ao chimarrão movimentam R$ 176 milhões, reunindo 180 mil agricultores, que cultivam 77 mil hectares de erva-mate em 486 municípios do Sul do Brasil.

Já em relação à indumentária, a soma é em torno de R$ 150 milhões. Um exemplo são as invernadas artísticas. Na União Gaúcha João Simões Lopes Neto, por exemplo, como os trajes de prendas e peões são temáticos para o Enart, o custo fica em torno de R$ 1,2 mil por pessoa, sendo que cada dançarino arca com sua pilcha. A informação é do patrão da Entidade Tradicionalista, Romualdo Cunha Junior. "Conforme as categorias: invernada juvenil e mirim, normalmente custa menos porque acabam usando o traje tradicional que é bombacha (peões) e vestido sem tecidos mais finos (prendas). A média fica entre R$ 700,00 e R$ 900,00", diz.

Na Correaria Dima, um traje feminino, com saia e blusa custa em média R$ 400,00. Já uma bombacha custa em média R$ 150,00. A proprietária, Estela Gomes, conta que tem movimentação o ano inteiro, porém já elegeu os meses que mais fatura. "Junho por causa do Dia dos Namorados; agosto, pelo Dia dos Pais, mas principalmente setembro, em que a comercialização da Semana Farroupilha se concentra na venda da indumentária, com bastante saída de botas, bombachas, boinas e chapéus", relata. Estela diz que também é solicitada para a decoração de lojas, concessionárias, agências bancárias e escolas.

Outro mês que está entrando no calendário dos mais proveitosos é dezembro, já que os artigos tradicionalistas são uma ótima dica de presente de Natal ou amigo secreto. "Nós observamos que desde a pandemia o consumo por kit de chimarrão e facas aumentou muito. Acreditamos que pelo fato de ficar mais em casa, o churrasco ganhou bastante espaço entre as famílias", observou Estela. A participação desde 2016 na Expointer também tem rendido bons frutos para a empresária. "Sabemos que meus produtos não abrangem todos os públicos. Por ter um valor agregado maior, temos uma clientela mais voltada para o setor de criação de cavalos crioulos." Tanto que o faturamento anual da loja fica em torno de R$ 1 milhão a R$ 1,5 milhão.

Na Correaria Tunes, o setembro é considerado o mês de safra, pela grande comercialização de bombachas, botas e alpargatas, chapéus, camisa social polo, pala ou poncho. Para as mulheres, o atendente Richard Campelo conta que a procura maior é por saias e blusas, no lugar dos tradicionais vestidos. Para as crianças, a preferência é pelos dois modelos. "Passamos a considerar rentáveis datas como Dias dos Pais e Natal. Já nos demais meses, o comércio é calmo, embora os aulões gaúchos de incentivo a cultura do Estado e realizados principalmente em escolas particulares, tenham sido bastante importantes para nós, pois as crianças acabam vindo na loja para conhecer melhor os artigos", sinalizou.

Eventos
O setor de eventos, como rodeios, bailes e outras atividades de lazer, segundo estimativa, movimentam R$ 158 milhões. Os gastos com animais (cavalo, encilha, transporte) chegam a R$ 342 milhões. O diretor do Departamento de Pesquisa e Difusão Cultural do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Jeandro Garcia, conta que a entidade está envolvida não só no projeto da Sedec, mas em outro da Secretaria de Turismo. "Para viabilizar o projeto é preciso que nossos políticos e governantes garantam os recursos necessários, pois só o Movimento Tradicionalista tem 1,5 mil entidades e centenas ou até milhares de eventos acontecendo pelo Estado", pontua. Para o tradicionalista, a importância dessa pesquisa é gigantesca. "Através de dados estatísticos poderemos mostrar à gestão pública o nosso tamanho e mostrar aos patrocinadores o quanto é rentável investir em nossas atividades".

Relevância também considerada pelo patrão da União Gaúcha. "Ainda temos bastante dificuldade de apoio através de patrocínios. As pessoas ainda não enxergam a potencialidade do público tradicionalista. Aliás, o que gera a atividade dentro de uma Entidade é mais do que muita empresa", revela. Um exemplo dado por Romualdo Cunha está na realização de um evento que é necessário contratar som, cozinheiros, serviços de limpeza e também comprar bebidas e alimentos. "Isso tudo movimenta impostos em cima dos produtos. Já no grupo de dança, gera emprego e renda para músicos, costureiras, sapateiros, artesãos, maquiadores, o que ajuda muito na economia de uma cidade e região", salienta.

A produtora cultural Kênia Silveira faz coro aos tradicionalistas. Com experiência de 27 anos na realização do Rodeio Internacional e há 12 com Rodeio Universitário, diz que não conta com patrocínio tanto do governo quanto da iniciativa privada, sendo que pelo sucesso de público, movimenta a economia com shows e vendas de ingressos e, além disso, com a geração de mais de 200 empregos diretos. "A pesquisa de consumo vai ajudar em muito a sensibilizar a classe empresarial a instituições a fomentar e patrocinar esse tipo de evento. Hoje nós trabalhamos sozinhas para manter a cultura gaúcha e está cada vez mais caro, sendo que não podemos passar isso para o público", avaliou Kênia.

Sobre a pesquisa
O titular da Sedec, Ernani Polo, explicou que uma das finalidades do projeto é facilitar o entendimento sobre os reflexos da cadeia. "Por meio dessa pesquisa acadêmica, será possível catalogar a geração de emprego e de renda desse setor produtivo", realçou.

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