Iniciativa
Pela preservação da memória sacra
Catedral Metropolitana de São Francisco de Paula tenta aprovação de projeto para criação de um memorial; acervo tem mais de dois séculos
Jerônimo Gonzalez -
Dia após dia a poeira deteriora um pouco mais o acervo de mais de dois séculos da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula. Um projeto visa à criação de memorial com imagens sacras, sinos, castiçais, vestes de padres e documentação, entre outros itens que fazem parte da história de Pelotas. Entretanto, é preciso dinheiro.
A ideia surgiu há dois anos como um desejo do pároco, padre Luiz Amarildo. O museólogo Everton Lautenschlager, funcionário da instituição, explica que o objetivo é o memorial se espalhar pela torre do local e funcionar através de visitas guiadas por todo o acervo. A iniciativa pretende, ainda, a extensão do projeto para a praça José Bonifácio. No total, a obra foi orçada em R$ 350 mil, podendo chegar a R$ 400 mil.
Para chegar ao montante, a equipe da Catedral tem focado esforços na aprovação, via Lei de Incentivo à Cultura (LIC), de incentivos fiscais para empresas que doarem verbas às intervenções. Em novembro o grupo tentou a aprovação, mas a necessidade de alterações impediu que toda a documentação fosse entregue em prazo hábil. Regularizado, o projeto será novamente enviado entre maio e junho.
De acordo com Lautenschlager, a construção é fundamental pois “significa preservar a memória de Pelotas”. Ele se refere, por exemplo, a um conjunto de medalhões que conta a via-sacra de São Francisco de Paula, padroeiro da cidade. De 11 peças que o compõem, apenas uma se encontra intacta.
O item que mais chama a atenção, entretanto, é uma imagem de Nossa Senhora da Cabeça. Conte-se a história: ao soldado espanhol Juan Rivas aconteceu de perder um braço em batalha. Num dia estava ele rezando no Morro da Cabeça, na Andaluzia, Sul da Espanha, quando surgiu a imagem de Nossa Senhora, ordenando que o soldado fosse até a cidade de Andujar anunciar a visão. Chegando lá, sem convencer o público, Juan pediu à santa um sinal, ao que o braço amputado foi refeito.
Séculos depois, ocorreu ao coronel Rosauro Zambrano, fundador do Theatro Guarany, uma grave doença. Devoto, prometeu fazer doação à Catedral caso sobrevivesse. Saúde restabelecida, cumpriu a palavra: encontra-se até hoje no acervo uma imagem de Nossa Senhora da Cabeça. O detalhe: aos pés da santa, respeitando antigo ritual, há réplica da cabeça do coronel.
Ainda com o intuito de manter viva a memória, a Catedral Metropolitana de São Francisco de Paula realiza duas exposições todos os anos: durante a Semana do Patrimônio e em meio à Fenadoce. No ano passado, 1.600 pessoas visitaram o acervo em 15 dias. Também com esse objetivo, a sala do Batistério, antes obsoleta, agora funciona também como sala para mostras - é possível visitá-la a qualquer hora do funcionamento do prédio.
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