"É inexplicável o benefício que tem". É assim que a presidente da Associação de Amigos, Mães e Pais de Autistas e Relacionados com Enfoque Holístico (Amparho), Eliane Bittencourt, descreve o impacto do tratamento com óleo de canabidiol na vida do filho autista, Márcio. Entre fevereiro e julho deste ano, uma parceria da ONG com a empresa Golden CBD garantiu o tratamento de forma gratuita para 30 associados. Agora, a parceria chegou ao fim e o grupo busca mobilizar a comunidade para garantir recursos financeiros e continuar com o tratamento.

Eliane conta que o valor de cada frasco do óleo, que dura cerca de um mês, a depender da dosagem de cada paciente, sai em torno de R$ 590 reais. A partir de agora, com o fim do tratamento gratuito, a Amparho consegue, através da parceria com a empresa fornecedora e o médico que acompanha os pacientes, descontos no valor das consultas e do medicamento, mas ainda assim não é suficiente. "Recebemos a última remessa em julho, não temos mais. O pessoal está apavorado porque, mesmo com um valor diferenciado, tem famílias que não conseguem arcar com esses valores", observa. Segundo ela, há opções mais baratas no mercado, mas que não tiveram o mesmo impacto do tratamento dos últimos meses.

A presidente garante que o tratamento garantiu melhorias significativas na vida dos pacientes. "Esse óleo fez uma diferença imensa. Em cinco anos de óleo de cannabis, esse foi o diferencial na vida das pessoas. O Márcio usa desde 2018, já usou vários tipos e nunca tinha conseguido tirar os remédios. Até diminuía mas, no fim, tinha que voltar. Hoje ele não está tomando mais nada, só o óleo", comemora. O caso não é isolado. Em diversos associados, o tratamento foi a única alternativa que resolveu crises severas de agressividade e possibilitou a parada do uso de medicamentos alopáticos.

Entenda o produto
O óleo de canabidiol é a extração de um dos componentes da cannabis, planta popularmente conhecida como maconha. O uso medicinal da planta é uma problemática amplamente discutida no mundo, já que a planta também dá origem à droga psicoativa de mesmo nome, que é ilícita no Brasil. A cannabis e seus componentes, para fins medicinais, não possuem as mesmas propriedades psicoativas da droga e sua utilização para tratamento de doenças é permitida mediante prescrição médica.

O médico prescritor de cannabis medicinal que acompanha os pacientes da Amparho, Daumiro Tanure, garante que os benefícios são indiscutíveis no tratamento de sintomas para diversas condições, não só o autismo. "Praticamente todos os pacientes [da Amparho] tiveram melhora significativa com uso da cannabis medicinal. Temos melhora clínica de crises compulsivas, epilépticas e melhora cognitiva significativa", observa. "Houve um benefício muito grande para essas pessoas, conseguimos desmamar 100% de alopáticos, em alguns casos 50%, mas diminuímos muito", avalia.

Para ajudar
Para contribuir com o grupo, basta procurar a Amparho através do telefone (53) 98407-8592. Segundo Eliane, nos próximos dias será disponibilizada uma chave pix específica da ONG para centralizar as doações. "Estamos abrindo uma conta essa semana para que as pessoas possam contribuir com esse tratamento", garante. O médico que acompanha os pacientes pelotenses reforça o apelo à comunidade e destaca a importância do tratamento. "Essa doação chegou ao fim e as famílias estão desesperadas. Conseguimos um retorno muito positivo para essas pessoas. Temos o caso de um paciente que, por dez anos, ficava enclausurado em casa, a família já tentou todo tipo de medicamento para melhorar a condição clínica e de agressividade dele. Depois de dez anos, com o canabidiol, ele conseguiu socializar, sair de casa, frequentar lugares movimentados, o que antes era impossível", exemplifica Tanure.